Título: Dívida reduz o fôlego da Petrobras para projetos
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 25/11/2008, Empresa, p. B7

Com caixa de R$ 10,77 bilhões (equivalentes a US$ 5,6 bilhões) acumulado entre janeiro e setembro de 2008, a Petrobras é uma das empresas com maior número de projetos no mundo. Não se trata de notícia alvissareira considerando a atual escassez de crédito. O momento pode fazer minguar os financiamentos necessários para tocar os pesados investimentos necessários para desenvolver a produção de petróleo no pré-sal e construir as refinarias que poderão transformar o país em exportador de combustíveis.

Desde 2007, a estatal passou a usar com mais intensidade o dinheiro do seu caixa para investimentos. A companhia começou 2007 com R$ 27,8 bilhões, valor que caiu para R$ 13 bilhões no início de 2008. Em setembro, reduziu-se para R$ 10,7 bilhões. Porém, com aumento da dívida financeira líquida de quase R$ 7 bilhões no terceiro trimestre, para R$ 37,5 bilhões, seu poder de fogo ficou bem reduzido.

Em 2008, a estatal captou ou contratou US$ 9,2 bilhões, dos quais US$ 1,1 bilhão no mercado de capitais e bancos comerciais no exterior. Em 2009, a Petrobras pode elevar as captações em moeda local, inclusive com o BNDES.

Com menos recursos em caixa e diante de um longo ciclo de investimentos à frente, a Petrobras passa a depender ainda mais dos recursos gerados pela venda de combustíveis. Mas está diante da possibilidade de ter que baixar preços da gasolina depois de terem passado três anos sem reajuste, justo no período de escalada de preços do petróleo no mercado internacional. Atualmente, a gasolina vendida no Brasil está 70% mais cara do que a da região do Golfo do México americano e o diesel 19% mais alto segundo cálculos do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (CBIE). A estatal contesta esses números: alega que não contabilizam frete e outros custos de importação, mas o CBIE diz que esse é o cálculo possível dado que se desconhece a estrutura de custos da Petrobras.

O aumento de preços feito em maio Petrobras nas nas refinarias foi compensado pela redução da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide) não chegou às bombas. Já no diesel, só uma parte da Cide foi usada como amortecedor de preço.

A avaliação da Petrobras, já manifestada publicamente, é de que os investimentos mais elevados para elevar a produção no pré-sal vão ocorrer em 2013 e 2014, quando virão os gastos com a perfuração de centenas de poços e a construção de várias plataformas que vão permitir a produção de petróleo. Até lá, o que se espera é uma melhora do quadro econômico e da liquidez de recursos em 2009 ou, no máximo, em 2010. (CS)