Título: Fazenda ignora promessa de líder sobre BC autônomo
Autor: Claudia Safatle e Cristiano Romero
Fonte: Valor Econômico, 24/02/2005, Política, p. A14
O ministro da Fazenda, Antonio Palocci, não está preocupado com o fato de a bancada do PT ter fechado posição, na noite de terça-feira, contra o envio, pelo governo, da proposta de autonomia operacional do Banco Central. A estratégia de Palocci é obter apoio ao projeto no núcleo decisório do governo e, depois, construir politicamente a aprovação da medida no PT e nos outros partidos da base aliada. A posição contra a autonomia do BC foi exigida pela ala esquerdista do partido na eleição do novo líder do PT na Câmara, deputado Paulo Rocha (PA). Na reunião, Rocha assumiu o compromisso de se posicionar contra a autonomia do BC. "Assumi esses compromissos. Não é oportuno para nós do PT mandar para cá a reforma trabalhista e a autonomia do BC. A bancada tem dificuldade de enfrentar esses temas neste momento", afirmou Rocha. No Palácio do Planalto, um ministro próximo ao presidente Lula disse que o compromisso assumido por Paulo Rocha não tem nenhuma importância. Mesmo na bancada do PT, há divisões sobre o assunto. Após a tumultuada reunião de terça-feira, quando Rocha foi escolhido o novo líder, o deputado Paulo Bernardo (PT-PR), reagiu contra o suposto compromisso da bancada em relação à autonomia do BC. "Nós não assumimos nada", advertiu. O governo sabe que a autonomia do BC é uma idéia que, primeiro, precisa obter consenso dos ministros que integram o núcleo decisório, o que está já em estágio bastante avançado. Na semana passada, chegou-se ao consenso quanto à importância da medida, após exposição feita sobre o tema pelo secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Marcos Lisboa, na reunião da Câmara de Política Econômica. Na ocasião, o ministro da Casa Civil, José Dirceu, chegou a lamentar um lapso do governo: na mensagem presidencial enviada ao Congresso, não há menção ao projeto de autonomia. De qualquer forma, caberá ao presidente Lula decidir o momento do envio da proposta ao Congresso. O fato é que a área econômica entende que, com a aprovação da autonomia operacional do BC, a instituição ganhará muito em credibilidade e, conseqüentemente, reduzirá a intensidade de aumentos da taxa de juros para manter a inflação dentro das metas. Se aprovada ainda este ano, a medida pavimentaria um processo sucessório com menos custos do que aquele que prevaleceu na eleição de Lula em 2002.