Título: Lobão admite mudar modelo de produção do etanol
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 21/11/2008, Brasil, p. A2

O governo brasileiro avaliará propostas de mudanças no atual modelo de produção do etanol no país, feitas por organismos ligados a movimentos sociais, ambientais e de direitos humanos. "Vamos ve­rificar o que há de procedente. Nesse caso, receberemos de ma­neira positiva, como contribuição. Quanto ao que não for procedente, daremos a devida satisfação a quem mandou o documento", dis­se o ministro das Minas e Energia, Edison Lobão, que participou da Conferência Internacional sobre Biocombustíveis, em São Paulo.

O documento, assinado por di­versas entidades, entre elas Via Campesina, Movimento dos Sem Terra (MST), Amigos da Terra, Confederação dos Trabalhadores da Agricultura (Contag), Central Única dos Trabalhadores (CUT), Intersindical, Plataforma BNDES, Action AID e Oxfam, foi elaborado durante um seminário parale­lo à conferência e contém um ma­nifesto de oposição ao modelo e à estratégia de promoção dos biocombusliveís brasileiros. O docu­mento também foi entregue ao secretário executivo da Secretaria ­Geral da Presidência da Repúbli­ca, Antônio Lambertucci e à sub-chefe adjunta da Casa Civil, Tereza Campello.

Segundo Lobão, o mundo está acordando para a necessidade e a utilidade dos biocombustíveis, e a conferência acaba com saldo muito positivo no que se refere ao apoio da comunidade internacional a esse tipo de produto. "Devemos caminhar fortemente nessa direção até com dados estratégicos para a manutenção da segurança energética do mundo."

O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, ressaltou que manifestações como essa são positivas na democracia. "Vamos ler e analisar a carta, discutir e, se for necessário fazer outra discussão com eles [movimentos] em outro contexto, faremos", afirmou.

Para ele, os entraves à produção e comercialização de biocombustíveis podem diminuir como resultado da reunião do G-20, ocorrida na semana anterior, em Washington, "Mesmo que sejamos bem-sucedidos", afirmou Amorim, "a luta não termina, porque o protecionismo sempre renasce e ameaça por meio de seus pretextos." Para o ministro do Desenvolvi­mento Agrário, Guilherme Cassel, a conferência expressa que há uma preocupação de todos com a produção de alimentos e a sustentabilidade ambiental na construção de outra matriz energética.

Como resposta à preocupação dos organismos ambientais, o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, afirmou que o zoneamento agroecológico está avançado e não haverá instalação de usinas de eta­nol na Amazônia ou em outra área de vegetação primária ou de produção de alimentos. Minc explicou que as áreas definidas excluem re­giões protegidas, áreas já usadas na produção de alimentos e impróprias por razões agrícolas. "Há toda uma preocupação em associar a produção à inclusão social e à geração de emprego e renda, inclusive complementando etanol com biocombustível", afirmou.

Ele observou que há 100 mil fa­mílias incorporadas na produção de biodiesel, hoje misturado ao biodiesel no percentual de 3%. A meta é que o biocombustível che­gue a representar 60% da matriz de transportes até 2010. No caso do etanol, a meta é que a produção cresça 11% ao ano. "Isso vai evitar uma emissão de 508 milhões de toneladas de gás carbônico no pe­ríodo de dez anos."