Título: Para o Citi, onda de consolidação oferece oportunidades no Brasil
Autor: Carvalho , Maria Christina
Fonte: Valor Econômico, 20/11/2008, Finanças, p. C10
Em sua primeira visita ao Brasil desde que assumiu o comando do Citigroup, no início do ano, Vikram Pandit aparentemente deixou a tesoura em casa e fez um discurso bastante otimista a respeito do desempenho das operações locais e da expectativa com os negócios no país. Marisa Cauduro / Valor
Vikram Pandit, presidente mundial do Citi: opção pelo crescimento orgânico não descarta eventuais aquisições
Na segunda-feira, um dia antes de desembarcar no Brasil, ele havia anunciado o corte de 52 mil funcionários do grupo, ou 15% da força de trabalho global de 352 mil pessoas, e o objetivo de continuar diminuindo o tamanho do banco.
Ontem, porém, ele sinalizou que o Citi está agora mais bem preparado para enfrentar o que vem pela frente com o cenário de desaceleração econômica; e manifestou o entusiasmo com o fato de o banco operar no Brasil e em outros mercados emergentes, que estão mostrando melhor resposta à crise. Pandit também afirmou que a consolidação no mercado brasileiro abre oportunidades de negócios.
Na primeira entrevista a jornalistas brasileiros de um presidente do Citi desde 2000, quando John Reed deixou o comando do banco, Pandit afirmou que, dos 109 países onde opera, o Brasil é um dos raros que não o preocupa. "O Brasil vai crescer bem em comparação com o resto do mundo, apesar da queda dos preços das commodities e da desaceleração da economia mundial", disse Pandit.
O Citi projeta para o Brasil um crescimento de 2,8% em 2009, abaixo dos pouco mais de 5% esperados para este ano, e dos 3% a 4% estimados para a média mundial. Mas o patamar é considerado bom pelo banco tendo em vista que o crescimento mundial será puxado pela expansão ainda acelerada de alguns países asiáticos como a China e a Índia, que compensará a recessão nos países desenvolvidos.
O Brasil é o principal mercado do Citi na América Latina, disse Manoel Medina-Mora, presidente do banco para a América Latina e México, que acompanhou Vikram em sua visita, além de outros membros de sua equipe.
Cerca de 35% dos negócios do Citi vêm de mercados emergentes, disse Vikram, que afirma ser o Citi "a maior instituição financeira nos mercados emergentes". "Nossa intenção é ir onde nossos serviços são mais necessários e isso acontece provavelmente onde o crescimento é maior, e o crescimento é maior nos mercados emergentes", explicou.
Para o Citi, se o consumidor americano puxou o crescimento mundial nos últimos anos, agora o momento é de diversificação. "É provável que os motores da atividade econômica no futuro serão mais diversificados, podendo ser os consumidores brasileiros, os chineses, indianos e russos. Isso mostra que a importância do G-20 aumentou", disse Pandit, felicitando-se pelo fato de o Citi ter crescido nessas regiões nos últimos anos.
Como parte do ajuste que vem fazendo desde o final do ano passado para lidar com perdas acumuladas em US$ 65,7 bilhões até agora, segundo a "Bloomberg", o Citi já vendeu quase duas dezenas de negócios, além de vir cortando pessoal. Mas, em relação ao Brasil, ressaltou, o objetivo é ampliar a presença.
No ranking do Banco Central, o Citi não sai do 12 º lugar que ocupava em junho, com ativos totais de R$ 39,4 bilhões.
Pandit não se impressiona com isso. "Às vezes as pessoas olham tamanho e rede de agências como liderança. Isso é um modo de olhar as coisas, mas não é o único e nem sempre o melhor", afirmou, acrescentando que o Citi é líder em vários mercado no Brasil como nas operações com grandes empresas, banco de investimento, administração de fortunas, cash management e cartões. Além disso, acrescentou, o Citi é "líder em qualidade e em escala global. Somos o único que pode trazer o mundo para o Brasil e levar o Brasil para o mundo".
A fusão do Itaú com o Unibanco e, anteriormente, do Santander com o Real, pode ser uma fonte de oportunidades, disse Pandit. "A consolidação acontece em todas as partes do mundo e oferece grandes oportunidades de negócio. É bom para os que se consolidam e também para quem está do outro lado. Abre oportunidades do lado do consumo e das operações com empresas", afirmou.
O número de bancos está diminuindo e a expertise do Citi pode ser um diferencial. Nos estamos investindo pensando no futuro, em 2009 mas também 2010 e 2011, disse o presidente do banco no Brasil, Gustavo Marín, cuja atuação foi várias vezes elogiada por Pandit.
Mesmo o aumento dos créditos problemáticos no balanço brasileiro no terceiro trimestre foram explicados como consequência previsível da expansão do financiamento ao consumo.
Pandit afirmou não ter "planos específicos que não sejam crescimento orgânico para o Brasil". Mas acrescentou que o banco está "sempre olhando oportunidades ao redor do mundo e, se há um modo melhor de crescer, nós o faremos". Marín lembrou que, no início do ano, o banco comprou a corretora Intra, operação ainda sujeita à aprovação das autoridades, que complementa os negócios na área.