Título: Gás natural fica mais caro que óleo
Autor: Goulart , Josette
Fonte: Valor Econômico, 25/11/2008, Empresas, p. B1
A queda brusca do preço do petróleo no mercado internacional vai fazer com que o óleo combustível fique mais barato que o gás natural nacional se a Petrobras não renegociar com as distribuidoras. Empresas já começam a colocar na ponta do lápis a previsão desses custos para 2009 e estudam migrar para o consumo de óleo combustível. Um estudo da consultoria Gás Energy mostra que nos estados onde o preço do gás é repassado imediatamente para a tarifa do consumidor pelas distribuidoras o insumo já está mais caro que o óleo e assim vai permanecer ao longo do próximo ano. Em São Paulo, a pressão do custo é toda absorvida pela Comgás, que tem seu reajuste feito anualmente e já pediu revisão extraordinária das tarifas para o governo estadual.
Essa distorção, em que cai o preço do petróleo mas sobe o preço do gás natural, acontece por causa da fórmula que está sendo aplicada pela Petrobras para precificar o gás. Além de ter uma parcela fixa, em média em torno de US$ 2,5 por milhão de BTU (British Thermal Unit, unidade que mede o poder calorífero do gás), existe uma parcela variável que leva em consideração uma cesta de óleos, indexada a uma média trimestral do preço do petróleo.
De acordo com o presidente da Associação Brasileira dos Grandes Consumidores de Energia (Abrace), Ricardo Lima, em novembro está sendo feito um reajuste que leva em consideração o preço do petróleo no mercado internacional dos meses de julho, agosto e setembro. Esse foi justamente o período em que o barril do petróleo chegou aos seus preços mais elevados, quase chegando à casa dos US$ 150 por barril. Nas contas das indústrias ligadas à Abrace, o reajuste de novembro vai significar um aumento de 30% nos preços do gás natural no mercado nacional.
Para se ter uma idéia do descolamento, na semana passada, o barril chegou a fechar abaixo dos US$ 50, valor que só será refletido em fevereiro do próximo ano quando um novo ajuste trimestral é concedido e leva em conta os preços do petróleo dos meses de outubro, novembro e dezembro. E não só o preço do gás nacional segue essa média móvel como também o preço do gás boliviano, pressionando a indústria do Sul do país que recebe o gás diretamente da Bolívia.
O descolamento com o preço do petróleo no mercado internacional levou a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) a pedir à Petrobras que reconsidere a fórmula de calcular o preço do gás. O gerente da área de infra-estrutura da Firjan, Cristiano Prado, disse que a indústria fluminense já teve um reajuste entre 6% e 9% neste mês e essas tarifas maiores estão tirando a competitividade em um momento delicado de crise internacional. "Não faz sentido aumentar o preço agora, em um momento de crise, já que é sabido que haverá uma queda no futuro", diz Prado.
Já em São Paulo, quem ainda está absorvendo esse custo maior é a própria companhia de gás. O vice-presidente de suprimento de gás da Comgás, Sérgio Luiz da Silva, explica que em função das regras estaduais existe apenas um reajuste de tarifas para os consumidores paulistas que é feito no dia 31 de maio de cada ano. Este ano, quando o governo autorizou o reajuste, foi levado em consideração um barril do petróleo cotado a US$ 88 e um dólar de R$ 1,75. Em função da média móvel semestral, o custo do barril do petróleo que está sendo refletido nos preços que a Comgás paga para a Petrobras gira em torno de US$ 100. O dólar é ainda mais nocivo nessa conta, segundo Silva, porque a fatura leva em conta o dólar do dia e esse chegou a R$ 2,40 em desembolsos da companhia. Juntando os dois fatores, os preços do gás para a Comgás subiram 40% neste ano. Há dois meses a empresa pediu uma revisão extraordinária de tarifa para o governo estadual. Mesmo que o governo não conceda essa revisão extraordinária, esse custo fatalmente irá para a tarifa em maio do próximo ano.
Toda essa pressão no preço do gás natural está fazendo com que algumas empresas de grande porte pensem na possibilidade de migrar para o consumo de óleo combustível, segundo o presidente da Abrace, Ricardo Lima. O consultor Marco Tavares, da Gas Energy, diz que no mês de dezembro o preço do gás natural vai ultrapassar o do óleo combustível em função da fórmula da Petrobras para o cálculo do gás. Até o fim do próximo ano, segundo estudo da Gás Energy, o preço do gás natural ficará mais alto que o óleo combustível, levando em consideração um barril de petróleo em torno de US$ 60. Se o preço do frete e do custo de distribuição for levado em consideração, o gás natural se mantém em níveis mais elevados (cerca de US$ 2 mais caro) que o óleo ao longo dos próximos três anos. A Petrobras foi procurada mas a diretora responsável não estava disponível para entrevista, segundo informou a assessoria de imprensa