Título: No Rio, quatro prêmios Nobel discutem crise e pobreza
Autor: Lamucci , Sergio
Fonte: Valor Econômico, 17/11/2008, Brasil, p. A5
No meio da mais grave crise financeira desde 1929, o Rio de Janeiro recebe nesta semana o Encontro Latino-Americano da Sociedade Econométrica (Lames, na sigla em inglês) e da Associação de Economia da América Latina e do Caribe (Lacea). O evento conjunto terá cerca de 700 palestrantes, entre eles quatro vencedores do prêmio Nobel - Roger Myerson, Eric Maskin, Michael Spence e Daniel McFadden. Além de discussões sobre a conjuntura econômica global, haverá debates com economistas de peso sobre temas como pobreza, criminalidade, educação, economia comportamental e teoria econométrica. Leo Pinheiro / Valor Aloisio Araujo, da FGV: para o Brasil é importante sediar um encontro com essa diversidade de enfoque
Coordenador-geral do evento, o economista Aloísio Araújo, da Escola de Pós-Graduação em Economia (EPGE) da Fundação Getúlio Vargas (FGV), diz que a crise acabou ganhando espaço mais importante no evento. O painel de encerramento, por exemplo, se chama "A atual crise: o que aprendemos até agora?", que deverá contar com Charles Calomiris, da Universidade de Columbia (EUA), Jean-Charles Rochet, da Universidade de Toulouse (França), e Christopher Sims, da Universidade de Princeton (EUA). Outra mesa-redonda tratará da "Crise financeira e os seus mecanismos de transmissão para a América Latina", com a presença do ex-economista-chefe do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) Guillermo Calvo, que também é professor da Universidade de Columbia.
Araújo ressalta, porém, que o evento não vai se resumir a uma discussão sobre causas e conseqüências da crise financeira internacional. "O evento é amplo e haverá debate de diversas questões econômicas em profundidade", diz ele, que também é professor do Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (Impa). Araújo conta que grandes especialistas na questão da pobreza estarão no evento, como o ex-economista-chefe do Banco Mundial François Bourguignon, diretor da Escola de Economia de Paris, e o brasileiro Ricardo Paes de Barros, que faz parte do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Também virá ao Rio o economista Abhijit Banerjee, do Massachusetts Institute of Technology (MIT), que pediu a Araújo para conhecer uma favela carioca. A conferência também trará economistas que estudam assuntos na fronteira do conhecimento econômico, como Matthew Rabin, professor da Universidade da Califórnia, em Berkeley, uma das estrelas da área de economia comportamental. Rabin recebeu, em 2001, a John Bates Clark Medal, prêmio concedido a cada dois anos pela American Economic Association a economistas com menos de 40 anos que tenham dado contribuições relevantes para o pensamento econômico.
O encontro também contará com dois dos principais especialistas na teoria do desenho de mecanismos - Roger Myerson, da Universidade de Chicago, e Eric Maskin, da Universidade de Princeton, que ganharam o Nobel em 2007 com Leonid Hurwicz por seus estudos sobre o assunto. Apesar do nome um tanto enigmático, é uma área da economia com aplicações práticas importantes, como a ajuda na criação de modalidades mais eficientes de leilão e de regulação e na análise e definição de regras para sistemas eleitorais.
Professor da Universidade de Stanford (EUA), Michael Spence é outro Nobel que vem ao Rio. Ele ganhou o prêmio em 2001 com Joseph Stiglitz, professor de Columbia, e com George Akerlof, da Universidade da Califórnia, por seus trabalhos sobre a análise de mercados com assimetria de informações.
O último dos ganhadores do Nobel que virá ao evento é o especialista em microeconometria Daniel McFadden, também da Universidade da Califórnia, laureado em 2000 junto com James Heckman. Para Araújo, a presença de economistas desse porte e que atuam em campos da fronteira do conhecimento são importantes para a discussão da economia no Brasil. "É um modo de os economistas acompanharem mais de perto e, na medida do possível, participarem e desfrutarem dos avanços da ciência econômica."
Araújo enfatiza ainda que a presença de vários integrantes de instituições multilaterais, como o economista-chefe do Banco Mundial, Justin Lin, e o economista-chefe do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Eduardo Lora. Lin vai participar de um painel sobre mercados emergentes e a economia global, que terá a presença do ex-presidente do Banco Central (BC) Arminio Fraga, sócio da Gávea Investimentos.
Para Araújo, classificar a conferência da Lames e da Lacea como um encontro de ortodoxos é reducionismo. "São economistas que usam métodos científicos para resolver problemas econômicos", diz ele. O encontro vai ocorrer de quinta-feira a domingo, na sede do Impa, no Jardim Botânico.