Título: Rússia deixa o rublo se desvalorizar
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Fonte: Valor Econômico, 12/11/2008, Finanças, p. C2
O banco central da Rússia ampliou a banda de flutuação do rublo, ontem, depois de autoridades terem indicado que governo abandonará a política de forte defesa da moeda.
A cotação do rublo em relação a uma cesta formada pelo euro e dólar chegou a desvalorizar-se 1% para 30,79 rublos, atravessando a marca de 30,41 rublos, que o banco central vinha defendendo nos últimos meses.
O rublo, que é controlado de perto pelas autoridades russas em relação a uma cesta com peso de 55% para o dólar e 45% para o euro, desvalorizou-se para o pior nível desde fevereiro de 2007, quando o atual sistema cambial foi criado. É a pior crise financeira enfrentada pelo país desde a desvalorização cambial de 1998.
Em outra medida, o banco central russo aumentou a taxa básica de redesconto de 11% para 12%, enquanto a China, Europa, Estados Unidos e Índia reduzem os juros, em uma tentativa de conter a fuga de capital, de acordo com comunicado divulgado depois do fechamento do mercado de ações.
O índice de ações Micex despencou 13%; e a bolsa não vai abrir hoje, disse a porta-voz Anna Cheryomushkina. As ações russas já caíram 65% neste ano, mais do que os 42% de desvalorização registrados pelo índice MSCI World Index de bolsas de países desenvolvidos.
A mudança na política cambial foi indicada pelo presidente do banco central russo, Sergei Ignatyev, que, na segunda-feira, disse não descartar mais flexibilidade na taxa de câmbio e que era possível haver certa fraqueza nu rublo.
A pressão para que as autoridades russas permitam a desvalorização do rublo aumenta à. medida que os esforços para manter seu valor ante o êxodo de capital da região consomem as reservas internacionais do país. A política consumiu US$ 100 bilhões das reservas até agora.
A saída de dinheiro foi desencadeada pelo desmoronamento dos mercados acionários locais e pela queda dos preços do petróleo. A reserva russa, terceira maior do mundo, caiu para menos de US$ 500 bilhões.
Ulrich Leuchtmann, do Commerzbank, afirmou que os declínios da cotação do petróleo, dos mercados acionários e das reservas internacionais aumentaram os receios sobre uma possível quebra do rublo.
¿Ainda pode esperar-se que as autoridades da Rússia evitem o colapso do rublo¿, afirmou Leuchtmann. ¿Uma depreciação gradual poderia ser uma concessão razoável¿.
As reservas, de qualquer forma, ainda são altas e o Banco da Rússia provavelmente evitará esse cenário, observou. Desde o início de agosto, a Rússia gastou 19% de suas reservas para deter a queda de 17% do rublo. As agências de avaliação de risco alertaram para a possível redução do rating.
A turbulência financeira forçou os maiores produtores de petróleo e aço do país a pedir alívio de impostos, e a indústria da defesa não conseguia atender encomendas do governo.