Título: Tucanos tentam retomar espaço na cúpula do Senado
Autor: Ulhôa , Raquel
Fonte: Valor Econômico, 17/11/2008, Política, p. A9

O PSDB quer aproveitar as negociações em torno da eleição do presidente do Senado Federal para o biênio 2009-2010, que será realizada em 2 de fevereiro do ano que vem, para tentar ampliar seu espaço na mesa diretora e nas comissões da Casa.

Os tucanos estão insatisfeitos porque, embora tenham bancada igual à do DEM (13 senadores) - seu aliado na oposição -, ocupam menos cargos e com poder decisório bem menor.

O PSDB reivindica a presidência da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), uma das três mais poderosas comissões do Senado, hoje ocupada pelo petista Aloizio Mercadante (SP). O PMDB, que tem a maior bancada (20), quer a CAE de volta, mas ela pode ser usada em troca do apoio do PSDB para José Sarney (PMDB-AP).

Os senadores do DEM defendem abertamente a candidatura de José Sarney, ainda não lançado formalmente, mas tucanos desconfiam que o apoio já traz embutido compromisso de manutenção do poder dos parlamentares do DEM na Casa.

O DEM preside duas das três mais importantes comissões: a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), com Marco Maciel (PE), e a Comissão de Relações Exteriores (CRE), com Heráclito Fortes (PI). E ocupa um dos cargos mais importantes da mesa diretora - com poder sobre contratos, obras e distribuição de gabinetes -, a 1ª secretaria, com Efraim Morais (PB).

O PSDB preside comissões que têm menos peso, a de Infra-Estrutura (CI), com Marconi Perillo (GO), e Desenvolvimento Regional e Turismo (CDR), com Lúcia Vânia (GO). Na Mesa, ocupa a 2ª vice-presidência, com Álvaro Dias (PR).

No arranjo para acomodar os partidos, pode haver choque de interesses com o DEM. Senadores do Democratas afirmam que o partido é mais "profissional" e tem mais "visão política" na negociação dos cargos. Setores do PSDB defendem que a legenda "jogue duro" nessa negociação.

O fato é que o petista Tião Viana (AC), primeiro vice-presidente da Casa e único candidato em campanha aberta, tem conquistado apoios no PSDB. Tucanos ligados ao governador de São Paulo, José Serra, um dos presidenciáveis do partido, admitem um outro dilema que envolve a escolha: ajudar a fortalecer o PT, maior adversário do PSDB em 2010, ou apoiar Sarney, que tem uma rixa pessoal com o governador paulista desde a operação Lunus da Polícia Federal, durante a campanha presidencial de 2002. Naquela ocasião, sua filha, a senadora Roseana Sarney (PMDB-MA), foi riscada da disputa quando uma operação da Polícia Federal apreendeu R$ 1,34 milhão, não declarado, na sede do escritório de seu marido, Jorge Murad. Foi José Serra quem, naquela disputa, foi ao segundo turno contra Luiz Inácio Lula da Silva.

Apesar da dúvida, a tendência do PSDB é aliar-se a Sarney. À oposição, interessa um racha entre PMDB e PT, para facilitar a adesão dos pemedebistas a uma candidatura da oposição em 2010.