Título: 560 ligações em um dia
Autor: Lima, Daniela
Fonte: Correio Braziliense, 01/03/2010, Mundo, p. 15

Entre atendimentos na Embaixada do Brasil em Santiago estão buscas por desaparecidos e pedidos de ajuda financeira

Com o restabelecimento parcial das comunicações no Chile, cresceu o número de brasileiros que procuraram a Embaixada do Brasil em busca por informações de parentes e conhecidos. Durante todo o dia de ontem, pelo menos 560 pessoas procuraram o consulado. Os pedidos foram os mais diversos. Desde ofício para apresentar à chefia no Brasil, justificando ausência no trabalho por conta do terremoto, a pessoas que buscam auxílio por não terem mais condições de se manter no país.

O embaixador Mário Vilalba disse ao Correio que não há previsão de que uma aeronave da Força Aérea Brasileira vá ao Chile resgatar brasileiros. Isso só ocorrerá se o governo identificar mortos ou feridos graves no país. ¿Não descartamos que algum brasileiro possa ter sofrido as consequências do terremoto, até porque cerca de 12 mil moram aqui. Mas, até o momento, não encontramos nenhum brasileiro entre as vítimas ou feridos graves¿, ressaltou o embaixador.

A embaixada conta com sete pessoas na linha de frente de atendimento. Cada uma tem recebido em média 80 ligações. A equipe também está encarregada de monitorar informações sobre possíveis brasileiros entre as vítimas do terremoto. ¿São muitos rumores e informações desencontradas, mas estamos checando tudo. Neste momento (às 18h de ontem), estamos verificando uma denúncia de que haveria um brasileiro entre as vítimas na cidade de Concepción (onde foi registrado o epicentro do terremoto), mas nada foi confirmado¿, garantiu o embaixador.

Para os brasileiros que afirmam não ter mais condições financeiras de se manter no Chile, a embaixada está providenciando abrigos. ¿São casos pontuais, a minoria. Boa parte das pessoas que nos procuram são turistas que estão em boas condições. Nesses casos, estamos pedindo paciência até que a situação no país se normalize. Recomendamos que essas pessoas permaneçam em seus hotéis até que os serviços no Chile sejam restabelecidos¿, explicou Vilalba.

Voos internacionais

O Aeroporto Internacional de Santiago, capital do Chile, onde fica a Embaixada do Brasil, voltou a operar ontem. Um voo de Lima, no Peru, foi o primeiro a aterrissar, trazendo chilenos para casa. Mas as atividades estão longe dos níveis normais de funcionamento. Segundo o chefe da Força Aérea do Chile, Ricardo Ortega, o pleno funcionamento depende de reparos nos terminais de embarque, muito afetados pelo terremoto, e nos sistemas das companhias aéreas. ¿Temos alguns voos que estão chegando. Isso não significa que eles vão chegar de maneira regular, mas estamos fazendo procedimentos para que possam aterrissar por etapas. Não vamos montar um sistema de primeira qualidade, mas terminais provisórios¿, avisou.

Ainda não há previsão de quando será possível embarcar passageiros para fora do Chile. ¿O terminal de embarque foi muito afetado. Além de paredes, passarelas e tetos danificados, as companhias estão sem sistema para organizar os embarques. Imagino que serão necessários pelo menos 48 horas ou 72 horas para que a situação melhore¿, estimou o embaixador do Brasil.

Em entrevista ao Correio, Mário Vilalba lembrou os momentos de pânico que viveu durante o terremoto e a dificuldade para repassar informações ao Brasil. ¿Eu estava em casa com a minha esposa e ela me acordou dizendo que o tremor estava muito forte. Aqui, pequenos tremores são comuns, mas ela estranhou aquele. Nós nos levantamos e, como me ensinaram, a levei comigo para debaixo de uma viga. Vimos a casa sacudir como se fosse um brinquedo de parque de diversões¿, narrou.

