Título: Fundo pleiteia reservas de emergentes
Autor: Balthazar , Ricardo
Fonte: Valor Econômico, 14/11/2008, Finanças, p. C3

A China, a Arábia Saudita e outros países que acumularam grande volume de reservas nos últimos anos estão sendo pressionados a usar parte desses recursos para reforçar os cofres do Fundo Monetário Internacional (FMI) e aumentar a capacidade que a instituição tem de socorrer países emergentes prejudicados pela atual crise financeira. Marisa Cauduro / Valor

Dominique Strauss-Kahn: China pode ganhar influência com contribuição

A idéia tem a simpatia de alguns dos sócios mais poderosos do Fundo, como o Japão e o Reino Unido, mas é vista com ceticismo por outros países.

O assunto deverá ser discutido neste fim de semana pelos líderes mundiais que se reunirão em Washington para debater a crise e a necessidade de reformas no sistema financeiro internacional.

O primeiro-ministro do Japão, Taro Aso, anunciará que está disposto a emprestar o equivalente a US$ 100 bilhões para o Fundo. Um funcionário do Ministério das Relações Exteriores do Japão disse ontem à agência de notícias Reuters que Aso usará o anúncio para tentar persuadir países emergentes com um nível confortável de reservas a também contribuir com a instituição. As reservas internacionais do Japão somam quase US$ 1 trilhão hoje.

Participarão do encontro deste fim de semana os chefes de Estado e os ministros das finanças dos países que integram o G-20, fórum internacional do qual participam as economias mais avançadas do mundo e alguns países emergentes, entre eles o Brasil. Os líderes terão um jantar na Casa Branca hoje à noite e uma reunião na manhã de sábado.

O Fundo tem cerca de US$ 160 bilhões para emprestar hoje, descontados os US$ 34 bilhões que foram comprometidos nas últimas semanas com pacotes de socorro a três países, Hungria, Islândia e Ucrânia.

Dirigentes do FMI acreditam que suas reservas poderão se esgotar muito rapidamente se países maiores precisarem de ajuda da instituição.

Mecanismos especiais em vigor atualmente permitem que o Fundo tome recursos emprestados dos países mais avançados se precisar reforçar seu capital numa situação de emergência. Mas há limites para o uso desses mecanismos e hoje eles seriam suficientes para levantar no máximo cerca de US$ 50 bilhões.

O esforço para convencer a China, os produtores de petróleo e outros países emergentes a usar suas reservas para aumentar o capital do FMI poderá gerar controvérsia nas reuniões deste fim de semana, porque dificilmente esses países aceitarão contribuir com o Fundo sem mudanças na forma como o poder é distribuído na instituição.

Países avançados como os Estados Unidos, o Japão e o Reino Unido controlam 60% do poder de voto no FMI atualmente. Reformas aprovadas no início deste ano mas ainda não implementadas transferem uma pequena fatia dos votos desses países, equivalente a 2,7% do total, para países emergentes como a China, a Coréia do Sul e o Brasil.

Numa entrevista concedida nesta semana a uma revista chinesa, o diretor-gerente do FMI, Dominique Strauss-Kahn, disse que a China pode ganhar influência na organização mesmo se sua contribuição não for recompensada com um aumento em seu poder de voto.

"Se a China for parte de um novo acordo para providenciar recursos para o Fundo, é claro que a força da sua voz vai aumentar", afirmou Strauss-Kahn.

Mas não há consenso entre os países avançados sobre a necessidade de aumentar o capital do FMI agora. "Não está claro que as necessidades [dos países emergentes] neste momento excedam a disponibilidade de crédito que o FMI tem", disse na quarta-feira o subsecretário do Tesouro dos EUA para assuntos internacionais, David McCormick.

A China tem atualmente quase US$ 2 trilhões em reservas. O acúmulo de divisas ajuda os chineses a manter sua moeda desvalorizada em relação ao dólar, tornando suas indústrias mais competitivas no mercado internacional. No último domingo, a China anunciou um pacote de US$ 586 bilhões em investimentos públicos para evitar uma desaceleração muito acentuada da sua economia no próximo ano.