Título: Foco no resultado
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 25/11/2008, Eu & Investimento, p. D1

Outubro não foi muito bom para os fundos de investimentos que recebem recursos da previdência aberta. A queda superior a 24% da bolsa acabou afetando o retorno dos planos com ações, assim como o aumento do retorno pago por títulos públicos e privados levou a uma queda nos preços dos papéis de renda fixa, reduzindo os ganhos. Os fundos de previdência de renda fixa tiveram retorno médio de 0,58% no mês passado, praticamente metade da variação de 1,17% do CDI (juro interbancário), aponta o site Fortuna. No ano, o rendimento alcança 7,5%, ante 10,04% do referencial. Os balanceados, que destinam uma parcela (até o limite de 49%) para a renda variável, amargaram perdas de 6,22% no mês e de 7,8% no acumulado de 2008, o primeiro prejuízo anual em cinco anos. A queda do Ibovespa no ano até outubro superava os 41%.

Mas olhar o desempenho de apenas um mês de um fundo de previdência não é a melhor coisa a se fazer. "A previdência é algo de longo prazo e, assim, toda a estratégia de alocação é feita para buscar as melhores oportunidades no longo prazo", diz o diretor de investimentos da Brasilprev, Renato Donatello. Ele vai além e questiona até o uso do CDI, juro de curto prazo, como referencial para a previdência, mesmo na renda fixa.

Nas carteiras de previdência, é comum encontrar papéis mais longos, como títulos públicos com prazo acima de 15 anos, afirma o superintendente de investimentos da Brasilprev, Marcio Barbosa Matos. Ele cita como exemplos as Notas do Tesouro Nacional (NTN) série B, que são indexadas ao IPCA, com vencimento em 2024 e 2045.

"Dificilmente um fundo de renda fixa tradicional tem esse tipo de papel em carteira", diz Matos. Mas, acrescenta, essa estratégia faz todo sentido para uma carteira de previdência, que costuma não só comprar títulos longos mas carregá-los até o vencimento a fim de garantir retornos bem atraentes. A NTN-B com vencimento em 2045, ressalta, estava pagando IPCA mais 8% ao ano no dia 18 de novembro. "Um juro real de 8% é bom em qualquer cenário econômico, mesmo numa crise", afirma Matos.

Os títulos de mais longo prazo sofreram bastante em outubro, com o aumento da aversão ao risco e a saída recorde de recursos externos do mercado financeiro local, o que derrubou os preços. Dados da Comissão de Valores Mobiliário (CVM) mostram que no mês passado o saldo de investimento estrangeiro ficou negativo em US$ 8 bilhões, considerando aplicações em renda fixa, bolsa, entre outros.

A taxa de retorno da NTN-B para 2045 chegou a bater 8,70% em meados de outubro, depois de iniciar o mês em 7,40%. Outro papel longo, a NTN-B com vencimento em 2024, começou o mês pagando IPCA mais 7,4% anuais, alcançando 9,05% no dia 28. Juro mais alto significa preço menor. E os fundos que têm esses títulos em carteira tiveram de marcar a mercado essa desvalorização, derrubando as cotas. Matos lembra, no entanto, que essa oscilação não significa prejuízo, salvo quando há venda do título a um preço menor do que o pago ou, no caso do investidor, se há resgate com a cota valendo menos. "No longo prazo, a expectativa nunca é de perda", ressalta. Em novembro, já houve recuperação, com os títulos pagando retornos menores e, conseqüentemente, se valorizando. No dia 19, a NTN-B para 2024 oferecia uma taxa de 8,30% (bem abaixo dos 9,05%).

O mesmo raciocínio vale para a bolsa, atingida em cheio pela saída de estrangeiros. Quem está num plano balanceado teoricamente tem apetite para o risco e, dado o horizonte de longo prazo, pode esperar uma recuperação dos mercados. "Em momentos de instabilidade, nossa estratégia é não fazer movimentos bruscos", diz Donatello. Matos conta, inclusive, que a Brasilprev tem aproveitado o fluxo de captação positivo para aproveitar as oportunidades que surgem.

Se levada em conta a rentabilidade média anual dos últimos cinco anos (entre 31 de dezembro de 2003 e 31 de outubro de 2008), o prejuízo neste ano dos fundos de previdência com ações desaparece. Dados do Fortuna mostram que essas carteiras registram, na média anual, ganho de 12,2%, muito próximo do retorno médio anual dos planos de renda fixa (12,4%) e acima do Ibovespa (11,3% ao ano).

O participante parece confortável com a previdência, uma vez que continua colocando dinheiro. Em outubro, a captação líquida dos fundos de previdência somou R$ 427 milhões, elevando a R$ 8,652 bilhões o total no ano. Mas prevalece o movimento de migração dos planos com ações para os 100% renda fixa. Em outubro, enquanto os fundos balanceados perderam R$ 2,15 bilhões, os de renda fixa atraíram R$ 2,57 bilhões.