Título: Governo dos EUA injeta US$ 20 bi no Citi
Autor: Balthazar, Ricardo
Fonte: Valor Econômico, 25/11/2008, Finanças, p. C5
O governo americano decidiu entrar em ação para evitar um colapso do Citigroup, injetando US$ 20 bilhões nos seus cofres e oferecendo garantias para ajudar o conglomerado financeiro a administrar uma carteira de US$ 306 bilhões em ativos de valor duvidoso que estão corroendo as entranhas da instituição. Marisa Cauduro / Valor
Vikram Pandit, presidente do Citigroup: desconfiança dos investidores mesmo com plano para cortar 52 mil empregos
A operação foi anunciada minutos antes da meia-noite de domingo e tem o objetivo de combater a enorme desconfiança que os investidores têm manifestado sobre a saúde financeira do Citigroup, que controla um dos maiores bancos do mundo e presta serviços a cerca de 200 milhões de clientes em mais de uma centena de países.
As suspeitas sobre o Citi provocaram uma queda de quase 60% no preço das ações da instituição na semana passada, reduzindo a cerca de US$ 20 bilhões o valor de mercado do grupo. O socorro do governo foi bem recebido pelos investidores e fez as ações do Citi disparar ontem.
Elas chegaram ao fim do dia com alta de 58%, mas ainda estão longe de recuperar o brilho que exibiam antes da crise.
O pacote anunciado no domingo reforça de maneira significativa as reservas de capital do Citi e dá oxigênio para a instituição enfrentar as dificuldades atuais. Mas muitos analistas continuaram expressando ontem preocupação com o futuro do grupo e dúvidas sobre sua capacidade de lidar com os efeitos que uma deterioração mais profunda da economia americana poderá ter sobre seus negócios.
O Tesouro dos EUA e a Corporação Federal de Seguro de Depósitos (FDIC), agência governamental que protege os correntistas dos bancos americanos contra o risco de falência das instituições, receberão ações preferenciais do Citi em troca da ajuda. As ações são a garantia de que o governo poderá recuperar parte do seu investimento no futuro, se o Citi sobreviver à crise.
As garantias previstas pelo pacote do governo protegem o Citi contra prejuízos decorrentes da desvalorização de uma carteira formada por empréstimos, títulos associados a hipotecas e outros papéis que viraram fumaça nos últimos tempos, com o estouro da bolha do mercado imobiliário americano e a desaceleração da atividade econômica.
Os US$ 306 bilhões que terão garantias do governo representam uma fração significativa dos ativos problemáticos que o Citi carrega em seus livros. O grupo administra atualmente cerca de US$ 2 trilhões em ativos e outro US$ 1 trilhão em veículos especiais criados nos últimos anos para fazer investimentos arriscados sem comprometer o balanço do conglomerado diretamente.
De acordo com os termos do pacote do governo, os primeiros US$ 29 bilhões em prejuízos que forem registrados na gestão dessa carteira daqui para frente serão absorvidos pelo Citi. Se houver mais perdas depois disso, o Tesouro e a FDIC se comprometem a tapar o buraco no balanço do Citi com recursos públicos, até o limite de US$ 249 bilhões.
O conglomerado contabilizou US$ 20 bilhões em prejuízos nos últimos 12 meses. Na semana passada, o principal executivo do grupo, Vikram Pandit, anunciou um plano para demitir 52 mil funcionários e eliminar bilhões de dólares em custos. Mas os investidores continuaram céticos, por causa da dificuldade que encontram para avaliar a qualidade dos ativos do grupo.
Em troca da ajuda que receberá do governo, o Citi terá que submeter à análise do Tesouro uma nova política para a remuneração de seus executivos e diminuir drasticamente o valor dos dividendos pagos aos seus acionistas. O governo não exigiu mudanças na administração do grupo, como fez ao socorrer a seguradora AIG, nem parece disposto a interferir na maneira como o Citi usará o seu dinheiro.
No comunicado conjunto em que anunciaram o pacote de socorro ao Citigroup, o Federal Reserve, o banco central americano, o Tesouro e a FDIC dizem que continuarão fazendo tudo que for necessário para "preservar a força de nossas instituições bancárias", restaurar a confiança nos mercados e desobstruir os canais de crédito na economia.
Os EUA já comprometeram mais de US$ 2,5 trilhões com as diversas medidas adotadas nos últimos meses para estabilizar o sistema financeiro, incluindo empréstimos para injetar liquidez nos mercados e aportes de capital para fortalecer instituições financeiras em dificuldades. Mais de US$ 230 bilhões foram injetados em 78 bancos, incluindo o próprio Citi, que em outubro recebeu US$ 25 bilhões.
Num comunicado distribuído pelo grupo, Pandit classificou o pacote do governo como uma "solução de mercado inovadora" e "sem precedentes" que ajudará o conglomerado a reduzir riscos, aumentar a liquidez de seus ativos e revigorar suas reservas de capital. Pandit entrou no Citi há um ano e assumiu o comando da instituição em dezembro.