Título: Profissionais se organizam e vendem conhecimento
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 24/11/2008, Brasil, p. A9

Mais de 80% da receita do setor de serviços brasileiro tem origem no trabalho prestado por micro e pequenas empresas. Sem precisar de grandes investimentos e com o avanço tecnológico, muitas vezes elas são constituídas por profissionais que optaram por oferecer seus conhecimentos diretamente ao mercado.

A aposta em uma melhora dos resultados no comércio exterior brasileiro de serviços passa por essas empresas, que podem, além de garantir o ingresso de receitas na balança comercial, facilitar a entrada de novas empresas no Brasil.

Ivan Dannias aposentou-se aos 55 anos como diretor da Abbott Laboratórios do Brasil Ltda. Com 30 anos de experiência no setor farmacêutico e de alimentos, resolveu investir seu conhecimento em sua própria empresa: criou a Dannias Consultoria e Assessoria em Marketing, Vendas e Treinamento. No começo, em 1999, atendeu apenas clientes nacionais, mas já no ano seguinte chegou o primeiro cliente internacional: o indiano Torrent. Em 2002, depois dos serviços de consultoria prestados pela Dannias, o laboratório abriu a sua filial no Brasil, que hoje tem faturamento anual superior a R$ 150 milhões e mais de 300 representantes no país.

"Houve momentos em que mais de 70% do faturamento da Dannias era resultado de exportação, do atendimento a clientes estrangeiros", afirma o empresário. Segundo ele, que já trabalhou com outras empresas indianas, alemãs, argentinas e até de Dubai, a prestação de serviços para empresas do exterior é uma ótima oportunidade para quem atua na área de serviços. "Nossa mercadoria é o conhecimento. Com um bom contador e com o auxílio administrativo necessário, principalmente no começo, não há motivos para não ingressar nas vendas externas."

"O setor de serviços envolve basicamente idéias, sem fazer grandes exigências de equipamentos e investimentos", afirma Gilberto Campião, consultor em acesso a mercados do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de São Paulo (Sebrae-SP). São os casos dos segmentos de consultoria, design, turismo e educação. "Com a facilidade de acesso a outros mercados gerada pelos setores de telecomunicações e transportes, outros segmentos têm cada vez mais oportunidades de ingressar no mercado externo".

Para não descartar essa possibilidade, ele destaca a necessidade desses empresários se informarem sobre os aspectos burocráticos e administrativos junto ao próprio Sebrae que dá orientação gratuita. Para Gilberto Campião, a exportação de serviços tem grande potencial para colaborar com o ingresso de recursos no país. "Não só diretamente, mas por meio deles, empresas e profissionais estrangeiros passam a tomar conhecimento do país e há possibilidade de novas operações." (A. H.)