Título: Brasil rejeita a negociação setorial exigida pelos EUA na Rodada Doha
Autor: Moreira , Assis
Fonte: Valor Econômico, 21/11/2008, Brasil, p. A2
Brasil, China e Índia resistiram ontem à nova demanda dos Estados Unidos por acordos setoriais específicos para eliminar tarifas em áreas industriais como maquinários, eletroeletrônicos, químicos e bens ambientais. A demanda de negociação setorial surge como o principal problema na área industrial para um acordo até o fim do ano na Rodada Doha, admitem negociadores.
Em consultas ontem na Organização Mundial do Comércio (OMC), os EUA insistiram que os acordos setoriais sejam definidos nas próximas semanas, no esboço de um eventual acordo.
Mas Brasil, China e Índia disseram que só vão examinar esse tipo de negociação, e em bases voluntárias, depois das modalidades de um entendimento estiverem definidas. Para os emergentes, esse tipo de iniciativa, que acelera a abertura, só deveria ser aceita pelos membros como "modalidade suplementar" e voluntariamente adotada por países interessados, na base de demanda e oferta.
No entanto, o vice-presidente da NAM, poderosa associação industrial dos EUA, continua a exigir a participação do Brasil e outros emergentes. "A participação nos acordos setoriais é voluntária e ninguém está esperando que economias pequenas ou frágeis assinem isso", afirmou em comunicado. "Mas se os grandes exportadores como Brasil, China e Índia não aderirem em setores chaves, simplesmente não há jeito de a Rodada Doha ir em frente."
O setor automotivo brasileiro foi o primeiro a reagir, advertindo ser "impensável em qualquer circunstância" aceitar acordo que reduziria dramaticamente as tarifas de importação rapidamente. "Setorial nem nos passa pela cabeça", afirmou Pedro Betancourt, da GM e diretor da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores, a Anfavea. "Quem está insistindo em setorial para carros é o Japão, que alega ter tarifa zero. Só que ninguém exporta carro para lá, pela complexidade (imposta pelos japoneses)." O setor automotivo argumenta que o Brasil, enquanto isso, mesmo com tarifa de importação de 35%, vai importar 400 mil carros só este ano.
O governo busca áreas industriais interessadas em liberalização mais acelerada com outros países. Até recentemente, os que manifestaram intenção nessa negociação foram produtores de mármore e joalheria.
Na área agrícola, as barganhas voltaram à mesa de negociações, ontem, sem muita resistência dos países a um limite de US$ 14,5 bilhões para os subsídios dos EUA que mais distorcem o comércio. Neste domingo, o diretor-geral da OMC, Pascal Lamy, reúne os principais países para ver se deflagra a negociação dita "horizontal", envolvendo as áreas agrícola e industrial, para facilitar as barganhas.