Título: Queda do petróleo pode prejudicar resultados futuros da Petrobras
Autor: Schüffner , Cláudia
Fonte: Valor Econômico, 13/11/2008, EU& Investimento, p. D3

A queda no preço do petróleo no mercado internacional nos últimos meses poderá refletir negativamente nos números da Petrobras nos próximos trimestre, dizem analistas que acompanham a empresa. Os reajustes de 10% e 15% em maio nos preços da gasolina e do diesel, respectivamente, ajudaram a elevar o lucro da estatal no terceiro trimestre, mas com a queda do petróleo teriam de ser novamente reajustados, dessa vez para baixo. Antes disso, o último reajuste do diesel tinha sido em 2005.

O economista Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura, calcula que a gasolina vendida no Brasil está 50% mais cara, enquanto no diesel a diferença está em 10%. E isso, diz Pires, ajudado pela valorização do real, que diminui a diferença de preços entre o mercado interno e o mercado externo.

A dúvida é saber se o governo, sem as preocupações com inflação, poderá postergar uma redução desses preços por vários trimestres para ajudar a engordar o caixa da companhia. O preço do petróleo, que chegou ao pico de US$ 147 por barril em julho, fechou cotado a cerca de US$ 55 o barril ontem. O Credit Suisse acha que assumir a possibilidade de ajuda do governo para reforçar o caixa da estatal pode ser otimismo. Se o petróleo continuar a cair, será difícil segurar os preços no mercado, avalia Emerson Leite, analista do Credit. Ele lembra ainda que, mesmo com o resultado recorde do trimestre - obtido quando a média do preço do barril estava em US$ 115, contra a média de US$ 60 nas últimas semanas -, a Petrobras teve fluxo de caixa negativo ajustado de R$ 1,1 bilhão. Mônica Araújo, da Ativa, avalia que a redução dos preços internos de venda de alguns derivados mais alinhados ao mercado internacional (como querosene de aviação e diesel) já vai afetar negativamente a receita do quarto trimestre e além.

O diretor financeiro da Petrobras, Almir Barbassa, lembrou que a estatal trabalha com a perspectiva de longo prazo para o preço do petróleo e evitou fazer previsões sobre o preço do barril a curto prazo. No balanço geral, a receita em reais da estatal depois do reajuste de maio permaneceu estável no trimestre, devido a variação cambial.

Com tais desafios para enfrentar, os analistas se perguntam como a Petrobras vai fechar o orçamento de investimentos para 2009, considerando as despesas gigantescas com as quais terá que arcar para desenvolver a produção de petróleo nos campos do pré-sal. Em relatório, Emerson Leite pondera que o plano estratégico da companhia, que será anunciado em dezembro, deve trazer uma redução nos investimentos maiores que o mercado desejaria em função do balanço entre receitas e despesas, cuja diferença terá que ser captada no mercado financeiro. Ele calcula que a Petrobras terá que captar US$ 5 bilhões para o pré-sal se o petróleo estiver a US$ 70 e US$ 10 bilhões se o barril estiver a US$ 60. Isso em um cenário de queda da produção nos próximos cinco anos, de 100 a 150 mil barris/dia.

Até o início do próximo ano, a Petrobras pretende aumentar a produção e elevar a receita. O objetivo é colocar em operação três novas plataformas - P-51, P-53 e Cidade de Niterói - , que vão elevar a capacidade de produção da empresa em 430 mil barris/dia. Essas plataformas já deveriam estar em operação, mas houve atraso na entrega.

A Petrobras registrou aumento de gastos com importação de petróleo, derivados e gás natural, que totalizaram R$ 10,4 bilhões entre janeiro e setembro e R$ 1,6 bilhão no último trimestre. Também registrou prejuízo trimestral de R$ 2,0 bilhões na área de abastecimento devido à produção de derivados usando petróleo comprado a preços superiores aos de venda e paradas programadas das refinarias, entre outros fatores. As despesas operacionais cresceram 23,2%.

A área de gás e energia, que veio com resultado positivo no segundo trimestre, voltou ao prejuízo (R$ 98 milhões) devido à queda das margens de venda de energia, aumento de custos de aquisição do gás e elevação das despesas operacionais, acrescidas de multas e encargos contratuais causados pelo não fornecimento de gás. Somente no item termelétricas, a despesa operacional somava R$ 443 milhões entre janeiro e setembro, acima dos R$ 394 milhões de igual trimestre do ano passado. (Colaborou André Vieira, de São Paulo)