Título: PT fecha o cerco sobre Aldo e usa sucessão para pressionar Lula
Autor: Cristiano Romero, César Felício e Rosângela Bittar
Fonte: Valor Econômico, 25/02/2005, Política, p. A39

O ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo, está sob um cerco do PT como jamais sofreu neste um ano e um mês na função. Diferentes correntes do partido do presidente, e não apenas aquela mais ligada ao ministro José Dirceu, estão propondo a degola do ministro para que a atividade de articulação no Congresso, que implica liberação de emendas parlamentares ao Orçamento mas não a distribuição de cargos, que continuou com Dirceu, volte ao comando do PT. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva que, ao longo do ano passado, diante dos mesmos ataques a Rebelo, reiterava sempre sua confiança no ministro e a decisão de mantê-lo no cargo, não tem se manifestado sobre o assunto, como também não tem falado com nenhum interlocutor o que pensa fazer na reforma ministerial. Este silêncio anima o PT a considerar que a pressão, agora, pode surtir algum efeito. A campanha sucessória de 2006 já está na rua e o partido do presidente avalia que poderá sensibilizá-lo para a importância de ter um petista neste cargo de articulação com o Congresso. "Com a proximidade da sucessão, Lula vai levar em conta o PT", disse um auxiliar do presidente. Para conseguir seu objetivo, o PT não tem medido esforços e vem agindo de forma atabalhoada, sem preocupações com a coerência ou com demonstrações de que está se preocupando mais com o sucesso do governo do que com a acomodação das facções do partido e suas disputas internas. Sob reserva, um dirigente do partido no Congresso afirmou que o que se busca é a volta do modelo que existiu em 2003, onde o ex-assessor da Casa Civil, Waldomiro Diniz - estopim de um escândalo de corrupção que quase derrubou José Dirceu- cuidava da relação parlamentar. "O Aldo não tem caneta e não dá seqüência às ações com que se compromete. O coordenador tem que fazer ponte com os ministros e ter braços dentro do Congresso. O Waldomiro Diniz fazia isso muito bem. Ele abria portas para os congressistas na Esplanada", afirmou este parlamentar. Uma das contradições embutidas na argumentação do PT é esta: Rebelo não tem poder, mas o PT quer o poder inexistente. O PT tem feito, também, chegar ao presidente Lula o argumento de que só o partido pode coordenar os aliados e a si próprio, reforçando a tese de que Aldo Rebelo não pode ficar no cargo, embora tenha boa relação com Lula e os aliados, porque não tem ascendência sobre o PT. Os aliados, ao contrário dessa visão, fazem chegar ao presidente informações contrárias a estas. Durante a campanha para a escolha do presidente da Câmara, por exemplo, mais de um partido da base levou a Lula sua insatisfação com a escolha do candidato do PT, encaminhando outros nomes de sua preferência, que não foram considerados na bancada. O PT ignorou, também, todas as advertências da base para o fato de que o partido não teria votos suficientes para vencer se fosse mantida a divisão interna entre as candidaturas de Greenhalgh e Virgílio. Em um primeiro momento, assumiu responsabilidades na derrota, mas em seguida transferiu-a à coordenação política do Planalto, que teria "falido" nesta jogada política de suma importância. Aproveitam-se agora, também, as correntes do partido que estavam insatisfeitas com a negociação conduzida por Rebelo para a liberação de emendas ao Orçamento, por um método que fazia a inclusão dos aliados, acentuando a contradição do discurso do partido sobre sua capacidade de ampliar a aliança e com ela atuar. A disputa pela presidência da Câmara, segundo avaliavam a própria liderança do governo e grupos da bancada, exigia coesão da base e disciplina do PT, duas condições que o comportamento do partido do presidente conseguiu afugentar. Desde que chegaram ao poder com Lula, os petistas têm levado suas disputas internas para o centro do governo, prejudicando sua ação e sua articulação com os aliados. Ao mesmo tempo em que exige a coordenação política como condição para a unidade da base de apoio ao governo, o PT dá demonstrações repetidas de que suas disputas partidárias prevalecem sobre os interesses da base e mesmo do governo. Nas eleições municipais, isso aconteceu em pelo menos centros importantes - em Fortaleza, onde o PT se negou a apoiar um candidato da base (Inácio Arruda, do PCdoB); em São Paulo, onde rejeitou aliança com o PMDB; e em Porto Alegre, onde lançou chapa puro-sangue. "Se em 2006, o projeto partidário não ficar subordinado ao projeto nacional de reeleição do Lula, vai ficar difícil", adverte um líder do governo envolvido na estratégia da sucessão. Há exemplos de disputas internas que prejudicam a vida do governo no Congresso. Uma dos que mais chamam a atenção é a acirrada disputa em torno da eleição para o governo de São Paulo, em 2006. Por causa dela, no ano passado o Congresso ficou paralisado a maior parte do ano porque o então presidente da Câmara, João Paulo Cunha, tentou aprovar a emenda que previa a reeleição para as presidências da Casa. Um dos principais opositores da emenda foi justamente o senador Aloizio Mercadante (SP), outro candidato do PT ao governo paulista. A reeleição na Câmara, acreditava João Paulo, diminuiria o caminho para chegar ao Palácio dos Bandeirantes. Cotado pelos petistas para assumir a coordenação política ou a liderança do governo, João Paulo poderá levar novamente para a articulação política do governo a sua disputa com Mercadante em São Paulo. O PT sempre teve dificuldades para aceitar Aldo na coordenação política. Isto explica o fato de que, no ano passado, quando ele assumiu o cargo, João Paulo tenha enfraquecido o colégio de líderes da Câmara e absorvido ele próprio a função de líder do governo. Mais um golpe na aliança cuja articulação o PT quer retomar.