Título: Favorito no PMDB para comando do Senado, Sarney deve apoiar Tião Viana
Autor: Costa, Raymundo
Fonte: Valor Econômico, 26/11/2008, Política, p. A6

Apontado pelo PMDB para presidir o Senado, o senador José Sarney deve apoiar o nome do petista Tião Viana para o cargo. Viana recebeu ontem o apoio formal do presidente pemedebista, deputado Michel Temer, por meio de um telefonema. Isso, no entanto, não significa que a disputa pelo comando do Congresso esteja definida. Na realidade, a decisão dos dois caciques pemedebistas pode até abrir uma oportunidade para a oposição tentar o cargo. Lula Marques/Folha Imagem

Sarney e Vianna: decisão de senador pelo Amapá de apoiar petista racha os pemedebistas e embaralha disputa pelas mesas do Congresso

A eleição será em fevereiro. Tradicionalmente, o partido com a maior bancada, o que é o caso do PMDB no Senado, indica o presidente. Mas como a presidência da Câmara ficará com um pemedebista, graças a um acordo firmado entre PT e PMDB, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva acha que o comando do Senado deve ficar com um petista, para, segundo argumenta, manter o equilíbrio partidário no Congresso - atualmente, um petista preside a Câmara e um pemedebista, o Senado.

A bancada pemedebista do Senado reagiu ao entendimento, sobretudo depois de Lula dizer que não fará reforma do ministério em 2009, o que, se ocorresse, poderia permitir algum tipo de composição. O PMDB então lançou um nome contra o qual Lula não poderia se opor - José Sarney, ex-presidente da República e aliado de primeira hora do presidente da República.

Na noite de segunda-feira passada, Michel Temer, que é o candidato a presidente da Câmara, Sarney e sua filha Roseana se reuniram para discutir a sucessão do Senado. Temer explicou os termos do acordo na Câmara e perguntou se Sarney era efetivamente candidato. Em caso positivo, argumentou Temer, isso certamente teria reflexos na eleição para a Câmara e eles teriam de preparar uma estratégia para conseguir o comando das duas Casas do Congresso.

Tanto Sarney quanto Roseana - outra hipótese considerada - disseram que não seriam candidatos. Nesse meio tempo chegaram Renan Calheiros e o líder do governo no Senado, Romero Jucá. Diversas versões circularam no Senado para o que aconteceu em seguida, inclusive a de que Sarney teria voltado atrás na decisão de não concorrer e que Renan teria dito que não ficaria isolado e acompanharia a bancada.

O grupo ligado a Renan não acredita que a decisão de Sarney seja definitiva, até porque ele poderia rachar o PMDB e dar uma chance para a oposição conquistar o posto. Mas ontem Sarney disse a seu antigo porta-voz Fernando César Mesquita que não só votaria em Tião Viana, como também reclamou da falta de credibilidade na palavra dos homens públicos: não era de hoje que ele dizia que poderia apoiar Viana e ninguém acreditava.

Segundo Fernando César Mesquita, o ex-presidente lembrou-se do episódio em que o então candidato a prefeito de São Paulo, José Serra, registrou em cartório a promessa de que se fosse eleito, em 2004, não seria candidato na eleição para governador do Estado, dois anos mais tarde.

Após uma rápida incursão de Fernando César Mesquita à mesa na qual estava sentado Tião Viana, o senador acreano e José Sarney conversaram demoradamente no fundo do plenário a sós, em alguns momentos, e rodeados por senadores do governo e da oposição, em outros.

A nova situação no Senado é uma reviravolta que deixou todos surpresos. O Democratas (DEM), com a exceção do senador Demóstenes Torres (GO), articulavam o apoio a Sarney. O PSDB estava dividido entre nordestinos (mais inclinado a apoiar Sarney) e o grupo paulista. Em tese, demistas e tucanos diziam que votariam contra a candidatura do PT, no máximo com duas ou três defecções.

O líder do DEM, José Agripino Maia, disse ontem que vai aguardar uma conversa formal com o PMDB, o que poderia ocorrer ainda à noite: até agora o partido vinha lhe dizendo que teria candidato próprio (Sarney). Só depois de tomar conhecimento oficial da decisão pemedebista o DEM ratificará ou mudará sua decisão anterior.

A bancada do PMDB, que não participou da reunião de cúpula da noite de segunda-feira, no entanto, diz que a decisão de Sarney não muda a perspectiva de divisão. O próprio líder Valdir Raupp (RO) disse que se tratava de uma questão "difícil", enquanto o senador Gerson Camata (ES), um nome sempre lembrado para ser o candidato pelo PMDB, também avaliava que a sucessão do Senado ainda requer muita negociação.

De fato, a divisão pode levar à eleição de um nome do PSDB ou DEM, na hipótese mais radical, ou do PMDB menos ligado ao governo federal (desta vez com o apoio de senadores ligados a Renan). A vitória de Tião Viana, por seu turno, significará uma vitória pessoal de Lula e, dependendo da extensão da dissidência pemedebista no Congresso, o fortalecimento da aliança PT-PMDB, com inevitáveis conseqüências nas eleições de 2010.