Título: Obama cria cargo para Volcker e deixa incerto quem lidera equipe
Autor: Balthazar, Ricardo
Fonte: Valor Econômico, 27/11/2008, Internacional, p. A10

O presidente eleito dos EUA, Barack Obama, escalou para sua equipe econômica colaboradores com credenciais acadêmicas impecáveis e tecnocratas com experiência de combate necessária para lidar com a crise atual. O que ninguém sabe ainda é quem assumirá a liderança do grupo quando aparecerem discordâncias entre seus membros.

O candidato natural a esse posto é o ex-secretário do Tesouro Lawrence Summers, um economista considerado brilhante até por quem não gosta do seu estilo. Summers foi escolhido por Obama para dirigir o Conselho Econômico Nacional da Casa Branca e terá a missão de coordenar o trabalho dos vários órgãos envolvidos na execução da política econômica do governo.

Mas muitos observadores não conseguem ver Summers nesse lugar, por causa do temperamento abrasivo que ele exibiu em sua passagem anterior pelo governo e nos anos em que presidiu a Universidade Harvard. "Obama sabe que Larry não é talhado à perfeição para o papel", escreveu em seu blog o economista Jeffrey Frankel, colega de Summers em Harvard e ex-integrante do Conselho de Assessores Econômicos da Casa Branca.

O posto que Summers ocupará foi criado no início do governo do ex-presidente democrata Bill Clinton, em 1993. Ele teve importância quando o dono da cadeira era Robert Rubin, mas perdeu relevância depois que ele saiu para ser o secretário do Tesouro. À época, Rubin, hoje um alto executivo do Citigroup, foi substituído por Summers no Tesouro.

O próximo secretário do Tesouro será Timothy Geithner, que atualmente preside o Federal Reserve de Nova York, o mais importante dos braços regionais do banco central americano. Geithner trabalhou com Rubin e Summers no Tesouro, no governo Clinton, e nas últimas semanas seus admiradores têm realçado seus talentos diplomáticos ao descrever suas qualificações.

Mas muitos observadores acham improvável que ele assuma a liderança da equipe de Obama. Nos primeiros meses, pelo menos, ele estará muito ocupado com os preparativos para a audiência em que será sabatinado pelo Senado e com a execução do plano de reestruturação do sistema financeiro lançado pelo atual governo, que será a sua principal atribuição no Tesouro.

"A severa crise atual oferecerá bastante trabalho para ambos", escreveu nesta semana o economista Brad Setser, que foi colega de Geithner no Tesouro e hoje trabalha no Conselho de Relações Exteriores, um centro de estudos. "Espero que a combinação da criatividade intelectual de Summers com a capacidade analítica e o discernimento político de Geithner seja frutífera."

Obama anunciou ontem a formação de outro pólo de poder na equipe econômica, com a criação de um conselho de especialistas que irá assessorá-lo no seu esforço para recuperar a economia. O ex-presidente do Fed Paul Volcker foi escolhido para presidir esse conselho, que deverá ter em sua composição empresários, líderes sindicais e economistas independentes do governo.

Ao anunciar a formação do grupo, Obama indicou que seu objetivo é criar um fórum de discussões para analisar criticamente as políticas do governo e buscar alternativas às propostas da burocracia. O presidente eleito disse que espera obter com o novo conselho uma "infusão de idéias de todo o país e de todos os setores da nossa economia".

Mas só o tempo dirá se o grupo de Volcker terá influência ou se se transformará num apêndice irrelevante, como o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES) no Brasil. Os futuros integrantes do conselho de Obama serão indicados nas próximas semanas. O grupo deverá se reunir em periodicidade ainda não definida e poderá ser extinto depois de dois anos, se não for mais considerado necessário.

Volcker, um economista de 81 anos que acumulou enorme prestígio por causa da determinação com que combateu a inflação quando presidia o Fed, no início da década de 80, entrou no círculo de colaboradores de Obama ainda na campanha eleitoral. Summers se aproximou na mesma época. Obama não tem intimidade com nenhum dos dois, mas ouve ambos com atenção.

O principal assessor econômico de Obama durante a campanha, o professor Austan Goolsbee, da Universidade de Chicago, será o diretor-executivo do conselho que Volcker irá liderar. Gooslbee também será um dos três integrantes do Conselho de Assessores Econômicos da Casa Branca, que será presidido pela professora Christina Romer, da Universidade da Califórnia.

Os assessores escolhidos por Obama não parecem ter opiniões muito diferentes sobre o que deve ser feito para tirar a economia do buraco. Volcker demorou a aceitar a idéia de que é necessário um pacote de estímulo fiscal como o que Obama defende, mas faz meses que deixou de manifestar restrições à proposta. Volcker, Summers e Geithner concordam com a necessidade de fortalecer a supervisão sobre o sistema financeiro para evitar crises como a atual.

Mas nenhum governo está livre dos riscos que disputas internas podem criar. "Você precisa de uma pessoa para construir um alegre consenso", escreveu nesta semana o economista Brad DeLong, colega de Romer na Universidade da Califórnia. "Sem essa pessoa, você terá uma situação em que lobistas, marqueteiros e vice-presidentes incontroláveis terão portas de entrada para promover políticas ruins."