Título: Perspectiva de Natal fraco joga pressão sobre Obama
Autor: Evans , Kelly
Fonte: Valor Econômico, 28/11/2008, Internacional, p. A11

A aceleração do declínio da economia americana tem intensificado as pressões sobre o próximo governo para que lance um grande esforço para conter a recessão.

Dados divulgados esta semana ressaltam a fraqueza no consumo das famílias e no investimento das empresas - duas áreas cruciais para o crescimento econômico. Os governos estaduais e municipais, muitos dos quais precisam por lei manter orçamentos equilibrados, podem ter de cortar empregos e serviços por queda na receita.

Ao revelar sua equipe econômica esta semana, o presidente eleito Barack Obama comprometeu-se a agir imediatamente assim que tomar posse, em 20 de janeiro. Ele acrescentou que "a crise econômica que defrontamos exige que invistamos imediatamente" para criar empregos e cortar impostos para a classe média.

"Acho que tem de ser rápido mas também eficaz", diz Michael Darda, economista da corretora MKM Partners. "O cavalo da recessão já deixou o estábulo e a questão é saber o que pode ser feito agora para assentar as bases para uma recuperação sustentada, em vez de apenas jogar dinheiro para debelar o problema."

O consumo das famílias, o principal motor de crescimento no país, caiu 1% em outubro - é apenas a sétima vez desde que os registros começaram, em 1959, que caiu 1% ou mais num mês. O declínio de outubro pressagia uma queda mais substancial pela frente. A expectativa é de que o número do quarto trimestre apresente um declínio anualizado superior ao do terceiro trimestre, de 3,7%, que já foi o maior em 25 anos.

O sentimento do consumidor voltou este mês a cair para o nível mais pessimista em 25 anos, segundo uma pesquisa da Reuters e da Universidade de Michigan.

"Até a forte queda nos preços da gasolina foi incapaz de superar a maior incerteza dos consumidores sobre perspectivas futuras de emprego e renda", disse o diretor da pesquisa, Richard Curtin, num comunicado. "De maneira geral, os dados indicam a mais sombria temporada de compras de fim de ano desde 1980."

Uma fraca temporada natalina pode ser a gota d'água para muitos varejistas que dependem pesadamente das vendas de fim de ano para cumprir suas metas do ano. Vendas desapontadoras podem provocar outra onda de demissões e aumentar o risco de mais concordatas, que por sua vez reforçariam a retração.

A fraca demanda, particularmente por itens mais caros, está levando os varejistas e outras empresas a cortar os pedidos por bens duráveis - mais um revés para o combalido setor manufatureiro. No mês passado, as encomendas de bens duráveis caíram 6,2% nos EUA, e se for excluída a volátil categoria de transporte a queda foi de 4,4% - a maior desde 2002. O relatório também mostrou que um importante termômetro do investimento das empresas declinou 4% - mau augúrio para um importante contribuinte do PIB.

Em outubro, a renda pessoal aumentou 0,3%, mais ou menos o mesmo nível de agosto e setembro. Depois de impostos e ajustes para a inflação, a renda disponível subiu 1%. Os ganhos indicam que até agora os temores de deflação - uma ameaça indicada pela queda dos preços e dos salários - são prematuros. Uma medida de inflação - o índice de preço para despesas pessoais - ficou estável em outubro, tendo acumulado alta de 2,2% em 12 meses até outubro.

A deterioração do mercado de trabalho deve segurar a renda. Novos pedidos de seguro-desemprego chegaram na semana passada a um número dessazonalizado de 529 mil, inferior ao da semana anterior, mas ainda bastante alto. A média de quatro semanas subiu 11 mil, para 518 mil, o nível mais alto em 26 anos. A taxa de desemprego, hoje de 6,5%, deve chegar a 8% ou 9% até o fim do ano que vem.

Ao mesmo tempo, depois de mais de dois anos de retração no mercado imobiliário, há pouco alívio em vista. Os preços das casas continuam a declinar, com as vendas de imóveis tomados em execução judicial representando 45% das vendas de casas existentes no mês passado, segundo a Associação Nacional dos Corretores de Imóveis. As vendas de casas novas, um segmento menor do mercado, estão bem mais fracas. Em outubro, elas caíram 5,3%, para um valor anualizado, dessazonalizado, de 433 mil, o mais baixo em 17 anos. Os estoques continuaram bastante altos, equivalente à oferta de 11,1 meses. O preço mediano de uma casa nova era de US$ 218 mil no mês passado, ante US$ 234 mil em outubro de 2007.