Título: Falta de gás leva cerâmica de SC a dar férias coletivas
Autor: Jurgenfeld , Vanessa
Fonte: Valor Econômico, 26/11/2008, Empresas, p. B7
As indústrias cerâmicas do sul de Santa Catarina, que estão entre as mais afetadas pelo corte no fornecimento do gás natural por conta do incidente no Gasoduto Bolívia-Brasil (Gasbol), no Vale do Itajaí, decidiram dar férias coletivas aos funcionários. A medida foi necessária diante da perspectiva apresentada no início da tarde de ontem pela TBG, responsável pelo Gasbol, de que a reconstrução do trecho danificado levará 21 dias.
A estimativa é que a parada provoque perdas diárias de R$ 3,9 milhões para as indústrias do sul do Estado, segundo o presidente do Sindicato das Indústrias Cerâmicas de Santa Catarina (Sindiceram-SC), Otmar Müller.
Os fornos das indústrias começaram a ser desligados na segunda-feira e só devem voltar ao trabalho quando as obras do duto estiverem concluídas. As férias coletivas devem durar cerca de 20 dias, atingindo 4,5 mil trabalhadores e envolvendo todas as 11 grandes indústrias de revestimentos cerâmicos associadas ao Sindiceram, como Eliane e Cecrisa. A Portobello, que não fica no sul do Estado, mas sim na região de Tijucas, não comentou se fará uso da mesma medida. Fornecedores do setor, caso dos produtores de corantes, também paralisaram as atividades.
As cerâmicas de Santa Catarina não têm tradição de dar férias coletivas. Segundo Müller, o recurso de férias coletivas foi usado em momentos pontuais, como em 2005, mas nunca de forma geral como agora. "Em 2005, houve queda de demanda internacional, mas a parada chegou a 25% do parque fabril e não a praticamente 100%, como agora."
O fornecimento de gás natural para parte de Santa Catarina e para todo o Rio Grande do Sul foi interrompido no domingo à noite. Em comunicado divulgado ontem, a TBG informou que juntamente com a Petrobras e as distribuidoras SCGás (SC) e Sulgás (RS) foi decidido um plano de contingência para garantir o fornecimento de 30 mil metros cúbicos/dia, volume suficiente somente para atender os serviços essenciais (residências, hospitais e comércio) durante o período da obra.
De acordo com a TBG, o incidente foi causado por um rompimento no duto em função da grande quantidade de terra e lama que se movimentou devido às chuvas torrenciais. O tempo de 21 dias para o reparo será necessário principalmente porque o acesso ao local só pode ser feito por via aérea, incluindo o transporte de equipamentos e equipe técnica. "A fim de atender e minimizar o prazo de reparos no trecho do gasoduto afetado, estes serão feitos através da construção de um desvio no duto de aproximadamente 300 metros de comprimento." A empresa colocou como condicionante para os reparos o clima. "Para que o cronograma seja cumprido é fundamental a melhoria das condições climáticas na região", informou.
O governador Luiz Henrique da Silveira disse ontem que conversou com o presidente da Petrobras, Sérgio Gabrielli, pedindo uma alternativa e disse que está em estudo o envio de caminhões com GLP (gás liquefeito de petróleo) para o atendimento de algumas indústrias. Em comunicado, a TBG informou apenas que "as empresas do sistema Petrobras - BR Distribuidora e Liquigás - estão juntando esforços para disponibilizar ao mercado outros combustíveis".
Segundo Müller, a maioria das indústrias não têm mais a estrutura para recebimento de GLP, que desde 2000 começou a ser substituído pelo gás natural. Também comentou que não há indústrias que tenham outra matriz energética que não o gás natural. Somente em alguns processos ainda é usado o carvão mineral, como nas etapas de secagem e granulação. Além disso, citou a dificuldade no transporte do GLP, já que diversos trechos das rodovias estão interditados, e o seu alto custo, cerca de 50% superior ao do gás natural.
A parada na produção cerâmica ocorre em um momento em que as indústrias estavam ainda com vendas fortes, mesmo com o cenário internacional mais tumultuado. Segundo dados mais recentes do Sindiceram-SC, em outubro o faturamento do setor ficou em R$ 118 milhões, valor similar ao de setembro, de R$ 120,3 milhões, patamar recorde no ano, principalmente por conta do mercado interno. "Em dezembro, sazonalmente ocorreria queda de demanda, de cerca de 20%, mas novembro é um mês ainda de atividade forte", diz Müller.
No Vale do Itajaí, algumas empresas têxteis reiniciaram as atividades ontem, mas de forma reduzida por falta de funcionários.