Título: PSB prepara-se para o pós-Lula e alerta que tem restrições a aliados
Autor: Costa , Raymundo
Fonte: Valor Econômico, 24/11/2008, Política, p. A10

Dono de uma candidatura presidencial competitiva, o PSB será o primeiro partido da aliança governista a discutir o pós-Lula, em reunião do Diretório Nacional marcada para os dias 10 e 11 de dezembro. Mas o encontro dos integrante do PSB, pelo menos até agora, não prevê a discussão de eventuais candidaturas para a eleição presidencial de 2010. Wilson Dias / Abr

Ciro: partido preocupa-se com redução da visibilidade nacional do seu principal nome para a disputa presidencial

A candidatura considerada competitiva do PSB é a do deputado Ciro Gomes, o segundo lugar nas pesquisas de opinião realizadas até agora - o primeiro é José Serra. Mas o PSB considera que, além de Ciro, também o governador Eduardo Campos (PE) e a deputada Luiza Erundina (SP) "fariam uma campanha digna", diz Roberto Amaral, vice-presidente nacional da sigla.

Por enquanto, o sentimento registrado no PSB é que o partido não se sente à vontade com algumas das atuais companhias do presidente Luiz Inácio Lula da Silva: "O PSB não irá com satisfação para uma coligação em que o vice seja do PMDB", diz o vice Roberto Amaral.

Ele lembra que Lula, em torno do qual sempre se formou a aliança do PSB e do PCdoB, não será mais o candidato do PT, o que ocorre pela primeira vez desde a redemocratização e o restabelecimento da eleição direta para presidente da República, em 1989. "Nós vamos enfrentar um fato novo, que é o pós-Lula", diz Roberto Amaral.

Em conversas com os presidentes do PT, Ricardo Berzoini, do PCdoB, Renato Rabelo, e o licenciado do PDT, o ministro Carlos Lupi, dirigentes do PSB têm manifestado preocupação com o fato de que a esquerda cresceu aritmeticamente, mas está perdendo o debate político para o que chamam de setores da direita. Principalmente no que se refere à atual crise econômico-financeira, que não estaria tendo, no país, o mesmo impacto verificado nos países desenvolvidos.

Um dos objetivos da reunião do Diretório Nacional, no Recife, será fazer uma "reflexão acumulada" sobre a crise econômica. Além dos dirigentes do PSB, o partido pretende convidar especialistas de escolas diversas para fazer a crítica da crise. Os nomes ainda não foram divulgados, pois os pessebistas ainda aguardam a compatibilização das agendas dos convidados. O PSB também quer levar a discussão para dentro das universidades.

Na seqüência, a discussão será o "pós-Lula", expressão usada pela primeira vez pelo governador Aécio Neves para designar uma nova aliança política, mas que na reunião do PSB expressa uma série de questionamentos que os partidos começam a se fazer em relação ao futuro sem o presidente Lula na cabeça de chapa: qual a ossatura do lulismo? Acaba o Bolsa Família e fica o quê? O que ela significou para a politização das massas?.

Dos três partidos que formam o núcleo da aliança de esquerda em torno do PT, só o PCdoB ganhou em número de votos, nas eleições para prefeito das capitais, um crescimento de 60% em relação a 2004. O PSB perdeu 21% do número total de votos, e o PDT, 70%. O PT também perdeu 14% dos votos nas capitais. Mas todos cresceram em número de prefeituras (grandes colégios, os resultados nas capitais interfere significativamente no total de votos dos partidos - o DEM, por exemplo, ficou com menos prefeituras, mas teve 19% a mais de votos graças à eleição de Gilberto Kassab, em São Paulo).

Muito embora queira evitar a discussão sobre candidaturas, o PSB está preocupado com a "fossa" de Ciro Gomes, que sumiu do noticiário após as eleições. A avaliação é que o deputado perdeu uma excelente oportunidade de fazer campanha em todo o país, mantendo acesa uma chama que ele acendeu em 1998, quando ficou em terceiro lugar na eleição que reelegeu Fernando Henrique Cardoso (Lula foi o segundo).

Em vez disso, Ciro Gomes concentrou suas energias na cidade de Fortaleza, onde apoiou a candidatura da ex-mulher, a senador Patrícia Saboya. Ela perdeu a eleição, o que os adversários de Ciro logo passaram a interpretar como o início de um declínio de um político vencedor, que já governou Fortaleza, o Estado, duas vezes ministro da República e o deputado federal mais votado da história do Ceará.