Título: Nova regra é distribuição setorizada
Autor: João Luiz Rosa
Fonte: Valor Econômico, 24/02/2005, Empresas &, p. B3

O aumento do número de títulos de quadrinhos associado à redução das vendas por título transformou as bancas de jornal numa praça de guerra para as editoras e levou-as a reformular uma área essencial para os negócios: a distribuição. Antes, a regra era simples. "Distribuía-se as revistas por todas as bancas ao mesmo tempo", diz Arlete Alonso, da editora Globo. São 38 mil bancas no país. Em geral, 50% das revistas encalhavam. Para acabar com isso, muitas editoras partiram para a setorização. No caso da Panini, os produtos mais sofisticados vão primeiro para as bancas de São Paulo e do Rio. Depois, seguem para os demais estados. A vantagem é obter maior rentabilidade sem aumentar os gastos. Para uma revista com circulação de 50 mil unidades, exemplifica Hélcio de Carvalho, diretor editorial da Panini, pelo sistema antigo são enviadas 20 mil revistas para São Paulo e 15 mil para o Rio. Para os outros estados sobram 15 mil. Com a setorização, são 30 mil para São Paulo e 20 mil para o Rio. Os 25 mil que voltarem são encaminhados para as demais praças, retirando-se de circulação as revistas extraviadas, que representam 0,01% do total. "Ao final, cada praça recebe mais revistas, com a mesma tiragem", explica Carvalho. Na Globo, a setorização foi implantada por Lucia Machado, diretora da unidade de negócios infantis. Primeiro, as revistas chegam às principais bancas das praças maiores. A partir daí, a distribuição se estende para os outros pontos. Depois, a editora faz um processo de reciclagem, juntando o remanescente em pacotes com preços especiais. O que dificulta a distribuição no Brasil é a ausência de lojas especializadas, que ajudam a projetar as vendas e ajustar o volume de produção. "Nos EUA, existem mais de 3 mil lojas especializadas", diz Carvalho, da Panini. Com o apoio desse varejo, o encalhe costuma ficar em 10%, diz. No Brasil, este caminho começa a ser desbravado. Os sócios da editora Devir decidiram juntar-se a outros empreendedores e criar a Terra Média, rede que já reúne sete pontos-de-venda, entre lojas próprias e quiosques. A Terra Média não vende apenas os títulos da Devir, mas as lojas são um lugar apropriado para o catálogo da Devir, que reúne obras reconhecidas como Avenida Dropsie, de Will Eisner, e Sin City, de Frank Miller. "Existem no Brasil de 30 a 40 lojas especializadas, o que mal chega a 1% do que existe nos EUA", diz Douglas Quinta Reis, diretor editorial da Devir. A empresa quer reduzir a diferença. "O plano é abrir mais pontos este ano", diz Reis. (JR)