Título: Reino Unido vota lei de mudanças climáticas
Autor: Chiaretti , Daniela
Fonte: Valor Econômico, 19/11/2008, Internacional, p. A9
Nos próximos dias, o Parlamento do Reino Unido votará a Lei de Mudanças Climáticas. Trata-se do passo mais forte e inovador do país onde nasceu a Revolução Industrial rumo a uma economia de baixo carbono. E será o indicador mais evidente que o governo Gordon Brown continuará investindo no combate à mudança climática mesmo com o país em recessão.
"Mesmo com as dificuldades econômicas que claramente estamos enfrentando aqui, não acreditamos que este é o momento de virar as costas ao nosso pacote de combate ao aquecimento global", diz Joan Ruddock, a secretária de Estado para Mudança Climática do Reino Unido. "Se não nos movimentarmos para uma economia de baixo carbono, não teremos futuro", continua, anunciando que para ter segurança energética o país vai investir "pesadamente" em energias renováveis e iniciar, possivelmente, um novo programa nuclear. Segundo compromissos acertados com a União Européia, o Reino Unido pretende reduzir suas emissões de gases-estufa em 20% até 2020 e em 80% até 2050.
"Somos uma ilha de muito vento, é o lugar onde mais venta na Europa. Temos grande potencial de energia das marés. Só não temos sol. Mas as renováveis nos desenham um futuro promissor", prossegue Joan. "Podemos criar muitos novos empregos nesta trilha. Mesmo sabendo que vamos ter desaceleração econômica, que podemos passar por uma fase dura neste país, não achamos que é hora de desistir deste rumo".
Recentemente o Reino Unido conseguiu o inimaginável - juntou raposa e galinhas no mesmo lugar, no novo Department of Energy and Climate Change, o DECC. O recém-criado ministério nasceu da união do antigo DEFRA (Department for Environment, Food and Rural Affairs) e o Grupo de Energia que era ligado ao Department for Business, Enterprise and Regulatory Reform. Quem cuida da nova pasta, considerada estratégica por juntar ambiente e energia, é Ed Miliband, irmão do chanceler britânico, David Miliband.
A reforma ministerial de Gordon Brown atinge o ápice do conceito de transversalidade que os ambientalistas tanto defendem. "A fusão aconteceu pela óbvia razão que quando olhamos para as emissões do Reino Unido, dois terços vêm do uso de energia. Se queremos enfrentar a mudança climática é aqui que temos que trabalhar mais", diz Joan Ruddock. "Juntando energia e ambiente podemos ter um foco apurado das coisas."
Está na legislação sobre mudanças climáticas o que o Reino Unido já anunciou publicamente: o compromisso de reduzir suas emissões em 80% em 2050. Há uma meta mais próxima, cortar em 20% até 2020. O objetivo doméstico pode aumentar para 26% ou 28% - as ONGs ambientalistas querem 40%.
"Há países da UE que já disseram que o bloco não deveria ir adiante com um pacote de metas tão ambicioso (20% em 2020) diante da crise. Mas a posição do meu governo é que este não é o momento de virarmos as costas ao aquecimento global. Temos que continuar com o que já sabemos que é possível. Esperamos que esta crise não seja longa. Mesmo com coisas mais difíceis no presente, só chegaremos às metas no futuro se fizermos mudanças agora", repete.
"Por exemplo: os fabricantes de automóveis estão muito preocupados porque as vendas caíram muito. Mas carros estarão nas nossas ruas em 2020. Então este é o momento de produzirem automóveis que emitam muito menos. A hora é agora. O que estamos dizendo é: planejem os carros."