Título: Oi revê estrutura de gestão para unificar operação com a BrT
Autor: Moreira , Talita
Fonte: Valor Econômico, 18/11/2008, Empresas, p. B3

Enquanto aguarda a autorização do governo para concluir a compra da Brasil Telecom (BrT), a Oi (ex-Telemar) já trabalha no plano de integração das operadoras de telefonia. Marisa Cauduro/Valor Luiz Eduardo Falco, presidente da Oi: planos de internacionalização dos negócios vão ganhar ênfase em 2010

A acomodação das estruturas das duas empresas deve consumir boa parte dos esforços da Oi no próximo ano. Uma reestruturação societária mais profunda e a internacionalização dos negócios são projetos que devem ganhar ênfase mais perto de 2010.

Mas para não descuidar do foco no mercado no momento em que aprende a conviver com seu próprio gigantismo, a companhia já prepara o desmembramento de algumas diretorias.

Uma das áreas em que isso vai acontecer é a financeira. No lugar da diretoria atual, da qual o executivo José Luís Salazar anunciou seu desligamento na semana passada, serão criadas duas novas.

Uma delas será mais estratégica - cuidará, por exemplo, da gestão de custos e do endividamento da Oi, que vai crescer bastante por causa da aquisição. O diretor escolhido é Alex Zornig, vice-presidente do Banco Safra e ex-executivo do BankBoston no Brasil.

A outra diretoria será responsável pela controladoria e por integrar a estrutura interna da BrT. O nome para esse cargo ainda não foi definido. "Essa é a parte que vai juntar as nossas máquinas com as da Brasil Telecom", afirmou ontem ao Valor o presidente da Oi, Luiz Eduardo Falco. "Vamos fazer essa mesma divisão em algumas outras áreas pesadas para facilitar a integração e fazer o que tem que ser feito o mais rapidamente possível", disse o executivo.

A diretoria de infra-estrutura, hoje a cargo de Paulo Gonçalves, será dividida nas áreas de engenharia e tecnologia da informação, de um lado, e de construção e operação de rede, de outro.

Da mesma forma, a gestão dos negócios da operadora terá dois segmentos: o de serviços integrados - todos aqueles que correspondem à atividade principal da companhia, tais como telefonia fixa, móvel e banda larga - e o de serviços não-integrados - TV por assinatura e pagamentos via celular, por exemplo. "Quando você tem um negócio novo, achamos que o melhor modelo é deixá-lo rodar sozinho até ele gerar receita suficiente", destacou Falco.

Apesar dos prazos cada vez mais apertados, o presidente da Oi reiterou acreditar que é possível obter as autorizações necessárias para fechar a compra da BrT até o dia 21 de dezembro, data-limite prevista no contrato firmado entre os acionistas das duas operadoras.

Faltam ainda dois passos importantes para que isso possa acontecer. O primeiro deles é a edição de um decreto presidencial que aprove mudanças no Plano Geral de Outorgas (PGO), de forma a permitir a consolidação entre concessionárias de telefonia fixa. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva está de volta ao Brasil, depois de uma viagem à Itália e aos Estados Unidos, e a expectativa de Falco é de que o documento seja editado nesta semana.

Quando isso acontecer, a Oi poderá finalmente apresentar à Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) o pedido de anuência prévia para adquirir a BrT. A avaliação de Falco é de que esse trâmite pode ser rápido, uma vez que o órgão regulador já está de posse de uma série de documentos necessários para a análise do caso e pelo fato de o negócio envolver a união de duas operadoras que não atuam em áreas sobrepostas. "Não há áreas coincidentes. Existem mais aspectos competitivos, do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), do que regulatórios, na Anatel", ponderou o executivo.

Acionistas e executivos da Oi têm evitado admitir publicamente a possibilidade de uma extensão no prazo do contrato assinado com a Brasil Telecom, o que cria um sentido de urgência para a Anatel. Por outro lado, interlocutores ligados à BrT têm afirmado que aceitam negociar uma prorrogação, sem a cobrança da multa contratual de R$ 490 milhões, e avaliam que o mais provável é a operação ser fechada no início de 2009.

De qualquer forma, a expectativa do presidente da Oi é de que a aquisição do controle e a oferta obrigatória aos acionistas minoritários da Brasil Telecom estejam concluídas até a metade do próximo ano. O diretor de relações com investidores da Oi, Roberto Terziani, disse que a oferta pelas ações ordinárias em circulação no mercado deve ser lançada em abril.

Cuidar desse processo e consolidar a recém-lançada operação de telefonia móvel em São Paulo são os objetivos mais imediatos da Oi, disse Falco. "Internacionalização é algo que vamos olhar idealmente em 2010, já com a Brasil Telecom integrada. Mas, se aparecer alguma oportunidade antes, vamos analisar", afirmou o executivo.

De acordo com ele, os alvos em potencial são empresas de infra-estrutura de telecomunicações da América Latina que não estão sob o controle nem da espanhola Telefónica nem do grupo mexicano Telmex/América Móvil. "Não começamos a mexer nisso ainda. A Brasil Telecom é mais avançada nessa área porque tem uma empresa de cabos submarinos na região", disse. A BrT tem analisado a possibilidade de disputar a compra da operadora colombiana Empresa de Telecomunicaciones de Bogotá (ETB).

A avaliação de Falco é de que a compra da Brasil Telecom pela Oi vai mudar a relação de forças no mercado brasileiro. Para ele, a Embratel (controlada pelos mexicanos) terá concorrência inédita em "backbone" (infra-estrutura central que permite o transporte de longa distância de voz e dados), já que a combinação das redes das duas empresas vai criar uma malha de alcance nacional. O executivo acrescentou que a Telefónica, por sua vez, vai sentir a concorrência mais pesada na telefonia móvel e vai precisar solucionar a situação atual, na qual é acionista da Vivo e da TIM, mas não controla sozinha nenhuma dessas operadoras.

Os desafios da Oi não são pequenos, mas os objetivos também estão longe de ser modestos. "Vamos botar gasolina na fogueira e aumentar nossa participação no mercado de celulares", disse Falco.