Título: Saúde entra na negociação das Mesas
Autor: Costa ;Raymundo
Fonte: Valor Econômico, 19/11/2008, Política, p. A6

A mudança de comando na Saúde está por trás da disputa entre o ministro José Gomes Temporão e o PMDB, que nunca aceitou a indicação do sanitarista para o ministério, dentro da sua cota de governo. Embora o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenha dito ontem que só pretende mudar ministros que vão concorrer às eleições de 2010, a Saúde está na pauta de negociação da eleição para a presidência da Câmara dos Deputados, em fevereiro de 2009. Alan Marques/Folha Imagem Temer e Alves saem da reunião com Temporão: PMDB da Câmara negocia Pasta com PT

Temporão e o PMDB estabeleceram ontem uma trégua, depois de reunião do ministro com o presidente do partido, Michel Temer, e o líder da bancada na Câmara, Henrique Alves. Segundo o líder, as acusações de corrupção do ministro a gestão do PMDB na Funasa só serviram para "desgastar o ministério, o partido e o governo". Apesar da trégua, os problemas não acabaram.

O PMDB nunca aceitou a indicação de Temporão para a Saúde, dentro de sua cota, na realidade uma escolha de Lula encampada pelo governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral. Os primeiros problemas surgiram com a liberação de emendas para parlamentares, que se agravaram, nos últimos meses, pela decisão de Temporão de fazer mudanças na estrutura do ministério. Ele propõe a criação da Secretaria de Assistência Primária, que ficaria com generosas fatias hoje sob controle do PMDB.

Uma parte sairia da principal secretaria do ministério, a de Assistência à Saúde, que administra cerca de 70% dos mais de R$ 40 bilhões do ministério - cargo, aliás, para o qual há muito o PMDB espera a nomeação de um pemedebista. A outra parte sairá da Funasa, comandada por Danilo Forte, nome indicado pela bancada pemedebista. O projeto da nova secretaria está empacado na Câmara nas mãos do relator, o deputado Geraldo Pudim, do PMDB do Rio de Janeiro.

Mas o pior de tudo é que a nova secretaria, com um orçamento estimado em cerca de R$ 6 bilhões, seria entregue a um petista - Helvécio Magalhães, secretário da Saúde de Fernando Pimentel, prefeito de Belo Horizonte, segundo informações recebidas pelo PMDB.

A movimentação de Temporão interfere com a negociação do partido para a eleição de Michel Temer para a presidência da Câmara. No acordo firmado entre o PMDB e o PT que elegeu o deputado Arlindo Chinaglia, em 2007, o item que prevê a reciprocidade petista, em 2009, diz que ela se daria com a manutenção do devido equilíbrio do exercício do poder pelos partidos.

Parte do PT entendia que isso significava a entrega da presidência do Senado ao partido, mas a bancada firmou o entendimento que o acordo, em princípio, está restrito à Câmara. Dentro da atual configuração de poder, o PMDB da Câmara aceita conversar sobre abrir mão da Saúde em favor do PT, provavelmente de Chinaglia, em composição na qual os pemedebistas continuaram ocupando postos importantes no ministério.

Em atrito permanente com o PMDB desde que chegou ao cargo, Temporão, também, aos poucos foi perdendo o entusiasmo dos padrinhos. Se desgastou com Lula e com Sérgio Cabral, que passou a dizer que servira apenas de "barriga de aluguel" para a indicação. Um dirigente pemedebista explica: "É mais um pretexto. Uma pessoa com sua responsabilidade não denuncia (a Funasa), demite".