Título: Começa hoje nova rodada ambiental
Autor: Chiaretti , Daniela
Fonte: Valor Econômico, 01/12/2008, Internancional, p. A9

A crise financeira pode estar dominando o cenário há dois meses, mas as mudanças climáticas não param. Hoje o mundo começa nova rodada de negociações para tentar costurar um acordo de redução de emissão de gases-estufa que evite que a temperatura do planeta suba a mais de 2°C no fim do século. Em Poznan, na Polônia, até 12 de dezembro, acontece a principal reunião internacional sobre mudanças climáticas do ano, no âmbito das Nações Unidas.

O principal desafio das delegações de 185 países que estarão ali é colocar no papel o esqueleto de um acordo que faça com que a emissão de gases que provocam o efeito estufa seja entre 25% a 40% menor, até 2020, em relação aos volumes de 1990. Há um objetivo global, de horizonte mais amplo e mais ambicioso: conseguir 50% de redução das emissões até 2050. Mas aqui, também, não há consenso diante da recomendação da Ciência: Canadá, Japão, Rússia, Austrália e Estados Unidos não acham estes números "razoáveis".

A conferência de Poznan está no meio do caminho entre duas megarreuniões fundamentais para o processo: a de Bali, em dezembro passado, onde se traçou uma rota de dois anos para chegar a um acordo no papel a ser celebrado em dezembro de 2009 em Copenhague, na Dinamarca. "Poznan será um marco importante no caminho de Bali até Copenhague", diz Luiz Alberto Figueiredo Machado, o negociador-chefe brasileiro. "E em Poznan espera-se um impulso político importante para as negociações do próximo ano". Machado é o presidente da negociação internacional sobre o chamado pós-2012, ou o que virá depois do primeiro período do Protocolo de Kyoto, quando os países desenvolvidos (e historicamente responsáveis pelo problema) têm que reduzir suas emissões, em média em 5%, em relação a 1990.

Existem vários pontos complicados a serem resolvidos.

Do lado dos países ricos, a principal questão é política. No chamado "Caminho de Bali" criou-se uma via especial para incluir os Estados Unidos no jogo. Os EUA são o maior emissor de gases-estufa do mundo e nunca aceitaram fazer parte do Protocolo de Kyoto. Em Bali, depois de muita pressão internacional, os negociadores do governo Bush toparam entrar na cena.

O problema é incluir os EUA sem fazer com que os outros países desenvolvidos que assinaram Kyoto tenham vontade de pular fora do compromisso. O Japão, por exemplo, tem dito que já fez muito e quer ver as cartas dos outros para se comprometer com mais. O Reino Unido e a Alemanha são os protagonistas europeus neste tema, tanto no investimento em tecnologias renováveis como na adoção de políticas arrojadas para reduzir o uso de combustíveis fósseis e estímulos à conservação e eficiência energética. O Canadá não tem avançado em seus compromissos assumidos - a província de Alberta é grande produtora de petróleo e seus interesses econômicos são opostos aos do resto do Canadá.

Os EUA de Barack Obama são o enigma da vez. O presidente eleito terá observadores em Poznan, e tem dado mensagens positivas neste assunto. "Obama tem dito que não há momento melhor que o presente para investir pesadamente em tecnologias de energias limpas. Este investimento, diz ele, irá combater a ameaça do aquecimento global, reduzir a dependência do país ao petróleo estrangeiro e ajudar a reviver a economia americana", dizia o editorial do "New York Times" de quinta-feira. "Chame como quiser: é a política do clima embalada na política energética e dentro da política econômica", continuava, para depois dizer que o sucesso não é garantido. Ninguém sabe ainda o quanto o Senado americano está mais sensível ao assunto.

O bloco dos países em desenvolvimento, que junta desde emergentes como Brasil, China e Índia a Haiti e Burundi, a questão é como contribuir para o combate ao problema sem deixar de crescer e resolver outras questões urgentes. Interessa particularmente quais os novos parâmetros de transferência de tecnologia e como obter recursos financeiros adequados para a dimensão do problema. "A Polônia vai ser importante para destravar a negociação", diz Marcelo Furtado, diretor-executivo do Greenpeace.