Título: WTorre vai construir estaleiro em Rio Grande
Autor: Bueno , Sérgio
Fonte: Valor Econômico, 13/11/2008, Empresas, p. B6

A WTorre espera concluir em dois a três meses, no máximo, uma associação com um estaleiro asiático que já atua no país. O objetivo é ingressar no segmento de construção de navios e também para tocar uma nova etapa de investimentos em Rio Grande (RS), onde constrói um dique seco destinado à montagem e reparos de plataformas e embarcações para produção de petróleo. A operação incluirá a fusão entre a subsidiária WTorre Óleo e Gás e o sócio asiático, que entrará no negócio com recursos financeiros e os ativos que mantém no Brasil, disse ontem o presidente da empresa, Walter Torre Jr. Julio Bittencourt/ Valor

Walter Torre, presidente da construtora, planeja montar um estaleiro ao lado do dique seco que está sendo construído na cidade gaúcha

O nome do futuro sócio não é revelado, mas o empresário afirmou que a fusão permitirá à WTorre competir "globalmente" no setor de construção naval. "Estamos trazendo um parceiro não só tecnológico mas financeiro também", disse. Segundo ele, o provável sócio é "maior" do que o coreano Jurong, com quem a empresa esteve prestes a fechar um acordo semelhante há um ano e meio, mas o negócio emperrou devido a desequilíbrios no contrato provocado pela desvalorização do dólar à época.

Torre explicou que a idéia é criar uma estrutura que não dependa só das encomendas da Petrobras, que vai arrendar o dique seco (o Estaleiro Rio Grande 1) por dez anos para abrigar os vencedores de suas licitações para a construção de plataformas petrolíferas. "A Petrobras tem uma demanda fantástica, mas também tem um ciclo, uma necessidade momentânea de determinado produto. À medida que começarmos a produzir para todas as petroleiras do mundo e para atender a demanda naval global podemos dizer que temos de fato um pólo naval brasileiro."

Juntos os parceiros pretendem implantar o Estaleiro Rio Grande 2 (ERG2) destinado à construção de embarcações de apoio a plataformas marítimas de produção de petróleo e navios para transporte de minérios. Um dos principais clientes na mira da WTorre é a Companhia Vale do Rio Doce, que hoje compra seus navios no exterior. A unidade fará ainda cascos e módulos para atender à demanda do Estaleiro Rio Grande 1 (ou ERG1), que deverá ficar pronto em novembro de 2009.

A nova empresa formada pela WTorre e o estaleiro coreano também vai disputar as concorrências da própria Petrobras, explicou Torre Jr. "A infra-estrutura imobiliária (do ERG1) estará pronta e será usada pelas grandes companhias da construção naval, segmento no qual não somos especializados", comentou. De acordo com ele, a associação começou a ser negociada antes da crise financeira global, mas agora ela poderá ajudar na captação de créditos internacionais para tocar as operações.

O empresário não revelou qual será a participação dos sócios, mas disse que a WTorre "provavelmente" ficará com o controle da nova empresa. O Estaleiro Rio Grande 1, que hoje faz parte dos ativos da subsidiária WTorre Empreendimentos, será cindido e incorporado à nova operação.

Conforme Torre, o ERG2 ficará ao lado do ERG1 e faz parte de um projeto de R$ 500 milhões, que inclui ainda a construção de um condomínio industrial para receber os fornecedores dos consórcios que construirão as plataformas da Petrobras, principalmente nas áreas de tecnologia de controles, medição e refino. Denominado ERG3, o condomínio ficará numa área submetida à lei das Zonas de Processamento de Exportações e será controlado integralmente pela WTorre.

O Estaleiro Rio Grande 2 não terá um dique seco, mas poderá sublocar o da instalação vizinha e poderá processar mais de 4 mil toneladas de aço por mês, ante 1,8 mil no ERG1. O volume total, de cerca de 6 mil toneladas mensais, será suficiente para suprir localmente a construção de duas plataformas ao mesmo tempo, disse o empresário. "Isso representa algo entre 70 mil e 75 mil toneladas por ano, o que coloca (as duas estruturas em conjunto) como um dos grandes estaleiros do mundo, que processam 110 mil a 120 mil toneladas por ano".

As duas novas fases do pólo naval de Rio Grande deverão ficar prontas em dois anos, explicou Torre Jr. Já o Estaleiro Rio Grande 1, que começou a ser construído há pouco mais de um ano, deveria ser concluído neste mês, conforme o plano original, mas o prazo foi estendido para novembro de 2009, depois que a Petrobras decidiu ampliar o projeto para adequá-lo à construção de embarcações de maior porte. Mesmo assim, as oficinas já deverão entrar em operação no início de 2009 para começar os trabalhos de montagem de partes da plataforma P-55, disse o empresário. O orçamento inicial do ERG1 era de R$ 460 milhões, mas com a expansão poderá chegar a R$ 900 milhões.