Título: Pólo de Corumbá teme desemprego
Autor: Manechini , Guilherme
Fonte: Valor Econômico, 24/11/2008, Empresas, p. B8
A crise financeira internacional desembarcou em Corumbá (MS), principal município brasileiro fronteiriço com a Bolívia, para mudar temas já batidos nas rodas de conversa. Com a turbulência global, saem de pauta o turismo pantaneiro, o tráfico de drogas e o calor infernal. No lugar, entra em cena o risco de desemprego resultante da redução de projetos de mineração, principal atividade econômica da cidade e região, que emprega diretamente cerca de 7 mil pessoas. Eronemo Barros / A Critica de Campo Grande
Ruiter Cunha de Oliveira, prefeito de Corumbá: reunião com as empresas
As férias coletivas ou a suspensão de contratos de trabalho já começaram, e as mineradoras vão se reunir amanhã com o prefeito de Corumbá, Ruiter Cunha de Oliveira (PT/MS), para atualizá-lo sobre os impactos da crise na produção. Três grandes mineradoras estão instaladas na cidade. São elas: MMX, Vale do Rio Doce e Rio Tinto. Por enquanto, nenhuma delas anunciou demissões, ao contrário de algumas de suas prestadoras de serviços.
No caso mais comentado no município, o da MMX, um acordo com o Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Extrativas de Corumbá assegurou o emprego de cerca de 620 funcionários até março do ano que vem. A empresa de Eike Batista suspendeu temporariamente as operações da mineradora e siderúrgica, além da unidade florestal, responsável pelo abastecimento de carvão.
Como contrapartida, ofereceu aos seus empregados cursos técnicos durante este período e garantiu a manutenção integral dos salários. Cassiano de Oliveira, presidente do sindicato, considerou satisfatório o resultado da negociação entre a empresa e os trabalhadores. "A grande preocupação é com o término do prazo, mas na pior das hipóteses os trabalhadores estarão mais preparados", ponderou o sindicalista.
Procurada pelo Valor, a MMX informou que o prazo inicial da suspensão de contratos é de dois meses, podendo ser renovado por mais dois. Já o retorno das atividades, segundo a empresa, vai depender de como o mercado vai se comportar durante este período. Antes da crise, o plano da MMX era de produzir 6,3 milhões de toneladas de minério de ferro em 2008.
Pessimista e apreensivo sobre a atual situação da mineradora, o prefeito Ruiter Cunha de Oliveira considera "improvável que a MMX retome suas operações". Apesar da descrença, o prefeito de Corumbá acredita que a siderúrgica da companhia, com 350 funcionários, possa ser comprada por outra empresa. Neste sentido, a compradora mais provável seria a Arcelor Mittal, que comprou em agosto 49% da MPP.
"Temos visto outras empresas sinalizando interesse em aportar em Corumbá", declarou o prefeito, ao ressaltar o investimento recente da Arcelor Mittal no município.
Na Vale, o presidente do sindicato contou que, na segunda-feira passada, a direção da mineradora comunicou que dará férias coletivas a 308 empregados a partir do dia 8 de dezembro, enquanto outros 77 funcionários continuarão trabalhando. Em nota, a Vale informou que está dando prioridade ao seus funcionários, mas que "evidentemente, ajustes ao quadro de empregados são necessários". Além do minério de ferro, a Vale explora manganês na região.
Em relação à Rio Tinto, o presidente do sindicato disse ainda não ter sido informado sobre uma possível redução de produção, que não a causada pela época de estiagem do Rio Paraguai, principal meio de escoamento do minério. Mesmo esta ainda não foi confirmada. A estiagem também impacta o escoamento das outras mineradoras. Sem a possibilidade de utilizar a hidrovia, as alternativas são ferrovias ou caminhões, o que encarece o custo de frete.
Segundo Sergio Visconti, gerente-geral de recursos humanos, comunicação e relações com comunidades da Rio Tinto, a companhia só comunicou a redução de 10% de sua produção na Austrália, onde está a matriz. "No ano passado, em Corumbá, demos férias coletivas por conta da estiagem, mas avisamos com mais de 30 dias de antecedência", ressaltou o executivo.
Depois da arrecadação de ICMS relativa ao volume de gás natural boliviano, creditada em Corumbá pela Petrobras, a mineração constitui a principal fonte de receita do município. Ruiter de Oliveira estima que 10% do PIB seja referente ao segmento, enquanto 80% vem do gás. Conforme os dados do IBGE, o PIB de Corumbá em 2005 foi de R$ 1,49 bilhão, e a população em 2007 era de 96.373 habitantes.
Sobre a reunião de amanhã com as mineradoras, o prefeito torce para que sejam apresentadas alternativas para o cenário adverso ao município. "Espero que ainda tenhamos uma boa solução. O ideal seria a retomada das produções após o período de férias coletivas e a ratificação do plano de expansão da Rio Tinto [que projeta R$ 2,1 bilhões em investimentos]", disse.
Com o programa da Rio Tinto, Oliveira crê na absorção de funcionários de empresas terceirizadas e de possíveis demitidos de outras mineradoras. O plano da companhia prevê um salto de produção de 2 milhões de toneladas para 22,3 milhões até 2014.
A situação das empresas prestadoras de serviços é tida como a mais grave. Luis Ferreira, proprietário da Hidrator, empresa de manutenção, conta que só não demitiu 13 funcionários que estavam na MMX por causa de um outro serviço na Rio Tinto.
"Por sorte não tive de dispensá-los, mas em outras empresas as dificuldades são maiores", disse Ferreira, ao citar como exemplos a Preserv, Semmar e MWI. Na transportadora e operadora logística Julio Simões, a espera também é pela definição da MMX. Em comunicado, a empresa informou estar negociando uma mudança no escopo do serviço prestado durante o período de férias para que as demissões sejam amenizadas.