Título: Kassab recebeu mais doações ocultas que Marta
Autor: Felício , César
Fonte: Valor Econômico, 26/11/2008, Política, p. A6

O prefeito reeleito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM) conseguiu arrecadar R$ 29,8 milhões em contribuições para a campanha eleitoral encerrada este ano. Praticamente a totalidade dos recursos veio do comitê financeiro único do partido, que arrecadou R$ 34,4 milhões. Quase a metade das doações ao comitê foi feita de maneira encoberta.

Do total arrecadado pelo comitê, 47,9%, ou R$ 16,8 milhões, foi conseguido mediante doações do diretório nacional do DEM. Esta é uma brecha na legislação usada por empresários para colaborarem nas campanhas sem se identificar. Por meio deste artifício, que é absolutamente legal, o empresário faz uma doação ao partido, recomendando que o valor seja repassado ao candidato. O partido está desobrigado de revelar a identidade de seus financiadores.

Dos doadores identificados, predominaram as empreiteiras. A Camargo Corrêa repassou o maior valor, com uma doação de R$ 3 milhões; seguida pela EIT, com R$ 2,1 milhões; a Serveng Civilsan, com R$1,2 milhão; a CR Almeida, com R$ 1 milhão; e a OAS, com R$ 800 mil.

Na eleição passada, quando José Serra (PSDB) concorreu à prefeitura tendo Kassab como vice, as empreiteiras dividiram suas doações abertas entre a candidatura tucana e a de Marta Suplicy (PT) e foram mais contidas nas colaborações aos tucanos, então na oposição municipal. O grupo Camargo Corrêa doou R$ 1,016 milhão e a OAS , R$ 400 mil. EIT, Serveng Civilsan e CR Almeida não apareceram entre as doadoras de então.

O setor financeiro teve participação modesta. O Banco Itaú doou R$ 200 mil e o Unibanco, R$ 350 mil. Os dois bancos ,que anunciaram este ano uma fusão, são tradicionais financiadores de campanhas tucanas e do DEM. Em 2004, o primeiro doou R$ 300 mil para a candidatura de José Serra (PSDB) à prefeitura, na chapa em que Kassab era vice. O Unibanco fez na ocasião uma doação de R$ 290 mil. Naquela eleição, a Sodepa, holding que controla o Banco Safra, fez uma doação de R$ 900 mil para Serra e Kassab, que não foi repetida desta vez.

A candidata derrotada Marta Suplicy (PT), que ficou em segundo lugar, arrecadou R$ 21 milhões. Novamente as doações ocultas tiveram destaque. Deste total, R$ 8,5 milhões (40,4%) , vieram do diretório nacional, estadual e municipal do partido. Dentre os doadores identificados, a que mais doou à petista foi a construtora W/Torre, com R$ 1 milhão. Também doaram a EIT (R$ 600 mil) e a CR Almeida (R$ 400 mil). Fora do setor imobiliário, colaboraram com Marta o grupo Gerdau (R$ 200 mil) e a BMF/Bovespa (R$ 200 mil).