Título: Para centrais sindicais, crise já chegou à economia
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 27/11/2008, Política, p. A8

As centrais sindicais, cujos dirigentes reuniram-se ontem em Brasília, afirmam que a crise internacional já chegou à economia real brasileira. De acordo com documento divulgado ontem pela Central Única dos Trabalhadores (CUT), e que servirá como base para a marcha que os sindicatos farão no fim do ano a Brasília, não bastam apenas ações para proteger bancos e empresas: o governo tem que garantir a manutenção dos empregos dos trabalhadores brasileiros.

Lula participou de jantar ontem com os representantes das principais centrais sindicais, em encontro que havia sido pedido há tempos. Para a CUT, a maior prova que os efeitos da crise não se circunscrevem ao sistema financeiro é o anúncio de férias coletivas e a suspensão dos investimentos programados em setores importantes de nossa economia. "Portanto, é fundamental uma intervenção rápida, correta e decisiva do Estado brasileiro para impedir que estes efeitos se espraiam sobre os vários setores, porque os trabalhadores serão certamente as maiores vítimas, por meio da perda do emprego e da rápida queda do nível de renda", acredita o presidente da CUT, Artur Henrique.

Na visão da central, as ações do governo não podem ser de "socialização das perdas" do setor financeiro. Os sindicalistas apóiam-se em levantamento do Bank for International Settlements (BIS), mostrando que a riqueza em papéis denominados de "derivativos e outras inovações financeiras" é de cerca de US$ 600 trilhões, comparado a um valor de produção efetiva de riquezas, medida pelo PIB mundial, de US$ 65 trilhões.

Dentre as propostas feitas pela CUT, estão: a garantia de que não haverá demissões por conta da crise; a ratificação da Convenção 158 da OIT; a redução da jornada de trabalho para 40 horas sem redução salarial; o fim do superávit primário e a estatização das instituições financeiras com risco de solvência, dentre outros.