O embaixador também procurou seus familiares. ¿Nossas duas filhas estão viajando aqui mesmo no Chile. A primeira coisa que fiz foi tentar contato com elas. Ficamos sem luz, sem água e sem telefone. Só consegui falar com o Brasil com a ajuda da embaixada que fica em Assunção (capital do Paraguai). Foram eles que conseguiram um canal de comunicação com Brasília¿, lembrou Vilalbas. Além de paciência, o embaixador recomenda aos brasileiros que estão no Chile que não tentem sair do país por vias alternativas. ¿As estradas da região sul estão em péssimo estado. O melhor é aguardar¿, concluiu.

O número 12 mil é o número de brasileiros que moram no Chile, segundo a embaixada em Santiago

12 voltam em avião da FAB

Naira Trindade Fotos: CECONSAER/Divulgação Segundo embaixador do Brasil, foram escolhidas pessoas que tinham mais urgência em retornar para casa

A notícia da chegada de 12 brasileiros à base da Força Aérea Brasileira (FAB) promoveu uma corrida de turistas à Embaixada do Brasil no Chile. Ao menos 200 pessoas estão listadas à espera de um meio de transporte para retornar ao país. Pousar em solo brasileiro, para os 12 passageiros que vieram pela aeronave VC-99 B Legacy da FAB, era renascer da tragédia. Os relatos são comoventes. Uma estudante chegou a chorar ao aterrissar em Brasília. O avião desceu na pista da FAB às 5h15, cerca quatro horas depois de ter deixado Santiago.

Os primeiros segundos dos tremores chegaram a ser confundidos pela estudante brasileira Rafaela Link por pulos de pessoas que participavam de uma festa. Rafaela estava em um bar karaokê com amigos quando tudo começou a se mexer. Todos ficaram apavorados, quando, de repente, ouviram um grande barulho. ¿Deu um estrondo e a cúpula da igreja caiu. Parecia que tudo ia cair também. Foi um pânico generalizado. Vi a morte bem de perto¿, descreveu a estudante que morava na capital chilena havia dois meses. ¿No momento em que pousei no Brasil, não acreditei que estava em casa, chorei porque fiquei muito emocionada por estar de volta. Lá, estava num estado de crise nervosa, ao ver aquela poeira pela cidade. Vou ficar um bom tempo sem sair do Brasil¿, contou.

Amiga de Rafaela, Alexia Moecke dormia no momento do terremoto. ¿Foi horrível. Uma coisa que eu não desejo para ninguém. Tremia tudo e eu não conseguia ficar em pé. A única coisa que eu pensei foi: `eu quero voltar ao Brasil, eu quero sair daqui, eu quero os meus pais¿¿, relatou. Alexia estava no Chile havia quatro dias. ¿Não consegui acreditar até ver Brasília. Foi quando pensei: `gente, estou em casa, estou finalmente no meu país¿¿, emocionou-se.

Sem costume

Um congresso de enfermagem que aconteceria no sábado no Chile precisou ser desmarcado. Petra Rangel havia viajado para participar dele, mas viveu o drama de não saber se sairia de lá com vida. ¿É muito assustador porque não estamos acostumados com tremores.¿ A enfermeira dormia no primeiro andar quando o prédio começou a resvalar. Experiente em situações parecidas, o coronel da FAB Luiz Fernando Aguiar, que por dois anos foi adido da Aeronáutica no Chile, nunca havia passado por um tremor como o de sábado. ¿Não era possível ficar em pé¿, contou o militar. ¿O asfalto parecia uma folha de papel se mexendo para cima e para baixo¿, descreveu.

Embaixador do Brasil no Chile, Mário Vilalba, explicou que a seleção dos passageiros a embarcarem no Legacy se deu quanto à urgência de retorno ao país. Mas seis integrantes da aeronave eram funcionários do governo federal que tinham ido à capital chilena organizar a visita de Luiz Inácio Lula da Silva à posse de Sebastián Piñera, marcada para março.

