Título: Crise retarda internacionalização da CNEC
Autor: Ribeiro , Ivo
Fonte: Valor Econômico, 25/11/2008, Empresas, p. B9
O plano de internacionalização da CNEC, empresa de engenharia e projetos do grupo Camargo Corrêa, terá de ser postergado, pelo menos na dimensão em que estava desenhado, por conta da crise econômica mundial. Com 50 anos de atividades, a empresa pretendia ganhar contratos em quatro países no próximo ano, mas essa expectativa foi reformulada. "Continuo otimista, acreditando que vamos conseguir pelo menos um contrato no exterior em 2009", afirma José Ayres de Campos, presidente da companhia. Ana Paula Paiva/Valor
Ayres, presidente: "Acredito que antes de 2012 a crise estará superada e poderemos atingir a meta de duplicar a CNEC"
O nome CNEC é uma sigla de Consórcio Nacional de Engenheiros Construtores, adotado ao ser criada, em 1959, por um grupo de engenheiros da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Dez anos depois, passou ao controle da Camargo Corrêa.
Os planos da empresa previam iniciar operações no Peru, Argentina, em Angola e Moçambique no próximo ano. "Trata-se de uma atuação estratégica para a empresa, que tem um amplo expertise principalmente no campo de geração de energia", afirma.
A CNEC vivia uma trajetória de crescimento acelerado, beneficiada pelo programa de investimentos em curso no país a partir de 2005 até o baque da crise. "Até 2004, éramos uma empresa com receita anual de R$ 29 milhões", comenta. Tinha 250 funcionários e hoje o quadro soma 1,1 mil, sendo 780 com nível universitário (engenheiros, arquitetos, biólogos, arqueólogos, economistas). Mas um dos pilares de sua expansão, em média de 12% ao ano, sofreu mais rapidamente o impacto da crise: a área de commodities metálicas.
Mineração e metalurgia passaram a pesar na receita da empresa com o desenvolvimento de projetos para minas de ferro, bauxita, níquel, alumínio, cobre, entre outros. Passou a representar 30% da receita, que deverá fechar 2008 em torno de R$ 200 milhões. "O preços das commodities desabaram e, com isso, muitos projetos foram paralisados e outros estão sendo adiados", informou Ayres.
O peso dessa área, com o replanejamento de investimentos, deve cair para cerca de 15% no próximo ano. Mesmo assim, o executivo acredita que a CNEC poderá atingir receita de R$ 210 milhões.
Os projetos ligados a petróleo e gás que tinham participação similar, estima ele que vão ampliar sua fatia para 45%. A CNEC participa de diversas concorrências da Petrobras - de refinarias de petróleo, como Comperj e Abreu de Lima (Suape-PE) até em unidades petroquímicas. E principalmente a exploração das reservas dos campos gigantes do pré-sal.
Para Ayres, será fundamental o governo dar continuidade aos projetos de infra-estrutura do país. Um setor onde vê que grandes obras serão mantidas é o de geração de energia. Ele menciona as usinas de Belo Monte, Tapajós e Parnaíba, entre outras, que deverão dar continuidade as estudos de viabilidade para implantação dos projetos no futuro. Um terço (35%) do faturamento deverá vir de contratos no negócio energia.
"Acreditamos que antes de 2012 os efeitos da crise estarão superados", afirma o executivo. No fim do ano passado, o grupo Camargo Corrêa traçou um plano de longo prazo, de cinco anos, de dobrar a receita da empresa nesse período, alcançando R$ 400 milhões. "Ainda acredito ser possível atingir essa meta", diz.
Além da internacionalização, a CNEC vislumbra oportunidades no setor alcoolquímico e de resinas de polietileno. "Há projetos novos de plástico verde e nosso plano é agregar pelo menos cliente nesse campo". Braskem e Dow anunciaram no ano passado planos de construir fábricas para fazer resinas a partir da cana-de-açúcar.
No exterior, os alvos são concentrados principalmente em projetos para geração de energia. "Nesses países, com pouca competência nessa área, poderemos aportar nosso conhecimento". Em Moçambique, desenvolve o projeto básico da hidrelétrica de Mphwnda-Mphawda, cuja licitação da obra a Camargo Corrêa venceu. "Se ganharmos, abrimos um escritório no país que será a ponta de lança para outros contratos", afirma. Em Angola, a CNEC começa a prospectar oportunidades.
Na Argentina, no rastro da presença da Camargo Corrêa em têxtil, calçados e cimenteiro, a empresa tem propostas para dois projetos hidrelétricos: Condor e La Barrancosa. Participa ainda das discussões para viabilizar uma usina binacional, Brasil-Argentina, Garabi, no Rio Uruguai.
No Peru, cuja economia vem crescendo ao ritmo de 8% ao ano, a CNEC já fez avaliação do potencial hidrelétrico em algumas regiões, como o Norte, e apóia a Camargo Corrêa em uma parceria com a Eletrobrás em projetos na Amazônia Oriental (quase na fronteira com Brasil). "Essa energia, no futuro, parte dela poderá ser levada para Rondônia e o Acre", afirma.
A CNEC busca cada vez mais reduzir a dependência geográfica, diz Ayres, assim como se diversificou. "De obras ligadas à engenharia hidráulica, saneamento e meio ambiente, nos últimos quatro anos ganhamos forte presença em petróleo, gás e mineração".