Título: Custo de vida pesa no bolso da baixa renda
Autor: Martins, Victor
Fonte: Correio Braziliense, 05/02/2010, Economia, p. 12

Inflação das famílias que ganham até 2,5 salários mínimos bate em 1,32% em janeiro

Elio Rizzo/Esp. CB/D.A Press A dona de casa Valquíria Almeida, com a sobrinha Ana Luiza e o filho Ricardo: ¿Só compro no dia de promoção. Se não tiver oferta, não dou conta¿

Ontem, enquanto o Banco Central divulgava a ata do Conselho de Política Monetária (Copom), que prevê a elevação dos juros, a Fundação Getulio Vargas (FGV) dava mais um argumento para a elevação da taxa básica de juros: a inflação bateu em cheio no bolso da parcela mais pobre da população. O Índice de Preços ao Consumidor Classe 1 (IPC-C1(1)), que mede o custo de vida para famílias com rendimentos de até 2,5 salários mínimos, atingiu 1,32% em janeiro ¿ desempenho superior à inflação para o restante do país, calculada em 1,29%. O resultado para a baixa renda foi o maior desde maio de 2008, quando o índice atingiu 1,38%.

No geral, o custo de vida para o brasileiro ficou mais pesado neste início de ano e a população de baixa renda tem sido a mais pressionada. A alta registrada em janeiro foi influenciada por uma elevação nas mensalidades escolares, incremento nos preços de alimentos afetados pelas chuvas e por reajustes pontuais, como os da tarifa de ônibus em São Paulo e Salvador (BA). ¿As altas de arroz, feijão carioca e hortaliças foram influenciadas pelo volume de chuvas e sol intenso. Por isso houve uma oferta menor em janeiro e os preços subiram¿, afirmou o economista da FGV André Braz. ¿O açúcar refinado foi afetado pela entressafra da cana, situação que foi agravada pela quebra de safra na Índia. Com isso, os derivados da cana também estão subindo muito¿, acrescentou.

Ainda segundo Braz, os itens lácteos também aumentaram de preço e impactaram a elevação registrada no mês. Desde dezembro, o custo do produto segue em trajetória de crescimento. ¿A oferta de leite diminuiu de forma antecipada, na véspera de 2010. Tradicionalmente, essa oferta tende a cair em janeiro, mas, dessa vez, encolheu em dezembro de 2009. Uma demanda forte, somada a uma captação menor, resultou no aumento de preço¿, explicou.

Promoção Para a desempregada Nilva Barbosa de Brito, 40 anos, comprar leite e verduras só é possível quando há promoção. ¿Podia estar mais em conta. Está tudo muito caro e não tem salário que consiga acompanhar esses preços¿, reclamou. A dona de casa Valquíria Almeida, 30, tem quatro filhos e uma renda de cerca de R$ 1,5 mil. Para fazer a feira do mês, ela costuma pesquisar bastante e tenta aproveitar as ofertas ao máximo. ¿Meus filhos consomem muito leite e verduras e eu só compro no dia de promoção. Se não tiver oferta, não dou conta.¿

De acordo com a FGV, os itens que mais subiram foram tarifa de ônibus (5,39%), batata inglesa (15,69%), leite longa vida (4,93%), abacaxi (22,06%) e cenoura (11,24%). A despeito do desempenho expressivo em janeiro, Braz alerta que essa elevação é pontual e que em fevereiro não deve se repetir. ¿É preciso ter cautela. Realmente esperamos uma inflação maior em 2010 do que no ano passado, mas está muito cedo para movimentos que diminuam essa pressão. Precisamos observar as taxas até o fim do primeiro trimestre. O problema com a inflação é só quando ela se manifesta de forma generalizada e ainda temos produtos em queda¿, ponderou o economista.

1 - Indicador O IPC-C1 mede a inflação para famílias com renda de até R$ 1.275. Quando mais alto for esse índice, mais caro é para o brasileiro de baixa renda sobreviver. Nesse levantamento da FGV, o IPC-C1 ficou mais alto que o IPC Brasil, pesquisa que mede o custo de vida para famílias com rendimentos de até 33 salários mínimos ou R$ 16.830.