Título: Argentina terá PAC com investimento de US$ 21 bi
Autor: Rocha, Janes
Fonte: Valor Econômico, 27/11/2008, Internacional, p. A11

O governo argentino vai anunciar em dezembro um programa de obras públicas no valor de 71 bilhões de pesos (cerca de US$ 21 bilhões), em mais um esforço para manter aquecida a economia do país e contrabalançar os efeitos recessivos da crise financeira internacional.

O anúncio prévio desse "PAC argentino" foi feito na noite de terça-feira pela presidente Cristina Kirchner, durante um evento da Câmara da Construção, poucas horas depois de ela ter anunciado outras medidas anticrise: a criação de um novo Ministério da Produção; ampla anistia para devedores tributários e previdenciários que contratem novos empregados e registrem os informais; e incentivos à repatriação de dinheiro dos argentinos que hoje está fora do país.

Para o Ministério da Produção foi confirmado ontem o nome da economista Débora Giorgi, atual secretária de Indústria da província de Buenos Aires. Giorgi vai comandar três das mais importantes pastas da área econômica: turismo, agricultura e indústria.

Segundo a presidente Kirchner, as obras que farão parte do programa serão detalhadas em 15 de dezembro, dia em que deverá ser sancionada a lei de estatização dos fundos de pensão privados (AFJP), aprovada semana passada no Congresso.

O dinheiro das AFJP - um fluxo anual de 15 bilhões de pesos, que agora passa para as mãos do Estado - é parte fundamental do plano de obras, que contará ainda com recursos orçamentários e parceria com a iniciativa privada. O programa, que se estenderá por cinco anos, mais que triplica os recursos previstos no orçamento argentino para obras em 2009 (22 bilhões de pesos) e tem potencial para ampliar em 400 mil os postos de trabalho no setor da construção civil, garantiu a presidente Kirchner.

Ao anunciar ontem alguns detalhes das medidas, o chefe de Gabinete, Sergio Massa, disse que o objetivo é garantir o crescimento de 4% da economia argentina no ano que vem, número previsto no Orçamento aprovado pelo Congresso no mês passado.

Quando questionado sobre por que o governo não incluiu entre as medidas a desvalorização do peso frente ao dólar, como pedem os empresários para compensar a perda de competitividade com produtos estrangeiros, Massa respondeu que "competitividade se consegue de várias maneiras" e que as medidas anunciadas vão no mesmo sentido.

Para o economista Mario Brodersohn, só o projeto de perdão de dívidas tributárias e previdenciárias e o estímulo ao registro de trabalhadores informais tem potencial para manter a atividade econômica aquecida. Ele não acredita que os argentinos vão trazer de volta o dinheiro que têm depositado no exterior e duvida que o governo vá conseguir manter a expansão do Produto Interno Bruto em 4% em 2009 como disse Sergio Massa.

"O investimento público em obras leva tempo por causa da burocracia, das licitações. É uma medida válida para o desenvolvimento de longo prazo, não para aliviar os efeitos da crise no curto prazo", afirmou. Brodersohn prevê ainda dificuldades com a queda, nos mercados internacionais, dos preços das commodities agrícolas que são a maior fonte de arrecadação do Tesouro argentino.