Título: GM do Brasil vai falar de crise nos EUA
Autor: Olmos , Marli
Fonte: Valor Econômico, 14/11/2008, Empresas, p. B8

Diante das notícias de que a matriz pode ir à falência, a filial da General Motors do Brasil decidiu convocar a imprensa na próxima semana. A empresa busca formas de acalmar o mercado, que já começa a questionar o que aconteceria com a subsidiária brasileira caso não reste à montadora americana alternativa a não ser fechar as portas.

Enquanto nos Estados Unidos a direção da GM reforça o lobby dos fabricantes de veículos americanos para que o novo governo libere ajuda financeira capaz de salvar as finanças das companhias, no Brasil a direção da empresa garante que mantém as obras de construção de uma fábrica de motores em Joinville (SC). O vice-presidente da GM do Brasil, José Carlos Pinheiro Neto, esteve recentemente na prefeitura da cidade para reiterar o compromisso de investir em torno de R$ 350 milhões no terreno de 500 mil metros quadrados.

Mas já há apreensão na fábrica de carros de São José dos Campos, no interior de São Paulo. Em junho, a GM se comprometeu a investir US$ 500 milhões para produzir ali um novo carro a ser lançado em 2010.

O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, Adilson dos Santos, afirma que os trabalhadores daquela fábrica, que estão, em parte, em férias coletivas em razão da queda na produção de automóveis, demonstram preocupação porque até agora não foi dado nenhum sinal do projeto do novo automóvel.

O sindicato de São José mantém as esperanças de abertura de novos empregos na GM por conta do projeto do novo automóvel. Mas a mesma unidade é em boa parte responsável pelas exportações de uma linha importante, a do Corsa, em queda agora por conta dos efeitos da crise nos países vizinhos.

Devido a retração da sua própria atividade, a partir do próximo ano ficará também mais difícil para a subsidiária brasileira ajudar financeiramente a matriz. Mas o saldo deste ano mostra que a filial brasileira deu uma contribuição significativa em volume de remessas de lucros e dividendos.

A região que engloba a América do Sul reportou à matriz um lucro de US$ 514 milhões no terceiro trimestre, uma melhora de US$ 140 milhões em relação ao mesmo período do ano passado, uma época em que o vice-presidente mundial de finanças da GM, Frederick Henderson, disse que essa mesma região era até então a mais rentável na companhia.

Há uma semana, a GM anunciou um prejuízo de US$ 2,5 bilhões durante o terceiro trimestre do ano. A empresa tinha ontem um patrimônio líquido negativo de US$ 59,93 bilhões - o pior rombo entre as empresas nos Estados Unidos - e um valor de mercado de US$ 1,88 bilhão. A sua ex-coligada, a Delphi, fabricante de autopeças, está com um valor de mercado de US$ 22 milhões e um patrimônio líquido negativo em US$ 9,29 bilhões.

No Brasil, a General Motors está no meio de um período de diversas paralisações de produção nas cinco fábricas, envolvendo mais de 12 mil funcionários em férias coletivas. A empresa apontou a queda nas exportações e ajuste à demanda no mercado doméstico para justificar a medida, seguida por outras montadoras.

Na expectativa de tirar proveito da irrigação no crédito, vinda dos bancos estatais, a montadora fará mais um feirão de fábrica amanhã e domingo. Esta será a sexta vez neste ano que a GM fará um feirão dentro da principal fábrica, em São Caetano do Sul (SP). (Colaborou Nelson Niero)