Título: Rentabilidade da exportação é a maior em quatro anos
Autor: Raquel Landim e Sergio Lamucci, de São Paulo
Fonte: Valor Econômico, 28/11/2008, Brasil, p. A2

Com a ajuda da recente desvalorização cambial, a rentabilidade das exportações brasileiras atingiu o patamar mais alto dos últimos quatro anos. O aumento na margem de lucro superou com folga os descontos concedidos aos clientes. Segundo a Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex), a rentabilidade das exportações cresceu 16,5% entre setembro e outubro, graças à desvalorização do real. No mês passado, o dólar ficou, na média, em R$ 2,18, 17,5% acima do R$ 1,80 registrado em setembro. O aumento da margem de lucro das vendas externas superou com folga a alta de 1,7% nos custos e a queda de 1,9% nos preços. Em relação a outubro de 2007, a rentabilidade subiu 32%.

A dificuldade para os exportadores, agora, é encontrar comprador para os produtos, porque a demanda externa foi prejudicada pela crise global. O clima é mais otimista entre os fabricantes de bens semi-duráveis, como calçados e têxteis, cuja demanda é menos sensível à crise. Para os exportadores de bens de capital e bens duráveis, como automóveis, o cenário é mais complicado, porque essas vendas dependem de crédito e tendem a ser mais prejudicadas em tempos de insegurança na economia.

"A mudança cambial trouxe ganho expressivo para o exportador, pois os preços dos produtos já estavam em patamares recordes", disse Fernando Ribeiro, economista da Funcex. A rentabilidade da exportação em outubro superou em 5,6% os níveis de 2004, quando o dólar médio estava em R$ 2,90, patamar mais favorável para as vendas que o atual. A diferença está nos preços de exportação, que em outubro estavam 90% acima dos observados em 2004.

"Estou otimista para 2009. Com o câmbio mais realista, a indústria calçadista brasileira volta a se tornar competitiva", disse Milton Cardoso, diretor-executivo da Vulcabras e presidente da Associação Brasileira da Indústria Calçadista (Abicalçados). Ele ressaltou, no entanto, que ainda não é possível verificar aumento nas exportações porque o mercado está muito atribulado, com os clientes pedindo descontos e preocupados com a demanda.

"Estamos saindo de uma economia virtual para entrar na economia real", comemorou Marlin Kohlraush, presidente da Bibi Calçados. Ele destacou que as exportações ainda não reagiram porque os compradores estão inseguros. Ele acredita, contudo, que vai ampliar as vendas porque o setor calçadista não é tão afetado pela crise. Para Domingos Rigoni, presidente da Movelar, as exportações devem se recuperar um pouco em 2009, graças ao câmbio, mas não será uma explosão se a demanda externa não melhorar. "O câmbio ajuda e o mercado não ajuda."

Para a Lupo, fabricante de meias, cuecas e lingeries, o dólar acima de R$ 2 ajuda a tornar os produtos da empresa mais competitivos na disputa por mercado com os asiáticos, segundo o diretor comercial, Valquírio Ferreira Cabral. Respondendo por 6% do faturamento da empresa, as exportações devem crescer quase 40% neste ano e, mesmo com a crise global, podem aumentar algo como 25% a 30% em 2009, acredita ele. Com a desvalorização do câmbio, Cabral contou que conseguiu reduzir um pouco os preços em dólares dos novos produtos, sem que isso comprometesse todo o ganho de rentabilidade propiciado pela moeda americana mais cara.

Os preços cobrados pelos exportadores recuaram 1,9% em outubro em relação a setembro, segundo a Funcex. A queda foi de 3% para os produtos básicos, por conta da queda das commodities, e de 0,9% nos manufaturados. Para compensar o câmbio, os exportadores brasileiros concederam descontos. No acumulado do ano, os preços de exportação ainda sobem expressivos 29,7%, com alta de 47% para os básicos e 18% para manufaturados. A quantidade exportada pelo país caiu 1,7% de janeiro a outubro. Nos manufaturados, a perda chegou a 4,7%.

No setor de bens de capital, a margem de lucro também melhorou, mas o mercado continua parado e os empresários não estão otimistas. Mônica Vader, diretora da Máquinas Ferdinand Vaders (Feva), contou que perdeu duas vendas para o México e uma para a Colômbia, devido à falta de crédito e ao receio das clientes em investir num momento desfavorável. Em compensação, a Feva vendeu outras três máquinas para o Equador, cuja economia é dolarizada. Os clientes de lá resolveram aproveitar. "Vendi três máquinas da noite para o dia. O mercado está muito estranho", disse Mônica.

O dólar mais caro também tem impactos negativos sobre as empresas. Na Lupo, que tem 30% de seus insumos atrelados à variação do câmbio, a alta da moeda implicou aumento de custos. "Eles subiram 12% neste ano", disse Cabral, que elevou em 7% os preços dos produtos que serão entregues a partir de janeiro - no caso dos encomendados até outubro, e que chegarão aos clientes até dezembro, as cotações foram mantidas.

Alguns economistas têm uma visão menos otimista sobre as perspectivas para as exportações. Para o economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, o câmbio mais desvalorizado poderá ajudar as empresas no curto prazo, num momento em que regiões como América Latina, Oriente Médio e Ásia ainda crescem a taxas razoáveis. No ano que vem, contudo, a situação será diferente, avalia ele.

Com a perspectiva de desaceleração generalizada da economia global, a demanda externa vai diminuir, tornando o impacto do câmbio bem menos relevante. Vale espera que os preços das exportações sigam em queda - assim como os das importações. Em outubro, aliás, as cotações das compras externas recuaram 4,2% em relação a setembro. No acumulado do ano, ainda sobem 23,8%. Já o volume importado continua a crescer. Aumentou 4,5% sobre setembro, elevando para 22,1% a alta no ano.