Título: Nafta cai 70% no exterior, mas preço recua pouco no país
Autor: Vieira, André
Fonte: Valor Econômico, 25/11/2008, Empresa, p. B8
O preço da nafta deve mostrar um forte recuo em dezembro, refletindo grande parte da queda observada na principal matéria-prima da petroquímica brasileira nos últimos meses no mercado internacional. "É difícil prever qual será o novo nível em razão da volatilidade do câmbio e da matéria-prima, mas a tendência é de queda", diz Otávio Carvalho, da consultoria MaxiQuim, especializada na indústria de plásticos.
A nafta é um dos derivados que mais vem seguindo a queda de preço do petróleo. Desde o estouro da crise internacional, o petróleo recuou de US$ 147 o barril - pico em julho - para cerca de US$ 50 - baixa superior a 65%. Já o preço da nafta no exterior caiu do pico de US$ 1.111 por tonelada em julho para cerca de US$ 300 em novembro - redução superior a 70%.
Em certos momentos, a cotação no exterior tem sido menor do que isso. "Há preços no mercado à vista de US$ 290 por tonelada, o que não era visto desde dezembro de 2003", disse Otávio Carvalho.
O excesso de oferta de nafta no mercado tem sido o motivo para derrubada nos preços. "Há muitas refinarias, especialmente na Ásia, que optam por operar porque o custo de parar é mais alto do que vender a nafta com prejuízo", explicou.
Até agora, a queda da nafta no mercado doméstico não foi vista com a mesma intensidade do mercado externo. A explicação, segundo os especialistas, está no fato que o preço de referência desse derivado de petróleo ser atrelado ao dólar.
Com a desvalorização do real, a cotação da nafta em moeda nacional caiu menos. Do preço máximo de R$ 1.771 ou US$ 1.111 em julho, a nafta recuou para a cotação de R$ 1.171 neste mês de novembro (queda de 33%), mesmo com preço em dólar de US$ 510 por tonelada (menos 54%).
Há também um certo "atraso" na formação dos preços no mercado doméstico, uma vez que o repasse da Petrobras, principal fornecedor e sócio das duas principais petroquímicas no país, a Braskem e Quattor, é efetuado uma única vez ao fim de cada mês. "As petroquímicas sabem da queda de preço e já admitem que vão reduzir os preços das resinas", afirma Carvalho.
Ao mesmo tempo, as empresas petroquímicas brasileiras já tomam medidas internas em suas fábricas para reduzir sua produção, com paradas programadas para manutenção ou não, e ajustes de estoques na cadeia produtiva.
Para João Luiz Zuñeda, também da MaxiQuim, inúmeras refinarias no estado americano do Texas decidiram aumentar sua produção de nafta depois da queda nos preços do petróleo como forma de garantir melhores rentabilidades.
Segundo Zuñeda, que fez uma análise sobre essa tendência colocada no site da consultoria, existe a expectativa de que a produção de polietileno e polipropileno fabricado com nafta torne-se mais competitivo a médio prazo, afetando a oferta destes produtos no mercado internacional.
Para o consultor, os segmentos de bens de consumo duráveis, como setor automotivo e eletroeletrônico, além de fertilizantes agrícolas, devem reduzir seu consumo de resinas plásticas devido à diminuição da demanda provocada pela escassez de crédito. "O consumo de alimentos será menos afetado", disse Zuñeda.