Título: Compra da Nossa Caixa depende de ajustes
Autor: Lyra , Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 20/11/2008, Finanças, p. E2

A aquisição da Nossa Caixa pelo Banco do Brasil ainda depende de algumas questões técnicas que precisam ser ajustadas, afirmou ontem o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Sérgio Lima / Folha Imagem

Governador José Serra, quer participou de reunião com Lula: "Não podemos tomar essa decisão apenas no plano político"

Segundo Mantega, que participou ontem de uma reunião no Planalto com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do governador de São Paulo, José Serra, e do secretário de Fazenda de São Paulo, Mauro Ricardo, o interesse da união entre os dois bancos foi explicitado há alguns meses, quando foi enviado um fato relevante à Comissão de Valores Mobiliários.

"Precisamos acertar alguns pontos, como a definição do valor geral, e a decisão sobre os ativos que permanecem", afirmou o ministro da Fazenda.

Embora José Serra esteja se empenhando bastante para a conclusão das negociações, para o BB, segundo o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, a compra da Nossa Caixa trará grande vantagem: aumentará em R$ 30 bilhões a capacidade do BB fazer empréstimos.

Isso porque a instituição do governo de São Paulo tem um patrimônio de referência acima do exigido pelas regras da Basiléia mas, ao contrário do BB, não tem "funding" para expandir sua carteira de crédito.

Mantega declarou que não há necessidade de se aguardar a aprovação da MP 443, que tramita no Senado e dá poderes à Caixa Econômica Federal e ao Banco do Brasil para comprarem bancos menores.

A MP já foi aprovada pela Câmara, mas ainda precisa ser apreciada pelos senadores.

Segundo o governador de São Paulo, José Serra, a reunião de ontem não serviu para "se bater o martelo" sobre a fusão.

"Esse é um assunto delicado, que envolve mercado de ações, CVM. Não podemos tomar essa decisão apenas no plano político", afirmou. Segundo Serra, nos próximos dias o Banco do Brasil e a Nossa Caixa devem se pronunciar sobre o assunto.

Na tarde da última terça-feira, após almoço no Palácio do Itamaraty, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva demonstrou explicitamente o desejo de que a fusão aconteça.

Embora ressaltando que era preciso ouvir o presidente do Banco do Brasil, Antônio Francisco Lima Neto, o governador de São Paulo, José Serra e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, sobre o assunto, o presidente Lula disse que "nós queremos que o Banco do Brasil seja muito maior do que qualquer outro banco no Brasil".

Um tucano informado sobre as negociações disse que o preço de venda da Nossa Caixa pelo Banco do Brasil - R$ 7 bilhões - já foi assimilado pelo governo federal, só faltando definir a forma de pagamento.

"Com a fusão do Itaú e do Unibanco, e ciente de que o Bradesco fará de tudo para comprar pequenas instituições financeiras, o governo Lula precisará correr. Caso contrário, em um espaço de poucas semanas, o BB poderá cair para o terceiro lugar no ranking", afirmou.

De acordo com esse parlamentar do PSDB, a compra colocará o Banco do Brasil em um raio de influência gigantesco. No quadrilátero formado pelas cidades de Santos, Ribeirão Preto, Botucatu e Taubaté, englobando outras 185 pequenas cidades, o PIB é maior do que o da Argentina e é forte a presença da Nossa Caixa.

Para o governo de São Paulo, os R$ 7 bilhões já teriam destino certo: a modernização dos serviços de metrô e trens urbanos, que englobam um investimento total de R$ 18 bilhões. "Quando Serra deixar o governo, em 2010, a infra-estrutura de transportes estadual estará pronta. Só precisará de manutenção periódica", afirmou o tucano.