Título: Lula diz que Temporão ficará no cargo
Autor: Lyra , Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 19/11/2008, Política, p. A6
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou, ontem, depois de almoço em homenagem ao presidente da Indonésia, Susilo Banbang Yudoyono, que não vai demitir o ministro da Saúde, José Gomes Temporão. " Ele fica, Temporão é meu ministro", assegurou Lula. O ministro vem sendo pressionado pelo PMDB a deixar o cargo, depois de ter dito que a Funasa - cujo presidente, Danilo Forte, foi indicado pelos deputados do partido - é um "antro de corrupção". Apesar da crítica e de a Funasa ser a ele subordinada, o ministro não anunciou providências.
O presidente garantiu que só deixarão a Esplanada os ministros que desejarem disputar cargos nas eleições de 2010. Lula disse ainda que não marcou nenhuma reunião específica com o PMDB para discutir este ou outros assuntos. Mas disse surpreender-se com notícias que dão conta de que as relações do maior partido do Congresso com o governo não estão boas. "Veja, a minha relação com o PMDB é a melhor possível. Eu fico vendo pela imprensa, fico vendo o diz-que-diz. Para mim o que conta é a minha relação direta com o PMDB", declarou o presidente.
Lula confirmou a intenção de ter uma conversa especial com os ministros e parlamentares pemedebistas, para "a gente ir afinando a viola nas coisas que nós temos que fazer até 2010". Elogiou o partido aliado. "O PMDB tem prestado serviço importante nas Pastas que dirige, portanto, desse ponto de vista nós não temos nenhum problema pela frente".
O encontro com o PMDB terá como assunto central a sucessão nas mesas diretoras da Câmara e do Senado. Na Câmara, o PT apoiará o deputado Michel Temer (PMDB-SP). Mas no Senado, o PMDB insiste em lançar candidato próprio - o nome mais forte é o do senador José Sarney (AP). Já o PT defende que o sucessor de Garibaldi Alves seja o petista Tião Viana (AC), sob o argumento que o PMDB ficaria muito forte comandando as duas Casas do Congresso. "Tradicionalmente, o partido que tem maioria indica os presidentes da Câmara e do Senado. Nós não temos muita experiência de o mesmo partido chefiar as duas Casas. De qualquer forma, os políticos são eles, quem tem sensibilidade são eles", esquivou-se Lula.
O presidente argumentou que não pode "ficar dando palpites" na sucessão da Câmara, da mesma forma como não pode interferir na escolha do presidente do Supremo Tribunal Federal. "Isso é uma coisa do Congresso Nacional. A Câmara e o Senado é que indicam quem serão seus candidatos. Ao presidente da República interessa que eles escolham quem melhor puder dirigir a Casa e quem puder manter uma boa relação com o Poder Executivo".
Enquanto Lula elogiava Temporão e o PMDB, o ministro da Saúde e duas das principais lideranças do partido - o presidente Michel Temer e o líder na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN) - reuniam-se no ministério para, nas palavras de Henrique Alves, "fumar o cachimbo da paz". Os dois lados deram uma trégua na crise. Temporão disse que as palavras da semana passada foram uma reação impensada "após ter sido agredido verbalmente por uma liderança indígena". E expôs o desejo de reformular a Funasa, transferindo para uma secretaria do Ministério da Saúde a missão de cuidar da saúde dos povos indígenas.
Por outro lado, poderia ser repassada para a Funasa, amparada pela imensa capilaridade da fundação, a tarefa de levar atendimento médico, tarefa que cabe unicamente ao SUS, aos pequenos municípios brasileiros. Outras políticas, como saneamento básico, também poderão ser administradas pela fundação. "O ministro não quer desprestigiar o trabalho da Funasa, pelo contrário. Ele quer apenas dar um novo formato à atuação da fundação. Por isso, ele deve conversar em breve com o Danilo para acertarem os ponteiros", disse o líder do PMDB.