Título: Setor de intermediários teme esgotar capacidade
Autor: Denise Neumann e Vera Saavedra Durão
Fonte: Valor Econômico, 24/02/2005, Brasil, p. A10
A indústria brasileira sente-se preparada para atender a um crescimento da demanda por produtos industriais em 2005, mesmo que ela se mantenha no ritmo atual. Essa foi a resposta de 91% das empresas ouvidas pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) na Sondagem Conjuntural, que apurou as intenções de investimento do setor. Apenas 9% de um total de 335 empresas admitiram a possibilidade de esgotar ainda este ano sua capacidade instalada. Essa aparente tranqüilidade é perturbada quando se olham os dados da pesquisa por segmento industrial: 43% das empresas de bens intermediários (setor fundamental para o abastecimento do ramo de bens de consumo) admitem a possibilidade de atingir o limite de produção nos próximos dois anos. E deste universo, um terço vai esgotar seu potencial até junho e outro terço até o fim do ano. Esse retrato aparece em perguntas especiais feitas pela FGV às empresas que responderam normalmente à sondagem, entre final de dezembro e início de fevereiro. Para este ano, os empresários prevêem um acréscimo médio da capacidade instalada de 8%, o mesmo percentual registrado no ano passado, segundo respostas de 599 empresas. As previsões mais otimistas quanto à realização de investimentos ocorreram nos segmentos de material elétrico e de comunicações (17%), vestuário e calçado (12%), mobiliário (10%) e produtos alimentares (10%). Segundo a FGV, as previsões mais favoráveis nesse setores podem ser atribuídas à recuperação do mercado interno. Para bens intermediários - setor mais ameaçado pelo limite da capacidade produtiva - a taxa média esperada para o incremento da produção é de 7% este ano, ante 6% no ano passado. Quando se trata da perspectiva de ampliação da capacidade para os próximos três anos, em média, as empresas pretendem expandi-la em 19%, contra uma taxa de 17% em 2004. "São níveis muito fortes se comparáveis ao do início do Plano Real e aos anos de 1986 e 1987, após Plano Cruzado", disse o economista Aloísio Campello Jr., coordenador do núcleo de pesquisas e análises do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da FGV. Ele reconheceu que a situação dos bens intermediários é delicada e não descartou que poderá haver problemas de oferta neste segmento, revelando que as dificuldades estão concentradas nas empresas do setor metalúrgico, do ramo de ferro e aço. Segundo Campello, mais da metade das empresas do setor metalúrgico (55%) vislumbram a possibilidade de esgotamento da sua capacidade instalada. Deste percentual, 65% acreditam que isto pode acontecer ainda este ano. "Mas, isto não provocaria um gargalo na economia, porque tem saída na importação", tranqüiliza o economista. As empresas dizem na sondagem de investimento que a carga tributária e o juro são os principais fatores de limitação do crescimento econômico. "A carga tributária é campeã disparada, concentrando 58% das respostas das empresas". Campelo destacou ainda que houve uma expansão das sinalizações da infra-estrutura deficiente. "No ano passado, era 4% e passou para 10% entre as afirmações das empresas, como fator impeditivo principal ao crescimento".