Título: Crise afeta ganhos das seguradoras
Autor: Júnior , Altamiro Silva
Fonte: Valor Econômico, 11/11/2008, Finanças, p. C5

A crise já afeta os resultados financeiros das seguradoras. As maiores companhias do país tiveram perdas com as aplicações de seus reservas, principalmente por conta da marcação a mercado nos preços de títulos do governo que seguem índices de inflação. Na Bradesco Seguros e Previdência, houve perdas também com aplicações na bolsa. Ontem, a Porto Seguro anunciou queda de 14% na receita financeira neste ano até setembro. Na SulAmérica, não houve queda em valores absolutos, mas a rentabilidade dos investimentos caiu de 100% do Certificado de Depósito Interfinanceiro (CDI) no ano passado para 74%. Leo Pinheiro / Valor

Arthur Farme d'Amoed, da Sul América: "Seguros para autos se recuperam"

Segundo os executivos, este é o único impacto da maior crise financeira em décadas nas seguradoras. As vendas continuam em alta neste momento. A SulAmérica anunciou ontem à noite que sua receita com os prêmios de seguros totalizou R$ 2 bilhões no terceiro trimestre, aumento de 19% em relação a igual período de 2007 e 9% maior comparado ao trimestre anterior.

A SulAmérica divulgou lucro líquido nos primeiros nove meses do ano maior que o de todo o ano passado. O ganho recorrente foi de R$ 121,1 milhões no trimestre, alta de 85% frente ao ganho do mesmo período de 2007. No acumulado do ano, o lucro foi de R$ 327,9 milhões, superando os R$ 321 milhões de 2007.

As principais carteiras da seguradora tiveram aumento nas vendas. O seguro saúde (53% da carteira total da SulAmérica) cresceu 11% no trimestre, com destaque nas apólices para pequenas e médias empresas, com aumento de 21%. O seguro para automóveis (30% da carteira) também teve recuperação, com expansão de 30% no trimestre.

Para Arthur Farme d'Amoed Neto, diretor de relações com investidores da seguradora, a maior competição e a guerra de preços em 2007 acabou reduzindo os prêmios das apólices de automóveis, que agora se recuperam. A competição nos preços teve impacto no índice combinado (que mostra a eficiência operacional), que subiu de 96,8% no terceiro trimestre de 2007 para 99,2% agora.

Na Porto, as vendas também subiram. Sempre considerando números do terceiro trimestre, os prêmios auferidos cresceram 21%, para R$ 1,3 bilhão. No caso dos automóveis, principal produto da seguradora, com 60% da carteira, o aumento foi de 16%. Considerando apenas as operações da Azul Seguros, seguradora da Porto com preços mais populares, a expansão dos prêmios foi de 82%. A Azul, porém, tem maior sinistralidade, de 68,5% no trimestre, frente a 47,6% da Porto, ambos dentro das metas estabelecidas para 2008.

A seguradora, porém, teve forte queda no lucro. No trimestre, caiu 42%, para R$ 75 milhões. No acumulado do ano, baixou 40% e ficou em R$ 211 milhões. A rentabilidade patrimonial no trimestre baixou de 31,7% para 15,4%.

Segundo José Tadeu Mota, diretor de RI, da Porto, quatro fatores explicam a queda nos lucros. O primeiro são as fortes chuvas e as enchentes em São Paulo no início do ano, que aumentaram os sinistros e ainda têm reflexo nos ganhos. O segundo ponto foi uma sinistralidade maior que o previsto na carteira de seguro saúde para empresas; o terceiro fator foi uma receita financeira menor por conta da queda nas aplicações financeiras. Tadeu também cita uma maior despesa de comercialização para a venda de seguros de autos junto a corretores com outro ponto a influenciar os números.

Na Bradesco Seguros, por conta de investimentos em ações, a receita financeira caiu 11%. As perdas no mercado acionário com aplicações das reservas foram de R$ 185 milhões. Cerca de 5% dos recursos da maior seguradora do país estão aplicados na bolsa. Na Porto e na SulAmérica, a renda variável responde por apenas 2%.