Título: Votorantim decide cortar produção de zinco em MG
Autor: Ribeiro , Ivo
Fonte: Valor Econômico, 19/11/2008, Empresas, p. B8

A crise econômica mundial, que derrubou os preços dos metais não ferrosos, forçou o grupo Votorantim a cortar a produção de sua usina de Juiz de Fora (MG). Todos os funcionários da unidade entrarão em férias coletivas a partir de dezembro pelo período de um mês. A empresa decidiu também ajustar o quadro funcional, de aproximadamente 600 pessoas, com corte em torno de 10%.

Em comunicado, a empresa informou que "está efetuando o desligamento de 55 colaboradores em seu quadro de Juiz de Fora (MG) e concedendo férias coletivas durante o mês dezembro nesta unidade". A Votorantim Metais (VM), holding dessa unidade de negócio, argumentou que a decisão é decorrente dos "impactos da desaceleração da economia global com a conseqüente redução na demanda internacional por metais". E que, por isso, "está adotando medidas de adequação do nível de produção e ajustes nos custos da empresa".

A unidade de Juiz de Fora, antiga Paraibuna de Metais, adquirida pela VM em 2002 por US$ 100 milhões do grupo Paranapanema, tem capacidade para produzir de 90 mil a 100 mil toneladas de zinco metálico por ano. Um dos problemas dessa fundição é que ela depende 100% de importação de concentrado do metal, o que encarece seu custo. Além disso, tem custo de energia elevado.

Os preços do zinco desabaram 59% desde seu pico de alta em março deste ano, de quase US$ 3 mil a tonelada. Ontem, a cotação do metal na Bolsa de Metais de Londres (LME) fechou em US$ 1150 a tonelada. Esse valor já torna não competitiva a operação de algumas fundições de zinco em várias partes do mundo. O metal é empregado principalmente em galvanoplastia (caso de chapas de aços revestidas contra ferrugem usadas nas carrocerias de automóveis).

A Votorantim, com um programa forte de aquisições desde 2002, posiciona-se hoje entre os cinco maiores produtores mundiais de zinco, com duas unidades no Brasil - opera também a fundição de Três Marias (MG) -, uma no Peru (Cajamarquilla), várias pequenas nos Estados Unidos e uma na China. Com os planos de expansão em curso, principalmente a duplicação da unidade peruana, a previsão era chegar em 2010 com capacidade de 870 mil toneladas de produção ao ano.

Segundo apurou o Valor, a duplicação da fundição do Peru, com investimento de US$ 500 milhões, deve ser mantida. Fonte do setor de metais informou que a razão principal é que ela tem um custo mais competitivo de produção (o preço de energia no país é menos da metade que o do Brasil). Outro motivo é que o projeto, de mais 160 mil toneladas, já está em fase bastante avançada, com previsão de ficar pronto no decorrer do próximo ano.

Em Juiz de Fora, os ajustes da VM não param por aí. A empresa vai também desacelerar a implantação do projeto chamado Polimetálicos, no qual anunciou investimento total de R$ 670 milhões há cerca de dois anos. Dividido em duas fases, previa no início recuperar cerca de 15 mil toneladas de zinco, além do metal índio, a partir de resíduos atuais e futuros da operação da fábrica.

Na segunda etapa, que foi orçada em R$ 385 milhões, a unidade passaria também a produzir chumbo metálico - produto do qual o Brasil se tornou importador -, liga de prata com ouro e polipropileno. A fonte desses produtos seriam baterias de veículos recicladas, material residual da fábrica, concentrado de chumbo da mina da VM em Paracatu (MG) e concentrado importado. A previsão era alcançar 75 mil toneladas de chumbo por ano.

O argumento da empresa para a decisão de retardamento é que, "frente ao impacto da crise global sobre os metais, demolindo os preços e a demanda, está adequando o ritmo de seus projetos à situação econômica do momento".

Por isso, as obras do projeto da nova unidade de produção de níquel em Goiás, no município de Niquelândia, também foram desaceleradas. Anunciado há dois anos, o investimento de R$ 558 milhões uma fundição de ferro-níquel previa produzir 10,6 mil toneladas do metal, contido em 42,4 mil toneladas de material concentrado, obtido em mina própria em Niquelândia. No local, a VM já extrai material para fazer níquel metálico em instalações situadas em São Paulo. A previsão da empresa era iniciar a produção em 2009.

Com esse e novos projetos, a VM previa passar da atual produção de 27 mil para 53 mil toneladas de níquel em 2010.

O níquel é um dos metais cuja cotação mais sofreu com a crise. Desde seu pico mais alto neste ano, de quase US$ 35 mil a tonelada, o preço já caiu 69%. Ontem, na LME, fechou em US$ 10.450 a tonelada.