Título: Obama anuncia equipe econômica
Autor: Balthazar , Ricardo
Fonte: Valor Econômico, 24/11/2008, Internacional, p. A13

O presidente eleito Barack Obama anunciou que está preparando um plano ambicioso para tirar os Estados Unidos da recessão e apresentará hoje a escalação completa da equipe econômica do seu governo, numa tentativa de conter a nova onda de nervosismo que engolfou os investidores na semana passada.

O próximo secretário do Tesouro dos EUA será Timothy Geithner, o atual presidente do Federal Reserve de Nova York, o mais poderoso dos braços regionais do banco central americano. O ex-secretário do Tesouro Lawrence Summers será o diretor do Conselho Econômico Nacional, principal órgão de assessoria da Casa Branca nessa área.

Obama só tomará posse na presidência dos EUA em 20 de janeiro, mas a deterioração da conjuntura econômica e a fragilidade do sistema financeiro têm alimentado pressões para que ele defina logo a composição de sua equipe e indique logo as medidas que adotará quando começar a governar.

Num programa de rádio semanal do Partido Democrata, Obama anunciou no sábado que seus assessores estão preparando um pacote de estímulo econômico capaz de gerar 2,5 milhões de empregos nos primeiros dois anos de mandato, com investimentos em obras públicas e no desenvolvimento de fontes alternativas de energia.

Obama não ofereceu detalhes, mas alguns de seus principais assessores indicaram ontem que ele gostaria que o Congresso começasse a trabalhar logo com o assunto para assegurar a aprovação do pacote pouco depois da posse. Eles também sugeriram que o plano envolverá centenas de bilhões de dólares em investimentos do governo nos próximos dois anos.

Na reta final da campanha eleitoral, Obama defendeu um pacote de US$ 175 bilhões para reanimar a atividade econômica, com características semelhantes às que ele descreveu sábado. "A economia piorou muito desde então", disse ontem à rede de TV "CBS" Austan Goolsbee, principal assessor econômico de Obama na campanha.

Nas últimas semanas, os democratas chegaram a estudar no Congresso pacotes de estímulo de até US$ 300 bilhões, mas o presidente George W. Bush e o Partido Republicano se manifestaram contra a iniciativa, e os democratas engavetaram seus planos ao concluir que não teriam força para derrubar um veto da Casa Branca agora.

Ao escolher Summers e Geithner para os dois postos mais importantes de sua equipe econômica, Obama procurou transmitir aos investidores vários sinais tranqüilizadores. Ele optou por dois tecnocratas experientes e respeitados, que conhecem o funcionamento da máquina do governo e poderão entrar em ação rapidamente após a posse.

Summers e Geithner trabalharam juntos no Tesouro no governo Bill Clinton e participaram ativamente dos esforços que os EUA e o Fundo Monetário Internacional (FMI) fizeram para conter as crises financeiras que assolaram diversos países asiáticos, a Rússia e o Brasil no fim da década de 90.

Summers, economista de 53 anos, que dá aulas na Universidade Harvard e é considerado brilhante pelos colegas, conheceu Obama na campanha eleitoral e tornou-se um dos seus conselheiros mais influentes. Ele defende há meses o uso de recursos do governo para reanimar a economia e evitar uma recessão muito profunda.

Aos 47 anos, Geithner tem a idade de Obama. Como presidente do Fed de Nova York, participou da discussão e da implementação de todas as medidas adotadas pelos EUA para estabilizar o sistema financeiro nos últimos meses, e em vários momentos defendeu iniciativas mais agressivas do que as aceitas pelo atual secretário do Tesouro, Henry Paulson.

No início de outubro, o Congresso americano aprovou um pacote de US$ 700 bilhões para socorrer bancos e outras instituições financeiras com dificuldades. Paulson já empenhou cerca de US$ 290 bilhões desses recursos e na semana passada disse que pretendia deixar o resto para seu sucessor no Tesouro usar como achar melhor.

A declaração de Paulson provocou tanta confusão nos mercados que no fim da semana ele recuou e indicou que iria estudar novas medidas. A confirmação da escolha de Geithner para ocupar seu lugar poderá acelerar a discussão dessas medidas e diminuir a insegurança dos investidores.

Além de Geithner e Summers, Obama deverá anunciar hoje que Goolsbee será o presidente do Conselho de Assessores Econômicos da Casa Branca, um colegiado de caráter mais acadêmico e menos influente no dia-a-dia do que o órgão que Summers irá dirigir. Goolsbee, da Universidade de Chicago, assessora Obama desde o lançamento de sua candidatura.