Título: PT cede cargos para reforçar coalizão
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 25/02/2005, Política, p. A39

Enquanto ainda digere a derrota sofrida na disputa pela presidência da Câmara, o PT abre espaço para que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva promova uma reforma ministerial ampla, que reforce o caráter de coalizão do governo. O partido, segundo seus dirigentes, está disposto a não impor resistência à demissão de ministros petistas e a não fazer reivindicações. "O governo é do PT, que é a sua coluna vertebral, mas é de coalizão", disse o presidente nacional do PT, José Genoino. "O governo é mais do que o PT." O suposto desprendimento em relação aos cargos que o PT detém no primeiro escalão foi um dos resultados da reunião que a cúpula do partido realizou, na noite de terça-feira, com 17 dos 18 ministros petistas. Os ministros não chegaram a colocar os cargos à disposição formalmente, mas concordaram que o partido não está em condições de dificultar a reforma ministerial planejada por Lula. "Depois da reunião, eu disse ao presidente: 'Faça a reforma que o senhor considerar adequada'", contou Genoino, que idealizou o encontro com os ministros, mas não sem antes consultar Lula. "Não vamos fazer nenhuma reivindicação. Vamos deixar o presidente à vontade para comandar a reforma. O PT não é obstáculo. É solução." Genoino assegurou que, na reunião com os ministros, não se tratou da substituição, por um petista, do ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo. "Não discutimos articulação política." Outros participantes do encontro garantiram, no entanto, que foi reiterado o desejo do partido em deter novamente a coordenação. Na opinião dos petistas, a coordenação política do governo deve ficar nas mãos do PT porque isso facilitaria a negociação de alianças com os outros partidos da base aliada nos estados, com vistas a 2006. Alega-se também que o entrosamento do ministro da Coordenação com a maior bancada, pertencente ao PT, é "fundamental" e que isso só é possível se um petista ocupar o cargo. A reunião com os ministros teve outros objetivos. Genoino está preocupado com a falta de unidade que vem imperando no PT. A disputa de dois petistas pela presidência da Câmara, com um candidato oficial e outro avulso, seguida da derrota do partido, expôs publicamente as divisões internas. "Minha prioridade é a unidade do PT e a melhora da relação com os partidos aliados", comentou o presidente da sigla. "Na reunião, fizemos um pacto de unidade. A preocupação é repactuar a bancada, o partido. Qualquer fragilidade do PT afeta o governo. O episódio do Virgílio (Guimarães, candidato avulso à presidência da Câmara) mostra que o partido tem que colocar a institucionalidade acima dos personalismos." Apesar dos esforços, a bancada do PT continua, segundo o deputado Paulo Bernardo (PT-PR), "muito atordoada". Na escolha do líder, um grupo da esquerda do partido chegou a esboçar o lançamento de um "líder alternativo". "Claramente, perdemos a hegemonia na Câmara. A conseqüência política disso ainda não estimamos", reconheceu Bernardo.