Título: Três não se apresentaram
Autor: Brito, Daniel; Menezes, Leilane
Fonte: Correio Braziliense, 12/02/2010, Cidades, p. 21

Das seis pessoas que tiveram a prisão decretada ontem, uma já estava detida e duas foram à PF: o próprio governador e seu ex-secretário

Cinco pessoas, além do governador José Roberto Arruda, tiveram a detenção decretada na histórica decisão de ontem do Superior Tribunal de Justiça (STJ). O ministro Fernando Gonçalves aceitou os pedidos de prisão preventiva do ex-secretário de Comunicação do GDF Weligton Moraes; do ex-diretor da Companhia Energética de Brasília (CEB) Haroaldo Brasil de Carvalho; do suplente de deputado distrital Geraldo Naves (DEM); do ex-secretário particular do governador Rodrigo Arantes; e do conselheiro fiscal do Metrô do DF Antonio Bento. Este já estava detido na Papuda desde 4 de fevereiro, quando foi flagrado pela Polícia Federal após entregar R$ 200 mil ao jornalista Edson Sombra. Sombra é testemunha-chave na Operação Caixa de Pandora, deflagrada pela Polícia Federal em 27 de novembro de 2009.

O dinheiro entregue por Bento faria parte de um suposto acordo segundo o qual Sombra deveria dizer em depoimento à PF que os vídeos gravados pelo ex-secretário de Relações Institucionais do GDF Durval Barbosa ¿ implicando vários políticos, inclusive Arruda ¿ haviam sido manipulados. O jornalista é apontado como grande incentivador para que Barbosa tornasse público um suposto esquema de corrupção no governo. Todos os que tiveram a prisão decretada ontem foram denunciados por Sombra.

Rodrigo Arantes se apresentou ontem na Superintendência da PF, no Setor Policial Sul (SPS), por volta das 20h30. Moraes, Naves e Carvalho anunciaram que iriam espontaneamente à sede da polícia, mas não tinham se apresentado até o fechamento desta edição.

Interlocutores

Sombra afirmou que as supostas tentativas de negociação com Arruda e Edson Sombra teriam sido intermediadas, em um primeiro momento, pelo então deputado distrital Geraldo Naves (DEM). Ele é apontado como a pessoa que lhe entregou um suposto bilhete de Arruda. A nota foi apresentada por Sombra à PF para comprovar a pressão sofrida para alterar seu depoimento na Operação Caixa de Pandora.

Naves admitiu a entrega do bilhete em nome do governador, mas alegou que o recado de Arruda tinha o objetivo apenas de tranquilizar o jornalista, que temia uma queda no número de anúncios publicitários do GDF em seu jornal. Naves deixou o cargo de deputado distrital, que ocupava como segundo suplente, em 5 de fevereiro. A Justiça, porém, entendeu que Naves também tentava dificultar o trabalho de investigação da polícia.

O ex-secretário de Comunicação do Governo do Distrito Federal Weligton Moraes também é acusado por Sombra de ser um dos interlocutores da suposta tentativa de suborno. Ele teria telefonado e ido à casa de Sombra para tratar do pagamento, segundo o denunciante. Moraes negou qualquer tipo de negociação com Sombra, mas saiu oficialmente do cargo após a denúncia.

Sobrinho de criação

Apesar de ser apresentado como sobrinho de José Roberto Arruda, Arantes é filho de um amigo do governador afastado. Devido à proximidade das duas famílias, ambas de Itajubá (MG), Arruda o escolheu para ser seu secretário particular. Era Arantes quem ficava com os celulares do governador e transmitia os recados. Leal a Arruda, só executava tarefas pedidas pelo chefe. É casado e mora em Águas Claras com a mulher, que está grávida. O secretário particular é acusado de repassar os R$ 200 mil que seriam entregues a Sombra para Antônio Bento. Ele também nega qualquer participação no suposto suborno. O GDF, aliás, sempre afirmou que a tentativa de suborno foi uma armação.

Há oito dias na Papuda, Bento trabalhava no jornal O Distrital, pertencente a Sombra. Era membro do Conselho Fiscal do Metrô DF. Ele seria a pessoa de confiança que ligaria Arruda ao jornalista. Em depoimento, disse que o dinheiro havia sido entregue a ele na festa de aniversário de um dos filhos de Haroaldo Brasil de Carvalho, ex-diretor da CEB. Formado em economia, Bento foi parceiro de Arruda nos tempos em que o governador afastado trabalhava na companhia energética. Haroaldo havia entrado em contato com Sombra para entregar-lhe a quantia combinada nos encontros prévios com Moraes e Naves.

Quem é quem

Weligton Moraes

Ex-secretário de Comunicação do GDF e um dos acusados de intermediar a suposta tentativa de suborno ao jornalista Edson Sombra. Atuou no mesmo cargo na gestão de Joaquim Roriz e foi mantido no emprego por Arruda. Um dos amigos mais próximos de Durval Barbosa, delator do suposto esquema de corrupção no GDF, afastou-se do parceiro e manteve o apoio a Arruda. Deixou o governo na semana passada.

Geraldo Naves (DEM)

Apresentador do programa Barra Pesada, com histórias policiais, ele ingressou na política em 2006, como segundo suplente do DEM. Teria sido o primeiro emissário de Arruda a Sombra, tendo inclusive entregue um bilhete escrito à mão pelo governador afastado. Era considerado um dos principais aliados do governador na Câmara. Assumiu a presidência da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) antes do episódio do suborno.

Antônio Bento

Membro do conselho fiscal do Metrô DF desde 2007, era amigo e funcionário de Edson Sombra no jornal O Distrital. É apontado como emissário do governador Arruda na suposta tentativa de suborno a Sombra. Foi flagrado pela PF após ter entregue R$ 200 mil em uma sacola ao jornalista. Detido na semana passada, teve ontem a prisão preventiva decretada.

Rodrigo Arantes

Sempre ao lado do governador, era o secretário particular de Arruda. Rodrigo Arantes portava celulares de Arruda e se encarregava de transmitir os recados. É considerado uma pessoa da família de Arruda e do ex-chefe da Casa Civil José Geraldo Maciel. Pela proximidade, é tratado como sobrinho do governador. Teria sido o responsável por entregar a Antônio Bento da Silva os R$ 200 mil que seriam dados a Sombra.

Haroaldo Brasil de Carvalho Homem de confiança de Arruda na Companhia Energética de Brasília (CEB). Trabalhava com Arruda, à época em que este era engenheiro da estatal, há duas décadas. Não foi filmado pelo jornalista Edson Sombra, mas é citado por Antônio Bento em depoimento à Polícia Federal.