Título: País não vai cair no erro de tabelar câmbio, diz Lula
Autor: Francisco Góes
Fonte: Valor Econômico, 25/02/2005, Brasil, p. A3
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que o governo não pode ficar como "peteca" entre os interesses dos que são favoráveis à desvalorização do dólar, como forma de reduzir dívidas, e os que reclamam da baixa cotação da moeda americana. "O governo tem que permitir que a solidez da macroeconômica permita que o mercado trate de estabilizar o valor do dólar. Não é o governo que vai se meter a tabelar a moeda nesse país, até porque isso foi feito e foi um desastre", comparou, referindo-se à época da paridade cambial no governo anterior. Lula também criticou o desinteresse dos Estados Unidos e da União Européia em relação a uma maior integração com países em desenvolvimento, como o Brasil. "O mundo, tal como está distribuído econômica e comercialmente, oferece menos oportunidades nas relações entre os países emergentes e os países ricos. Os Estados Unidos, porque estão envolvidos com suas guerras, têm pouco tempo para se preocupar com os países pobres. A União Européia, porque saiu de 15 para 25 países, não se preocupa tanto com a América Latina, mas em dar condições para os novos membros se desenvolverem", afirmou Lula. E insistiu: "Se não tivermos postura soberana, se não tivermos autodeterminação e não colocarmos na cabeça que respeito a gente dá e gosta de receber, eles (os países ricos) vão sempre tratar a gente como país secundário, sem importância, como país que não é levado a sério." dO presidente, que participou do lançamento das obras de expansão do aeroporto de Vitória, fez o comentário em discurso, ao justificar a escolha do Brasil pela integração da América do Sul. Lula disse que a aproximação com outros países, como África do Sul, Índia, China e Rússia, teve o objetivo de "evitar que o Brasil fosse a fatia de mortadela no meio das duas grandes economias do mundo (Estados Unidos e Europa)". No discurso, o presidente elogiou a criação, no fim de 2003, do G-20, o grupo liderado por Brasil, China e Índia para conduzir os interesses dos países em desenvolvimento nas negociações da Organização Mundial do Comércio (OMC). Ele citou como exemplo de ações bem-sucedidas na OMC as vitórias do Brasil contra a Europa, no caso do açúcar e do frango salgado, e contra os Estados Unidos, no caso do algodão. O repórter viajou a convite do governo do Estado do Espírito Santo.