Título: Governo vai manter estímulos à economia
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 25/11/2008, Brasil, p. A3

A estratégia do governo para enfrentar os efeitos da crise financeira sobre a economia real será a atuação em setores específicos, que enfrentavam ou enfrentam grandes dificuldades, mas são grandes empregadores, explicou, ontem, o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Nessa lista aparecem o setor agrícola, a construção civil e o setor automobilístico que, na visão de Mantega, representam 24% a 25% do PIB brasileiro. Wilson Dias/Abr

Guido Mantega, ministro da Fazenda, em entrevista após reunião ministerial na Granja do Torto: crédito melhorou

Mantega apresentou sua visão da crise aos demais ministros durante a reunião ministerial, na Granja do Torto, e negou que o governo vá lançar qualquer tipo de pacote econômico para enfrentar os problemas. Disse que a estratégia foi e continuará sendo de atuação pontual e setorial e que o governo mantém a previsão de alcançar um crescimento de 4% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2009.

"Não deixaremos a desaceleração se instalar no Brasil. O governo tomará as medidas necessárias, monetária e fiscal, para alcançar a meta de 4% por cento (de crescimento) em 2009", declarou. De acordo com o ministro, o governo também está focado na manutenção dos investimentos privados e públicos (especialmente o Programa de Aceleração do Crescimento, o PAC). "Vamos manter os investimentos e vamos continuar criando condições para estimular o investimento privado de várias maneiras. Pode ser a redução de impostos, se necessário for", afirmou o ministro. "Temos um arsenal grande de medidas", disse.

Para atender aos setores não contemplados com medidas específicas, o ministro da Fazenda ressaltou que o BNDES destinou R$ 10 bilhões para assegurar o capital de giro para micro e pequenas empresas e o Banco do Brasil reservou outros R$ 5 bilhões para o mesmo fim. "Não haverá pacotes, vamos continuar mantendo nossas políticas. A safra 2008/2009 está garantida e nossas informações mostram que será tão boa quanto a safra de 2007/2008", disse ele.

Segundo avaliação do governo, a crise, que começou no setor financeiro, já afeta a economia como um todo, especialmente nos EUA e países da zona do euro. No caso do Brasil, Mantega afirmou que o volume de crédito brasileiro está num patamar de 80% se comparado ao volume de recursos emprestados antes da escassez de liquidez mundial. Mantega destacou que o governo tem tomado todas as medidas para evitar o empoçamento, mas que os pequenos e médios bancos ainda não conseguiram retomar o volume de empréstimos anteriores. "Eles venderam suas carteiras, conseguiram se estabilizar, mas ainda não tiveram força para retomar o ritmo de liberações de recursos", disse ele.

Segundo Mantega, o Banco Central vai divulgar relatório mostrando que, após severa crise de crédito em outubro, os recursos começam, este mês, a se normalizar. "Posso falar especificamente do Banco do Brasil, que apresentou aumento de 4,5% no volume de empréstimos", destacou o ministro. Segundo Mantega, em um primeiro momento os bancos não emprestavam recursos, porque não tinham certeza do que ocorreria no cenário internacional, mas que, aos poucos, a confiança começou a ser restabelecida. O ministro reconhece, no entanto, que ainda há escassez de crédito externo, especialmente voltado para exportadores.

Em discurso aos ministros, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que o país vai conseguir enfrentar a turbulência, mas "com alguns arranhões". Lula também disse que o mundo precisa ficar atento ao movimento da China, que adotou forte política anticíclica - um pacote de ajuda à economia nacional na ordem de US$ 600 bilhões. Segundo Mantega, é um esforço considerável, já que esse montante representa 12% do PIB chinês. Lula também destacou que 2009 será um ano de recessão para grande parte do mundo, mas que o Brasil sofrerá apenas uma desaceleração. "Mesmo assim, cresceremos 4% e não 1,5%, 2% como muitos dizem por aí", afirmou o ministro da Fazenda.

Durante a reunião, Lula e o ministro da Fazenda destacaram a importância de o governo ter lançado, em janeiro de 2007, o PAC, que manteve em alta o ritmo de investimentos em setores como infra-estrutura e energia. "O PAC foi uma espécie de programa anticíclico por antecipação. Julgamos que acelerar o crescimento seria uma forma de manter mais sólidos os fundamentos econômicos brasileiros", explicou Mantega. Lula disse aos ministros que eles devem manter o ritmo de obras. "O PAC e os programas sociais estão mantidos. Se houver necessidade de cortes, eles serão feitos no custeio", afirmou o ministro.

Dentre as possíveis medidas econômicas a serem adotadas, Mantega informou que aproveitará uma reunião sobre reforma tributária com governadores do Nordeste, na quinta-feira, para apresentar a proposta de adiamento, por 60 dias, do recolhimento do Simples. A sugestão foi feita na semana passada ao governador de São Paulo, José Serra, que a aceitou prontamente.