Título: Correa acusa a Odebrecht de corruptora
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 27/11/2008, Internacional, p. A11

O presidente do Equador, Rafael Correa, classificou ontem de "desproporcional e fora de lugar" a decisão do Brasil de chamar para consultas seu embaixador em Quito. E acusou, sem dar provas nem indícios, a construtora Odebrecht de corrupção, indicando-a como responsável pela crise diplomática entre os dois países. A empresa nega a acusação. Correa sugeriu ainda que o Equador pode comprar aviões militares de outro país caso o Brasil decida suspender a venda de aeronaves da Embraer.

"A culpa do que está acontecendo é da Odebrecht, empresa corrupta e corruptora que causou danos ao país, e de certos contratos de empréstimo que têm sido um verdadeiro assalto, como esse para financiar a empresa [hidrelétrica] San Francisco", disse o presidente, em declarações veiculadas ontem pelo site da Presidência do Equador. Correa não disse no que baseia suas acusações à empresa.

Em relação ao contrato, a principal queixa é a cobrança de juros sobre juros. O código civil equatoriano proíbe essa cobrança acumulada, mas o financiamento outorgado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) foi renegociado e aceito pelo governo Correa. A hidrelétrica de San Francisco parou por problemas técnicos no primeiro semestre e, após várias críticas à Odebrecht, Correa a expulsou no mês passado. Quito apresentou semana passada um pedido de arbitragem internacional do contrato.

O presidente afirmou ainda que "a unidade latino-americana se vê afetada quando há companhias como Odebrecht, financiadas por créditos que incluem anatocismo [capitalização dos juros de um valor emprestado]".

A assessoria de imprensa da construtora reagiu dizendo que "repudia as declarações", que "ao longo de 21 anos que operou no Equador nunca foi acusada de corrupção e que o governo atual faz alegações sem provas". Após reparar a hidrelétrica, a empresa foi forçada a sair do país, deixando quatro obras para trás e contratos que somavam US$ 670 milhões.

Sobre a compra de 24 aviões militares Super Tucano, da Embraer, Correa disse que descarta a suspensão do negócio, mas sustenta que caso o Brasil suspenda a operação, aeronaves poderiam ser adquiridas de outros países. "A balança comercial com o Brasil tem um déficit de US$ 702 milhões, e nós, em nome da integração regional, sempre buscamos privilegiar os mercados regionais. Mas podemos comprar [aviões] de outra nação".