Título: Desigualdade de renda no Nordeste é a maior do país
Autor: Chico Santos
Fonte: Valor Econômico, 25/02/2005, Brasil, p. A37

A Síntese de Indicadores Sociais de 2003, divulgada ontem pelo IBGE, mostra que o Nordeste continua sendo a região do país com maior desigualdade salarial. Enquanto no país como um todo a renda média mensal, em salários mínimos, dos 10% mais ricos da população brasileira, representava em 2003 16,9 vezes a dos 40% mais pobres, na região Nordeste essa relação era de 18,2 vezes, diante de 15,1 vezes na região Sudeste e 13,9 vezes no Sul. O trabalho do IBGE, que é basicamente uma releitura dos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), divulgada anualmente, confirma que a concentração salarial vem caindo ano a ano no país, mas os números a partir de 1995, primeiro ano completo do Plano Real (iniciado em julho de 1994) revelam também que a queda no Nordeste tem sido mais lenta que nas outras duas regiões mais populosas do país. Em 1995 os 10% mais ricos do Nordeste obtinham do trabalho 20,6 vezes o que recebiam os 40% mais pobres. A redução para as 18,2 vezes em 2003 foi equivalente a 2,4 vezes. Tanto no Sudeste como no Sul a queda foi maior. No Sudeste, a relação em 1995 era igual à do Nordeste em 2003 (18,2 vezes) e caiu para 15,1 vezes no primeiro ano do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Já no Sul, a queda foi de 17,4 vezes para 13,9 vezes no mesmo período. Graças à melhoria da correlação de renda entre pobres e ricos, o Índice de Gini, indicador que mede a desigualdade de renda, caiu de 0,56 para 0,55 de 2002 para 2003. O Índice de Gini vai de zero a um e quanto mais próximo de zero, menor a desigualdade. O presidente do IBGE, Eduardo Nunes, ressalvou que o Índice de Gini calculado pela instituição diz respeito apenas à renda do trabalho, não incluindo outras formas de rendimentos, como juros e aluguéis, por exemplo. Em 2003, o Índice de Gini era de 0,56 no Nordeste, de 0,53 no Sudeste e de 0,52 no Sul. O estudo mostra que em 2003 o rendimento-hora das pessoas ocupadas no Nordeste era de R$ 2,7, exatamente a metade dos R$ 5,4 da região Sudeste. Revela também que a taxa de desocupação (desemprego) medida pela PNAD para o país, que passou de 9,2% em 2002 para 9,7% em 2003, chegava a 15,4% no Amazonas, a 13,8% no Distrito Federal e a 13% no Estado do Rio de Janeiro. A parcela da população ocupada que ganhava até meio salário mínimo, que no país era de 10%, alcançava 30,7% no Piauí, 23,3% no Ceará e 20,7% no Maranhão. No outro extremo, ficava em 2,6% do pessoal ocupado no Distrito Federal e em 3,3% em Santa Catarina e em São Paulo. O IBGE constatou que o desemprego vem atingindo mais as mulheres, os jovens e as pessoas com mais tempo de escolaridade. Em 2002 a taxa de desemprego dos homens era de 7,4% e das mulheres, de 11,6%. No ano seguinte, os números passaram, respectivamente, para 7,8% e para 12,3%. Na região Norte (exceto zona rural), o desemprego entre as mulheres em 2003 alcançava 14,9%, contra 7,9% entre os homens. No Sudeste, os números eram 14,2% para as mulheres e 9,4% para os homens. De acordo com o IBGE, o desemprego passou de 5,6% em 2002 para 6% em 2003 entre as pessoas em idade ativa com até três anos de estudo. Já entre as pessoas com oito ou mais anos de estudo, a desocupação passou de 10,6% para 11,3% de um ano para o outro. O IBGE constatou ainda que entre os jovens de 18 a 24 anos, a taxa de desemprego no país chegava a 18% em 2003, praticamente o dobro da taxa geral. O presidente do IBGE disse que o fato de o desemprego ser maior entre os mais escolarizados é produto da conjuntura econômica que reduziu a oferta de trabalho qualificado. "Não representa uma punição para os mais escolarizados", disse. Em relação ao desemprego maior entre mulheres, os técnicos do IBGE dizem que é conseqüência natural da existência de uma população feminina maior que a masculina no país. Em 2003 o país tinha 89,1 milhões de mulheres e 84,8 milhões de homens. A Síntese revela também que as mulheres ganham menos que os homens e que a defasagem é maior nas faixas mais elevadas de escolaridade. O rendimento por hora trabalhada pela mulher em 2003 era de 83,3% do recebido pelo homem, caindo para 81% na região Sudeste e subindo para 96,3% no Nordeste. Na faixa de escolaridade de até quatro anos de estudos, a mulher ganhava 79,2% do rendimento-hora do homem, enquanto na faixa de mais de 12 anos de estudos a relação caía para 60,5%. Os empregados do IBGE aproveitaram a divulgação da Síntese de Indicadores Sociais para fazer uma manifestação contra a portaria nº 15 do Ministério do Planejamento, apelidada de "portaria da mordaça". Amordaçado, um grupo de empregados do Sindicato Nacional dos Trabalhadores do IBGE tentou entregar uma mordaça ao presidente da instituição. A Síntese foi a primeira pesquisa estrutural divulgada após a edição da portaria, que determina a entrega ao governo dos dados 48 horas antes da divulgação pública. Segundo a sindicalista Suzana Lage Drummond, técnicos do órgão se recusaram a dar entrevistas prévias com medo de serem punidos.