Relatos do terror

¿Deu um estrondo e a cúpula da igreja caiu. Parecia que tudo ia cair também. Foi um pânico generalizado. Vi a morte bem de perto¿

Rafaela Link, (E) estudante

¿Foi horrível. Uma coisa que eu não desejo para ninguém. Tremia tudo e eu não conseguia ficar em pé. A única coisa que eu pensei foi: `eu quero voltar ao Brasil, eu quero sair daqui, eu quero os meus pais¿¿

Alexia Moecke, estudante

¿É muito assustador porque não estamos acostumados com tremores. Parecia que tudo ia cair. Uma sensação terrível para a gente, que não conhece terremoto¿

Petra Rangel, enfermeira

Deu no ...

THE NEW YORK TIMES

Drama dos sobreviventes O jornal norte-americano destacou o drama dos que sobreviveram ao terremoto chileno. A reportagem contou a história de Adan Noe Saavedra Rios, que tentou salvar, sem sucesso, a mulher e a filha, mortas depois de um muro cair na casa onde moravam, em Santiago. Antes de Adan poder reagir, elas já estavam no chão, soterradas.

LE MONDE

Testemunho de jornalista Diretamente de Santiago, a correspondente do jornal francês Charlotte Patron escreveu uma reportagem, em primeira pessoa, dando seu testemunho sobre o caos instalado na capital chilena. ¿Sábado, 4 horas. Todo o meu quarto vibra fortemente. Há um tremor de terra. Alguns objetos tombam. Acaba a energia. Logo circula o rumor: o sismo foi de 8 ou 9 na escala Richter. `É mais forte que no Haiti¿, exclama um morador. Difícil de imaginar... Rapidamente, a cacofonia: sirenes de ambulâncias, helicópteros, alarmes e cachorros latindo¿, descreveu Charlotte.

EL MUNDO.COM

Casas destruídas O jornal espanhol afirmou que ¿o sonho dos chilenos foi interrompido abruptamente às 3h34 da madurgada¿ pelo terremoto. De acordo com o periódico, fontes oficiais informaram que pelo menos meio milhão de casas foram destruídas e mais de 1,5 milhões ficaram abaladas.

THEGUARDIAN

Resgate pelo país No site do jornal inglês, o correspondente Jonathan Franklin conta, de Santiago, como estão os trabalhos de resgate e busca por sobreviventes. Ele lembra que 10 mil pessoas ficaram desabrigadas. O repórter cita que a presidente Michelle Bachelet declarou estado de catástrofe no centro do Chile.

LA TERCERA

Ligações gratuitas O jornal chileno contou que, entre as medidas com finalidade de facilitar a comunicação entre as pessoas que procuram seus familiares, a Telefônica, uma das empresas de telefonia que opera no país, liberou ontem os telefones públicos para chamadas nacionais gratuitas. Outra operadora, a Movistar, decidiu doar 1,5 mil pesos em créditos para cada cliente de celular pré-pago que mora na sétima e na oitava regiões.

CLARIN.COM

Ajuda argentina A ligação telefônica da presidente da Argentina, Cristina Kirchner, à governante do Chile, Michele Bachelet, foi destaque no jornal de Buenos Aires. Durante o contato, Kirchner ofereceu ¿toda a ajuda necessária¿ por parte da Argentina. Segundo o periódico, Bachelet agradeceu e disse que se manteria em contanto para informar quais as necessidades mais prementes.

THE DAILY TELEGRAPH

Efeito dos tsunamis ¿Quando um terremoto monstruoso chacoalha a Terra¿ é o título da matéria publicada pelo jornal australiano na edição online. O periódico relembrou os principais acontecimentos decorrentes da catástrofes e afirmou que o restante do Oceano Pacífico escapou dos tsunamis, ao contrário do Chile, onde pelo menos cinco pessoas morreram devido às ondas gigantes.