Título: Setor mantém planos de investimento, apesar da crise
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 27/11/2008, Brasil, p. A3

A crise financeira ainda não trouxe nem deve trazer impactos significativos no setor de saneamento, segundo empresários e analistas do setor. O volume significativo de investimentos financiados por fontes oficiais e bancos de fomento é que dá essa garantia e tem feito com que os planos das empresas sejam mantidos. "Pode ser que os consumidores deixem de pagar as contas de água, mas os recursos para financiar projetos não serão afetados", diz Luis Paulo Rosenberg, economista e diretor da Rosenberg & Associados.

Antônio Laia, gerente financeiro da Copasa, companhia de saneamento de Minas Gerais, diz que a empresa está investindo R$ 500 milhões até 2010 em projetos que fazem parte do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e que serão financiados com recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). "Nossa margem de risco é aprovada e não estamos com restrição de crédito", diz ele.

Na Bahia, o crédito também não tem sido problema, mas a empresa de saneamento do Estado, a Embasa, enfrenta dificuldades burocráticas na implementação de seus projetos. Dos cerca de R$ 800 milhões a serem investidos por meio do PAC, Jorge Humberto Castro, diretor de engenharia e meio ambiente da empresa, diz que pouco foi desembolsado até agora. Segundo ele, entre os fatores que contribuem para o atraso no cronograma de investimento estão a existência de uma carteira de projetos atrasada - o que exige que muitos projetos precisem ser atualizados para então ser requisitado o financiamento - e a burocracia na liberação dos recursos após o empréstimo ter sido liberado.

"Precisava haver uma revisão das normas da Caixa Econômica Federal, porque hoje os recursos são liberados mediante medição da execução da obra, o que faz com que cada detalhe possa gerar suspensão do repasse", afirma ele.

Newton de Azevedo, vice-presidente da Abdib, entidade que representa as empresas de infra-estrutura, acredita que a maior necessidade de mudanças não está fora das empresas. Segundo ele, atualmente o que mais prejudica as companhias de saneamento são problemas de gestão. "Hoje já conseguimos o marco regulatório, já temos recursos disponíveis. Está na hora de olharmos para a gestão das empresas e ver o que é possível fazer para efetivar os investimentos no setor", diz.

No Mato Grosso do Sul, a companhia Sanesul está com o caixa apertado, mas tem em andamento um investimento de R$ 130 milhões em obras do PAC. Segundo o presidente da empresa, José Barbosa, o desafio é gerir esses recursos com eficiência. "Hoje temos a obrigação de executar os projetos de forma eficiente, pois senão sofreremos a concorrência direta das empresas privadas", diz. (SM)