Título: Escolha de candidato a 2010 afeta disputas internas do PSDB
Autor: Lyra , Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 24/11/2008, Política, p. A11

A escolha do candidato à Presidência da República estará no centro das decisões que o PSDB tomará em 2009 e deverá afetar pelo menos outras duas disputas internas. Deputados ouvidos pelo Valor, avaliam que a definição do candidato da legenda à Presidência - entre os governadores de São Paulo, José Serra, e de Minas, Aécio Neves - terá reflexos consideráveis sobre as escolhas dos nomes que ocuparão uma vaga - provavelmente a vice-presidência - na Mesa Diretora da Câmara e na liderança da bancada. Pedro Silveira / O Tempo / Folha Imagem - 30/10/2008

Serra e Aécio: tucanos torcem para que governadores não se atropelem mutuamente para superar atritos internos

No primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, São Paulo e Minas disputavam o direito de liderar os deputados em plenário. A partir de 2006, um acordo de procedimentos definiu que a vaga na Mesa seria dos mineiros e a liderança caberia aos paulistas. Nada que não possa ser alterado. "Não há nenhum acordo escrito sobre isso", alertou o líder do PSDB na Câmara, José Aníbal (SP), cuja liderança se encerra no início do próximo ano.

Apesar de serem dois postos considerados estratégicos, a duração dos respectivos mandatos é diferente. Quem for indicado pela bancada para a Mesa Diretora ficará lá de fevereiro de 2009 a fevereiro de 2011. O futuro líder, no entanto, terá que passar o bastão em fevereiro de 2010. Se a atual regra for mantida, Aécio teria um aliado seu assegurado na Mesa por dois anos. Já Serra enfrentaria uma situação um pouco mais delicada.

O PSDB paulista vem rachado desde 2002, quando Serra foi candidato a presidente, e a divisão de aprofundou em 2006, quando o ex-governador Geraldo Alckmin concorreu com Lula, tomando a vaga de Serra, que estava melhor situado nas pesquisas. A cizânia se agravou nas eleições municipais, quando Serra, que preferia apoiar o, agora, prefeito reeleito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM), foi derrotado dentro do partido, que decidiu pela candidatura própria, novamente de Alckmin. O governador paulista poderia emplacar um aliado na liderança no ano que vem, mas correria o risco de ver um líder em 2010, quando a campanha presidencial ocorrerá de fato, não tão alinhado a ele.

E caso abra mão de indicar um líder no ano que vem, perderá um posto de poder no momento em que o nome do candidato será escolhido pelo partido. Por tudo isso, a bancada torce para que os dois governadores se envolvam o mínimo possível. Mas não há como negar que São Paulo e Minas vão comandar esse debate. "Estamos reféns desta disputa, são as duas maiores bancadas estaduais do PSDB", reconheceu o deputado Gustavo Fruet (PR).

O deputado paranaense até desfruta de bom prestígio interno - em 2007, chegou a ser lançado candidato do partido à presidência da Casa, durante a eleição vencida pelo petista Arlindo Chinaglia (PT-SP). Mas rende-se aos números - Minas tem 7 deputados e São Paulo, 18. "Destes, entre 7 e 9 são ligados diretamente a Serra. Mas acho que depois da disputa municipal, a tendência é que os tucanos paulistas se unam em torno do governador paulista", acredita o tucano paranaense. Um tucano mineiro reforça o coro de Fruet. "Se essa questão (briga entre serristas e alckmistas) fosse colocada há dois, três meses, seria de fato motivo para preocupação. Hoje, a divisão interna na bancada paulista não é tão acentuada assim", declarou o parlamentar.

Como estratégia política, no entanto, questiona-se qual vaga seria maior objeto de cobiça. A opinião geral é de que a liderança é mais importante do que a Mesa Diretora. "O cargo na Mesa é mais burocrático, para dentro, institucional. O líder é político, dialoga pela legenda com os demais partidos da oposição, eventuais aliados e a sociedade", definiu Fruet.

Ex-líder do governo durante a gestão Fernando Henrique Cardoso, o deputado Arnaldo Madeira (SP) disputou a liderança da bancada neste ano, mas foi derrotado por José Aníbal. Ele é taxativo ao afirmar que 2009 é o ano decisivo para as pretensões eleitorais do partido. Mesmo assim, acha que nem Aécio nem Serra vão se atropelar mutuamente nas disputas pela liderança e pela Mesa Diretora. "Eles não vão se expor assim", acredita Madeira.

Outros compartilham da esperança de um grande acordo político para evitar ainda mais constrangimentos ao partido. Serrista convicto, o deputado Jutahy Júnior (BA) assegura que um entendimento será costurado. "Não haverá disputa, vamos encontrar os nomes de consenso", assegurou. Ele tem histórico de divergência com o partido: chegou a criticar abertamente o candidato à Presidência, na época, Fernando Henrique Cardoso, por ter fechado um acordo, em 1993, com o então PFL de Antonio Carlos Magalhães (BA). Jutahy e ACM eram adversários ferrenhos.

"O cenário atual pode parecer complexo, mas temos que, neste momento, trabalhar a harmonia interna e escolher nomes que tragam unidade ao partido", completou o deputado Otávio Leite (RJ). O líder José Aníbal talvez reflita bem essa necessidade de conciliação política: alckmista confesso, mantém diálogo político com Serra. Ele aposta no bom senso dos governadores de São Paulo e de Minas para diminuir os atritos internos desnecessários.

Na opinião do líder, todo o esforço deve ser voltado para fortalecer a musculatura partidária diante dos desafios que estão por vir. "Os dois - Aécio e Serra - têm clareza de que não podemos brigar nesse momento". A razão é clara: apesar da crise internacional que diminuirá o ritmo de crescimento do país, Lula ainda terá capital político considerável para queimar em 2010.